sexta-feira, 15 de novembro de 2024

Tiro pela culatra – Eliane Cantanhêde

O Estado de S. Paulo

Autor das explosões conseguiu o oposto do que pretendia: fortaleceu Moraes, enfraqueceu Bolsonaro

O tiro saiu pela culatra e as explosões na Praça dos Três Poderes produziram efeitos opostos aos pretendidos pelo seu autor, Francisco Wanderley Luiz. Se ele planejou enfraquecer o Supremo e fortalecer o golpismo, acabou unindo as instituições e as forças democráticas e isolando bolsonaristas e radicais em geral. E, afinal, foi a única vítima do seu próprio ato terrorista.

As duas explosões, uma à frente do STF, a outra próxima ao Congresso, confirmam o poder da internet, o quanto o discurso do ódio está disseminado e como cidadãos e cidadãs estão reféns da guerra ideológica.

Mas, de outro lado, trouxeram a lembrança da articulação de um golpe de Estado, a tentativa de cooptação das Forças Armadas e o trauma do 8 de Janeiro. Logo, reativaram a resistência democrática, a importância do Supremo e da urgência da regulamentação da internet.

O País lembrou como Alexandre de Moraes, alvo maior das redes e do terrorista, foi decisivo para evitar o golpe e punir os responsáveis. E, na prática, ele ganhou mais tempo para liderar a resistência. É relator do inquérito do golpe, que foca Jair Bolsonaro e será concluído pela PF na próxima semana, e agora do inquérito das explosões, que é autônomo e vai demorar.

Já o bolsonarismo não tem nada a comemorar. Sem chance via Justiça, Bolsonaro contava com o Congresso para derrubar

sua inelegibilidade, sob pretexto de conceder anistia aos golpistas do 8/1. A anistia, porém, parece sete palmos debaixo da terra. E o bolsonarismo passou recibo. Assim como Bolsonaro não para de bater no peito e dizer que é o candidato em 2026, ele agora diz que as explosões foram uma mera “coisa de maluco”. No mundo real, porém, Bolsonaro está inelegível e a investigação da PF é sobre terrorismo.

Num texto que não tem estilo, vocábulos, conteúdo e alma de Bolsonaro, ele defende pacificação e diálogo, que jamais defendeu. Na mesma toada, Ciro Nogueira, ex-chefe da Casa Civil, que está sempre no ataque, passou de repente a condenar a polarização e a defender o diálogo. As voltas que o mundo dá.

Os ataques à democracia e à paz começaram com multidões enroladas na bandeira nacional pedindo volta da ditadura e fechamento do Supremo e do Congresso, já no início do governo Bolsonaro, com a presença do presidente e até com o QG do Exército ao fundo.

É assim que cidadãos comuns vão saindo da realidade, mergulham no mundo virtual e acreditam nas fake news mais estapafúrdias, até se transformarem em terroristas. Seja provocando explosões, seja depredando STF, Planalto e Congresso. Em nome do quê? Da democracia? Isso é coisa de louco, sim, mas louco terrorista que não merece anistia.

 

Um comentário:

ADEMAR AMANCIO disse...

Disse tudo!