Folha de S. Paulo
Na reunião do FMI o entendimento foi que os
riscos geopolíticos se reduziram
Faltou a percepção de que haverá na próxima década desaceleração importante na economia mundial
Meu amigo e economista-chefe da Asa Investimentos, Fábio Kanczuk, postou no seu Instagram um ótimo sumário da reunião em Washington do
FMI.
Na reunião de abril, havia forte pessimismo
com a desaceleração da economia mundial com as tarifas de Trump. No entanto, a
economia mundial não desacelerou.
De fato, o FMI esperava no final de 2024 que a economia mundial iria crescer 3,2% em 2025. Após as tarifas o FMI reviu para 2,8%, e agora voltou aos 3,2%. Para 2026, espera estabilidade da economia mundial, com crescimento de 3,1%. Assim, não há hoje o pessimismo que havia em abril.
Na geopolítica, o sumário é que os riscos se
reduziram. O
conflito da Rússia com a Ucrânia continuará. Um não consegue se impor
militarmente sobre o adversário. A guerra de atrito continuará. Não há nenhum
fator que pare o conflito no médio prazo.
No conflito comercial entre a China e os
EUA, o gigante americano é a parte fraca: sua dependência
de terras raras é maior do que a da China por chips. Adicionalmente, a
China, por ser uma ditadura, consegue absorver perdas de bem-estar com mais
facilidade do que democracias. Trump tem eleição em 2026. Xi não se depara com
o mesmo obstáculo.
De qualquer forma, a percepção na conferência
em Washington do FMI é que a intensidade
da guerra tarifária irá reduzir. Penso que, muito provavelmente, o poder de
barganha menor dos EUA fará com que Trump negocie com Xi e vire essa página.
Trump talvez aprenda mais rapidamente do que Merkel que a negociação com
autocracias ocorre em outros termos.
Com relação ao conflito de Israel com o Irã,
a percepção, em função da forma como transcorreu a guerra dos 12 dias, é que os
dois atores são mais responsáveis do que se imaginava. Reduziu, portanto, o
risco de uma crise energética aguda.
O sumário de Fabio termina com a política
fiscal americana. A leitura é que o sistema político dos EUA até os anos 2000
era funcional. A disputa política não desorganizava a política fiscal.
Portanto, é possível divisar soluções à frente e já se fala em redução
estrutural de gastos com aposentadorias e saúde, bem como em elevação de
impostos.
O problema fiscal piorou conjuntamente com a
polarização política na gringolândia. Uma solução deverá vir conjuntamente com
um processo de distensão das diferenças e disputas políticas. Caso contrário,
não me parece que a conquista do equilíbrio fiscal virá sem choques. O mesmo se
aplica ao Brasil.
Penso que um possível detonador de uma crise
fiscal aguda nos EUA será uma provável percepção de que a taxa neutra de juros
se elevou permanentemente. Quando e se houver esta percepção, o problema fiscal
ficará pior. O mercado deverá forçar uma solução ao desequilíbrio fiscal.
Há semelhança entre o momento atual e 1914. O
início da primeira guerra marca o fim da Pax Britânica. O 2 de abril de 2025,
dia da libertação de Trump, talvez marcará nos livros de história o fim da Pax
Americana. As três décadas após 1914 foram trágicas. Que a história não se
repita.
De qualquer forma, o grande ausente em
Washington foi a percepção de que haverá na próxima década uma desaceleração
importante do crescimento da economia mundial. Toda a desorganização e perda de
eficiência microeconômica com o fechamento das economias cobrará seu preço nas
próximas décadas.
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