Por Monica Gugliano /Estado S. Paulo
Ex-presidente festeja resistência do MDB em
meio a mudanças partidárias e faz elogios ao atual governo
O ex-presidente da República José Sarney discorda
do prefeito de São Paulo, Ricardo Nunes (MDB), sobre os rumos da sigla em 2026.
Se o chefe do Executivo paulistano acredita que seu partido deve marchar ao
lado de Jair Bolsonaro e o candidato que ele indicar, como apontou em entrevista ao Estadão, Sarney defende o
caminho oposto.
Para ele, a sigla não tem motivos para não
apoiar a reeleição de Lula, que comanda um governo com três ministros da
legenda. O emedebista se diz amigo pessoal do presidente e, em, conversa com o
Estadão, rasga elogios ao aliado que um dia já foi adversário político.
Há alguns dias, em um artigo, o ex-presidente José Sarney escreveu sobre a longevidade do MDB. Em tempos nos quais muitas vezes a sobrevivência dos partidos políticos é efêmera, o Movimento Democrático Brasileiro é uma das mais antigas siglas do país. Foi depois das eleições estaduais de 1965 que, conta Sarney, ainda no governo do presidente Carlos Castelo Branco, após o Ato Institucional nº 2 decidiu-se criar dois partidos para abrigarem de um lado os governistas e de outro a oposição. E assim foi fei
Fundou-se a Arena (Aliança Renovadora
Nacional) e o MDB, conduzido por Ulysses Guimarães, que enfrentou a ditadura
militar. “Não teria sido feita a transição democrática, em 1985, (que foi feita
no meu governo que culminou com a eleição direta para presidente da República
em 1989) e não haveria democracia no Brasil se não fosse o MDB”, diz Sarney, um
dos políticos mais longevos do país (94 anos) numa conversa exclusiva por
telefone ao Estadão.
Do Maranhão, onde passa parte do tempo, com a
esposa dona Marly quando não está em Brasília, o ex-presidente acompanhou as
eleições municipais em todo o País. Comemorou o crescimento do MDB que elegeu
864 prefeitos (o primeiro em números de eleitores votantes, 27,9 milhões) e
agradeceu ao presidente do partido, o deputado Baleia Rossi(SP), pelo trabalho
durante o pleito.
“Ele foi incansável, excepcional”. Comentou a
campanha de falta de modos e de desestabilização dos adversários feita pelo
coach Pablo Marçal. E criticou o prefeito reeleito de São Paulo, Ricardo Nunes,
que, embora emedebista, tenha se aliado ao ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e
ao governador Tarcísio de Freiras (Republicanos). Sarney afirmou que irá
trabalhar para que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva seja reeleito em
2026, caso o petista resolva disputar mais um mandato.
Veja os principais trechos da conversa:
O candidato que ganhou e se reelegeu na maior
cidade do país foi o prefeito emedebista Ricardo Nunes, ligado e apoiado pelo
ex-presidente Jair Bolsonaro. O que nos leva a deduzir que em 2026, Nunes
estará com Bolsonaro...
Sou amigo pessoal do Lula, gosto muito dele.
De maneira que, se o Lula for candidato, sou da opinião que nós devemos apoiar
o Lula. E ele está fazendo um bom governo, não tá? Tá. Como sempre fez em
outros mandato. O Lula tem uma grande presença, veio da classe trabalhadora e
representa a visão da população. Ele foi o homem que estendeu a participação de
todas as classes no governo. Se não fosse a democracia, o Lula não seria
candidato a presidente. Mas com a democracia, fomos capazes de chegar a ter um presidente
recrutado na área dos trabalhadores do país.
O apoio de Nunes parece que se deveu mais ao
governador Tarcísio de Freitas (Republicanos) por que, se fosse pela lógica, o
MDB tem três ministérios no governo do presidente Lula...
O MDB tem três ministérios robustos entre as
37 pastas importantes: Planejamento, pasta central da Economia, com Simone
Tebet; Cidades, de diálogo constante com municípios, com Jader Filho; e
Transporte, com grande orçamento e diálogo constante com os estados, com Renan
Filho... Mas acontece que não há um apoio formal. Todo ele é informal.
Como informal?
Quero dizer que não é uma decisão que o
partido tenha formalmente tomado. Foram escolhas que resultaram de um diálogo
constante porque nós estamos ainda numa fase de apoio entre os partidos.
O senhor ficou feliz com o desempenho
eleitoral do MDB aqui no Estado de São Paulo, à exceção de Nunes que se elegeu
jurando apoio a Bolsonaro?
O que aconteceu foi que o Brasil ficou
grudado, olhando para a Prefeitura de São Paulo.
O que o senhor acha da ideia que se fala de
Pablo Marçal, ser candidato em 2026? E o MDB pode ter um candidato forte na
próxima eleição?
Eu não posso entrar nessa coisa (de falar
sobre o futuro de Marçal), porque eu não quero discutir o que ele ou outro vão
fazer ou não. Eu já estou na fase de estar olhando as coisas com uma certa
isenção, de longe. E é o que venho fazendo. Já estou muito velho para estar
querendo influir ou participar diretamente, disso ou daquilo.
Mas o que eu posso dizer é que muitos partidos desapareceram e o MDB está firme e forte. Um virou uma coisa, outro virou outra coisa. Mas o MDB tem raízes históricas. A luta do MDB foi a luta pela volta do regime democrático e nós tivemos parte nessa luta. Por que sem a nossa colaboração ela não existiria.
Um comentário:
Nossa,adorei a entrevista,vida longa ao ex... mais 94 anos,rs.
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