sexta-feira, 25 de setembro de 2015

Opinião do dia – Aécio Neves

Ao invés de aproveitar as oportunidades para requalificar a máquina pública, colocar pessoas qualificadas em cada uma das áreas, sobretudo aquelas que dizem respeito à vida cotidiana das pessoas, como a Saúde, a presidente Dilma transforma o Palácio da Alvorada em um balcão de negócios. Está trocando pastas importantes, como a Saúde e a Infraestrutura, por 20, 30 votos na Câmara dos Deputados. Esse, a meu ver, é o fim de um governo que não tem mais um projeto para o país, a não ser a sua própria sobrevivência.
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Aécio Neves é senador (MG) e presidente nacional do PSDB, discursando em Cascavel (PR)., 24 de de setembro de 2015.

Impasse com PMDB faz presidente adiar reforma ministerial

• Distribuição de pastas a partido aliado é vista no PT como última cartada contra o impeachment

Impasse com PMDB faz Dilma adiar reforma

• Presidente viajou aos EUA antes de anunciar sua nova equipe ministerial, contrariando o que havia prometido

• Distribuição de cargos a aliados é considerada a última cartada da petista para tentar barrar impeachment

Gustavo Uribe, Natuza Nery, Valdo Cruz e Ranier Bragon – Folha de S. Paulo

BRASÍLIA - Sem conseguir solucionar um impasse com o PMDB, a presidente Dilma Rousseff foi obrigada a adiar o anúncio da reforma ministerial para a próxima semana, quando retorna de uma viagem oficial aos Estados Unidos.

A distribuição de cargos de peso a representantes das diversas alas do PMDB é considerada por petistas a última cartada para desmobilizar a deflagração de um processo de impeachment contra a presidente, daí a ansiedade para que um desfecho seja anunciado. Dilma prometera entregar o novo desenho da Esplanada até quarta (23).

A Secretaria da Comunicação Social justificou o atraso dizendo que os partidos aliados solicitaram tempo para que "mais consultas possam ser realizadas" e que a nova configuração deve ser divulgada na próxima semana.

O Planalto já tem definida a maior parte das mudanças no primeiro escalão, mas ainda encontra dificuldades em agradar as diferentes alas peemedebistas, que iniciaram uma queda de braço interna pelo controle de ministérios importantes.

Dilma enfrenta o problema de sempre: muitos candidatos para poucos cargos. A presidente chegou a desistir de unificar as pastas de Portos e Aviação Civil, de forma a sobrar mais espaço para acomodar peemedebistas.

O Planalto quer manter o ministro Eliseu Padilha, titular da Aviação Civil, e dar Portos a Helder Barbalho, que hoje ocupa a Pesca, pasta que será anexada pelo Ministério da Agricultura.

Mas esse desenho causou insatisfação em parte do PMDB da Câmara, já que um desses cargos havia sido oferecido ao deputado Leonardo Picciani (RJ). Enxergando recuo do governo no que lhe fora prometido, o parlamentar ameaçou retirar a indicação da bancada para a Saúde. Acabou recebendo a garantia de que será contemplado.

A avaliação do Palácio do Planalto é de que a entrega de ministérios estratégicos ao PMDB dá fôlego momentâneo ao governo federal. Já peemedebistas duvidam de qualquer tranquilidade no cenário político. O partido hoje já ocupa seis ministérios.

Para tentar resolver a crise com o PMDB, que ameaça romper com o Planalto a partir de novembro, quando discutirá o tema em um congresso nacional da sigla, Dilma teve que diminuir o tamanho do PT no governo.

Seu partido vai perder a Saúde, as Comunicações e as três secretarias: da Mulheres, dos Direitos Humanos e da Igualdade Racial. Em substituição às três, será criado o Ministério da Cidadania, pasta que deve ser comandada pelo petista Miguel Rossetto.

Setores do PT reagiram mal ao corte. Num sinal da insatisfação, deputados do PT, incluindo o líder da bancada na Câmara, Sibá Machado (AC), se uniram para pedir a demissão dos ministros Joaquim Levy (Fazenda), Aloizio Mercadante (Casa Civil) e José Eduardo Cardozo (Justiça).

Dilma já decidiu que o ministro Ricardo Berzoini deixará o Ministério das Comunicações para assumir a articulação política. A petista irá manter o ministro Armando Monteiro no Desenvolvimento, na cota do PTB.

A presidente assegurou que Gilberto Kassab (Cidades) seguirá no cargo. Guilherme Afif (Micro e Pequenas Empresas) deverá ser transferido para outra área.

A petista estuda também fundir as pastas do Trabalho, Previdência Social e Desenvolvimento Social. O mais cotado para assumi-la é o petista Carlos Gabas, hoje na Previdência.

FHC: Dilma está vendendo alma ao diabo para governar

• Líder tucano afirma que presidente erra ao oferecer cargos ao PMDB sem fazer reformas

Entrevista - Fernando Henrique Cardoso

Dilma tenta pacto com o demônio para salvar governo

• Líder tucano afirma que presidente erra ao oferecer cargos ao PMDB sem fazer reformas

Ricardo Balthazar, Editor de "Poder" – Folha de S. Paulo

O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB) acha que a presidente Dilma Rousseff fez um "pacto com o demônio" para tentar salvar seu governo ao oferecer novas posições no ministério ao PMDB, seu maior aliado.

"Vai governar como? Não vai. Vai ser governada", diz o líder tucano. Na sua avaliação, a crise só será superada se as forças políticas encontrarem meios de conter a expansão dos gastos públicos e reformar o sistema político.

Fernando Henrique sugere que Dilma convoque os adversários para debater um pacto em torno das reformas necessárias e ofereça sua renúncia antes do fim do mandato como garantia de que se empenhará para aprová-las.

"O tempo dela está se esgotando", diz FHC. Para ele, os defensores do impeachment ainda não encontraram uma "narrativa convincente" para abrir na Câmara dos Deputados o processo que permitiria afastar Dilma do cargo.

Folha - A cúpula do PMDB se distancia da presidente e os deputados negociam posições no ministério. O que significa?

Fernando Henrique - Em épocas de incerteza, é natural que os partidos fiquem oscilantes. O PMDB indica duas direções. Uns acham que vale a pena manter o governo. E há os que desconfiam que não dá mais. Isso vai continuar por muito tempo, até que se sinta que há mais clareza sobre o passo seguinte, seja do governo, seja dos que querem mudar o governo.

O que falta para as principais forças políticas se definirem?

A presidente Dilma está num dilema grande. Ao nomear o [ministro da Fazenda, Joaquim] Levy, deu um sinal de que entendeu que o caminho que havia pego estava errado. Mas esse sinal não é convincente, e isso se reflete em tudo. Nosso sistema é presidencialista, mas muito dependente da capacidade do governo de formar maioria no Congresso. Ela não mostrou ainda que tem essa maioria.

A oposição tem os votos necessários para abrir um processo de impeachment hoje?

O impeachment depende de você ter uma argumentação convincente, não só para o Congresso, mas para o povo. Os que desejam o impeachment não construíram até hoje uma narrativa convincente. Pega as pedaladas. Você pode argumentar, como juristas têm feito, que não há como caracterizar um crime.

A lei diz que precisaria ser um atentado à Constituição.

Tudo depende de interpretação. No caso das pedaladas, para que se torne convincente, tem que fazer uma ligação direta com o uso de recursos para fins eleitorais. Aí o povo entende. Enquanto não houver uma narrativa que permita justificar politicamente o impeachment, é difícil.

Mesmo se Dilma continuar com popularidade tão baixa?

Qual é a mágoa que a população tem da presidente? Ela ter dito uma coisa [na campanha] e fazer outra [no governo]. O que a salva em certos setores da opinião, o ajuste econômico, é o que a condena diante de outros.

No sistema parlamentarista, a perda da maioria no Congresso levaria à queda do governo. No presidencialista, não tem como fazer isso, a não ser por um processo mais violento, que é o impeachment.

O problema é a angústia do tempo. É tanto desacerto que surgiu uma grande inquietação. Se fosse por um ano, haveria a expectativa de uma mudança que estaria ao alcance. Como você não tem essa expectativa, a inquietação gera essas ideias para arranjar um modo de nos desvencilharmos da presidente.

O afastamento de Dilma seria suficiente para resolver isso?

A questão não é só a presidente. Temos um sistema partidário e eleitoral que tornou inviável construir maiorias sólidas no Congresso. Você tem 30 e poucos partidos, e a maioria está aí para disputar pedaços do poder, do orçamento. Qualquer um terá esse problema para governar.

O sr. defendeu outro dia a formação de um novo "bloco de poder" como solução para a crise política. O que falta?

Se estivesse no lugar da presidente Dilma... Eu perdi popularidade em mais de um momento, recuperei, perdi de novo, mas nunca perdi a maioria no Congresso, o respeito. É difícil imaginar, mas fui presidente, sei como é.

Ela teria uma saída histórica. Apresentar-se como coordenadora de um verdadeiro pacto. Em que não estivesse pensando em vantagens para seu grupo político, só no futuro do país, e propondo que o conjunto das forças políticas se unisse para fazer algumas coisas. Modificar o sistema eleitoral. Conter a expansão do gasto público. Reformar a Previdência. E ofereceria o seguinte: aprovado esse pacto, em um ano ela renunciaria. É utópico isso, eu sei.

Uma renúncia negociada?

Negociada em nome de objetivos políticos que não são do interesse do meu partido, de nenhum partido. Aí você segura a ânsia [das outras forças] de chegar ao governo.

O tempo dela está se esgotando. Ela tem que olhar para a história. Não convém ficar marcada como a presidente que não conseguiu governar. Ou que vendeu a alma ao diabo para governar. Agora, ofereceu cinco ministérios ao PMDB. Vai governar como? Não vai. Vai ser governada.

Em caso de renúncia, o vice Michel Temer assume o governo.

A posse do vice não resolveria. Precisa realmente ter uma nova configuração. Mas não adianta uma nova configuração com regras antigas.

Dilma pode continuar a governar. Vai fazer pacto com o demônio o tempo todo. Vai ter que ceder cada vez mais. E o governo ficará mais contraditório. Na Fazenda, o que se requer é um ajuste. E isso é contraditório com os interesses dos grupos políticos que vão para o poder, porque eles querem estar lá para fazer coisas. E não vão poder fazer.

Então, vai ser um governo complicado, confuso. Pode? Se tivesse um ano só... Mas são três anos. É uma longa caminhada, de incertezas.

E a saída pelo impeachment?

Se houver alguma coisa que seja clara para a população, pode ser. Suponha que nos processos na Justiça Eleitoral se demonstre de forma inequívoca que houve dinheiro do petrolão na campanha. O que o juiz vai fazer? Aí não tem jeito, tem a lei.

Nesse caso, Dilma e Temer seriam cassados juntos.

A chapa inteira. Seria uma solução? Uma confusão enorme também. Porque os problemas estão aí. Não resolvemos nada, nem na política, nem na parte de gerência do Estado. Se não tiver uma perspectiva de reorganização das contas públicas, e do sistema político, não tem solução.

Como têm sido as conversas do PSDB com Michel Temer?

Quem pode dar as cartas hoje no jogo é o PMDB. Dilma pode ficar no feijão com arroz, ou fazer um gesto de grandeza. O mais provável é que continuará no feijão com arroz. O PMDB pode construir uma saída constitucional.

O PSDB se confrontará com outra questão. Vai ajudar, ou não? Se houver razão concreta, narrativa convincente, votará pelo impeachment. Mas e depois? Os problemas não vão mudar porque mudou o presidente. Precisa ter um sentido, um rumo. Aí o PSDB vai ter que cobrar esse rumo.

Divisão do PMDB faz Dilma adiar reforma

• Com apoio de Cunha, parte do PT usa fase de mudança para pedir saída de Levy, Mercadante e Cardozo

A tentativa de Dilma Rousseff de fazer uma reforma ministerial que lhe permita aprovar o ajuste fiscal e barrar pedidos de impeachment sofreu revés ontem e a presidente teve de adiar o anúncio das mudanças para a próxima semana, após viagem a Nova York. O principal entrave está no PMDB, dividido em grupos que não se entendem quanto às indicações a cargos oferecidos pelo Planalto. Outro foco de preocupação são setores do PT, que, com apoio do presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ),aproveitam o momento de mudança no primeiro escalão para pedira troca dos ministros Aloizio Mercadante (Casa Civil), Joaquim Levy (Fazenda) e José Eduardo Cardozo (Justiça).Em nota,o Planalto disse que Dilma adiou a reforma porque partidos aliados queriam mais tempo para consultas internas.Nos bastidores,porém,a informação é de que o PMDB na Câmara exige dois ministérios e não aceita incluir na cota nomes ligados ao vice-presidente Michel Temer

Divisão do PMDB ameaça reforma de Dilma, que adia troca de ministros

Crise. Presidente é obrigada a viajar para os EUA sem finalizar mudanças no primeiro escalão anunciadas há mais de um mês; focos mais graves de insatisfação estão no PMDB e no PT, que tenta se aproveitar do impasse para derrubar nomes da confiança do Planalto

Vera Rosa, Isadora Peron, Daniel Carvalho – O Estado de S. Paulo

BRASÍLIA - A tentativa da presidente Dilma Rousseff de fazer uma reforma ministerial que permita ao governo aprovar as medidas de ajuste fiscal e barrar os pedidos de impeachment sofreu ontem um revés,adiando assim as mudanças.O principal entrave está no PMDB, divido entre grupos que não se entendem quanto às indicações para os cargos oferecidos pelo Palácio do Planalto.

O primeiro esboço da reforma ministerial foi anunciado pela presidente no dia 24 do mês passando, quando ela afirmou que iria cortar até dez pastas.

Além do PMDB, outro foco de preocupação para Dilma está no PT, que aproveita o momento de indecisão e a condição vulnerável de alguns ministros para tentar derrubar nomes de confiança da presidente: Aloizio Mercadante(Casa Civil), José Eduardo Cardozo (Justiça) e Joaquim Levy (Fazenda.

Diante do impasse, a presidente suspendeu o anúncio da reforma ministerial, que deve ocorrer na semana que vem. A intenção de Dilma, porém, era ter embarcado ontem para Nova York com a nova composição da Esplanada resolvida.

Em nota divulgada no fim da tarde, o Palácio do Planalto afirmou que a presidente estava “efetivando proveitoso diálogo com os partidos políticos com representação no Congresso Nacional” e que havia decidido adiar o anúncio porque alguns partidos que integram a base aliada queriam mais tempo para fazer consultas internas.

Nos bastidores, no entanto, o impasse ocorreu porque a bancada do PMDB na Câmara exige dois ministérios e não aceita colocar em sua cota nomes ligados ao vice-presidente Michel Temer, como Eliseu Padilha (hoje na Aviação Civil) e Henrique Eduardo Alves (atualmente no Turismo).

No início da semana,Dilma ofereceu aos deputados peemedebistas o Ministério da Saúde e o Ministério da Infraestrutura, que nasceria da fusão das secretarias da Aviação Civil e dos Portos. A última proposta da presidente, porém, consistia em não criar a nova pasta para deixar Padilha na Aviação Civil e acomodar o atual ministro da Pesca, Helder Barbalho, filho do senador Jader Barbalho (PMDB-PA), nos Portos.

Bravata. O novo arranjo desagradou ao líder do PMDB na Câmara, Leonardo Picciani (RJ). Ontem, ele ameaçou desfazer o acordo com o governo e retirar as indicações feitas se a bancada não conquistasse duas vagas na Esplanada. “Se modificar, vou tirar todas as indicações e reunir a bancada novamente”, disse Picciani ao Estado.

Dilma pediu que o prefeito do Rio, Eduardo Paes(PMDB), conversasse como líder do PMDB na Câmara e o convencesse a aceitar as mudanças na composição do novo ministério. Paes se comprometeu a ajudar, mas avisou que essa não seria uma tarefa fácil.

Garantir o apoio da bancada do PMDB na Câmara é essencial para que Dilma consiga barrar eventuais pedidos de impeachment e aprovar o ajuste fiscal, já que o presidente da Casa, Eduardo Cunha (PMDBRJ),está rompido com o governo. Ontem, ele afirmou que esperava que não houvesse acordo, para que o PMDB desembarcasse logo do governo.

Ao todo, o PMDB deve ficar com seis ministérios. Além da Saúde, do Turismo, da Aviação Civil e dos Portos, a presidente também deverá manter Eduardo Braga no Ministério de Minas e Energia e Kátia Abreu na Agricultura./Colaborou Luciana Nunes Leal

Impasse com PMDB adia reforma

• Dilma tenta dar só um ministério à bancada da Câmara, que reage. Partido agora deve ter 7 pastas

Júnia Gama, Simone Iglesias e Washington Luiz - O Globo

BRASÍLIA - Um impasse interno no PMDB, maior partido da base aliada, travou a reforma ministerial que a presidente Dilma Rousseff pretendia anunciar ontem. Preocupada em manter o vice- presidente Michel Temer em seu entorno e em evitar o fortalecimento da tese do impeachment, Dilma tentou um acordo para manter o ministro Eliseu Padilha, braço- direito do vice, na Aviação Civil, além de deixar Henrique Alves ( Turismo) e Hélder Barbalho ( Pesca) no primeiro escalão, mesmo que em pastas diferentes das atuais. O espaço do PMDB seria então completado com a manutenção de Kátia Abreu ( Agricultura) e Eduardo Braga ( Minas e Energia) em seu postos e com a entrega de apenas um novo ministério para bancada do PMDB na Câmara. Só que a manobra gerou reação imediata entre os deputados peemedebistas, que haviam recebido da presidente a oferta de duas pastas.

O líder do partido, Leonardo Picciani ( RJ), mandou recados ao Palácio do Planalto de que, caso houvesse recuo da presidente, a bancada retiraria suas indicações e o apoio do PMDB na Câmara ao governo ficaria comprometido. Temendo uma revolta dos deputados, Dilma mandou emissários avisarem a Picciani que manteria seu compromisso de entregar dois ministérios à bancada. Antes, porém, tentou um acordo, via Temer, para viabilizar as mudanças. A presidente esteve com o vice ontem e pediu que conversasse com o governador do Rio de Janeiro, Luiz Fernando Pezão, para que ele convencesse Picciani a abrir mão de uma das pastas agora para, somente mais tarde, ser compensado.

PMDB pode ganhar Cultura
Temer, no entanto, recusou o apelo de Dilma. Segundo interlocutores do vice- presidente, ele reafirmou que não irá bancar nenhuma indicação para o Ministério e que não poderia participar dessa disputa com a bancada do partido na Câmara. Para não criar um problema com a bancada de deputados do PMDB, cogita- se agora no Planalto dar ao partido o Ministério da Cultura.

— O Palácio se deu conta de que prometeu em excesso para a bancada dos deputados e que não teria condições de entregar a mercadoria prometida. Foi feita uma sinalização de que Padilha, Henrique e Hélder ficam e agora Dilma terá de negociar com Picciani a indicação só para o ministério da Saúde, que é a pasta com mais recursos na Esplanada — afirmou um interlocutor do vice.

Para solucionar esse impasse, o PMDB, cuja direção dizia não querer fazer indicações, poderá ficar com até sete ministérios. O número é o mesmo que vinha mantendo até perder a Secretaria de Assuntos Estratégicos, na semana passada, com o pedido de demissão de Mangabeira Unger. No entanto, ganhará a Saúde, ampliando significativamente seu poder no governo, poderá ficar com a Cultura, e, mesmo no caso do Ministério da Pesca, que será extinto, parte significativa de suas funções será realocada na Agricultura, que já é da peemedebista Kátia Abreu.

Desde que Temer se negou a fazer indicações nessa nova reforma ministerial, Dilma manifestou a auxiliares sua preocupação sobre a recusa sinalizar um distanciamento entre ela e seu vice e, por consequência, alimentar especulações sobre um eventual processo de impeachment. Para dificultar ainda mais o xadrez montado por Dilma, três dos ministros do PMDB ameaçados com a reforma ministerial — Eliseu Padilha, Henrique Eduardo Alves e Hélder Barbalho — se reuniram e chegaram a um acordo para se fortalecerem mutuamente. Se um deles for preterido para permanecer na Esplanada, os outros dois deverão entregar seus cargos.

Diante do novo quadro, a presidente passou a precisar de mais tempo para definir quais serão as dez pastas que serão cortadas. Como precisava embarcar na tarde de ontem para Nova York, para encontrar com o Papa Francisco e abrir a Assembleia Geral da ONU, Dilma decidiu adiar a reforma para a próxima semana. Além do problema do PMDB, a presidente precisa agora também convencer o PT a aceitar fusões de quatro áreas consideradas centrais para sua base social: as secretarias de Mulheres, Igualdade Racial e Direitos Humanos, e o Ministério do Desenvolvimento Social, que poderá integrar uma superpasta junto ao Trabalho e à Previdência.

Ontem, Dilma chamou ao Alvorada ministros que deixarão a Esplanada. Em uma única reunião, conversou com Eleonora Menicucci ( Mulheres), Nilma Lino Gomes ( Igualdade Racial) e Pepe Vargas ( Direitos Humanos). Eles relataram à Dilma que não há impasse quanto à fusão, que seria superada pelo surgimento de um ministério. No entanto, relataram que os movimentos sociais ligados às três áreas não abrem mão de ter seus nomes representados na Esplanada, por isso o nome da nova pasta deve ser Ministério das Mulheres, Igualdade Racial e Direitos Humanos. Dilma sugeriu o atual ministro da Secretaria- Geral, Miguel Rossetto, para o cargo, mas houve impasse.

— Não há nenhum problema com Rossetto, mas a simbologia é muito ruim. Ele é um homem branco. Os movimentos sociais não aceitam que esse novo ministério não seja conduzido por um negro ou uma mulher — relatou ao GLOBO um integrante do governo que participa das negociações.

Temer diz que é necessário 'assumir e corrigir erros'

Por Raquel Ulhôa – Valor Econômico

BRASÍLIA - O vice-presidente da República, Michel Temer, disse, no programa partidário do PMDB que foi ao ar na TV na noite de ontem, que o país mostrará ser confiável ao assumir e corrigir os erros. Diz que o país passa por dificuldades econômicas e políticas que são superáveis, mas considera imprescindível unir forças e colocar o Brasil acima de qualquer interesse partidário ou motivações pessoais.

As crises econômica e política permearam os dez minutos do programa do PMDB, que foi ao ar ontem, em cadeia nacional de rádio e televisão. O tema mais presente nas falas é a necessidade de reunificação das forças para recolocar o país no rumo do crescimento. Não há menção à presidente Dilma Rousseff nem ao fato de a legenda integrar o governo da petista. O próprio Temer só é identificado como vice-presidente em letras pequenas, exibidas acima do seu nome e abaixo da palavra "Brasil".

Em formato de jogral, lideranças de todo o país criticam o aumento de impostos e a falta de propostas para tirar o país da crise. Temer, presidente nacional do PMDB, abre as falas dos políticos e encerra o programa, que conta com depoimentos de ministros - exceto Kátia Abreu (Agricultura) -, governadores, deputados federais, senadores, algumas lideranças partidárias regionais e os presidentes do Senado, Renan Calheiros (AL), e da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (RJ).

Durante todo o programa, o fundo do cenário é preto, cor do terno da apresentadora, Fernanda Hamacek, que, de coque, já na abertura dá o tom solene do recado político. "O Brasil enfrenta uma crise econômica, que já resulta em recessão e desemprego, e uma crise política que retarda a mudança desse cenário. Os efeitos dessa combinação? Uma sociedade angustiada, à espera de soluções, cansada de sempre pagar a conta, pessimista diante do nó que não se desfaz. É hora de deixar estrelismos de lado. É hora de virar esse jogo, de reunificar os sonhos", diz ela.

Em seguida, a primeira fala de Temer. "O Brasil passa por um período difícil na economia, assim como por dificuldades políticas. Todas superáveis. Imprescindível unir forças, colocar o Brasil acima de qualquer interesse partidário ou motivações pessoais. Crise se enfrenta com união, coragem, determinação e retidão. É nesse contexto que devemos pensar o Brasil. E cabe a nós, representantes de todos os setores da sociedade, o dever de construir agora um amanhã cada vez melhor."

O governador do Rio Grande do Sul, Ivo Sartori, diz que "a verdade é o melhor remédio para eliminar a dor causada pelo desencanto e pela falta de perspectiva".

O líder do PMDB no Senado, Eunício Oliveira (CE), afirma que "a instabilidade política e os impasses criados a partir dessa instabilidade têm prejudicado a nossa economia" e que, "sem uma definição, sem apontarmos um rumo, o país fica à deriva".

O governador do Rio de Janeiro, Luiz Fernando Pezão, pede união dos governos estaduais, para "ajudar a estabelecer uma direção segura para o Brasil. A verdade é que estamos todos juntos, todos no mesmo barco".

Deputados aparecem com falas curtas, que se completam, com críticas indiretas ao governo.

Renan Calheiros afirma que "governos passam, e o Brasil sempre vai ser maior do que qualquer governo". E continua: "O que a gente precisa defender são os interesses do país." Eduardo Cunha diz que "chegou a hora da verdade; chegou a hora de escolher que Brasil queremos".

Cabe ao líder do PMDB na Câmara, Leonardo Picciani (RJ), falar diretamente do papel do PMDB na crise. "Nada mais natural do que o maior partido do Brasil propor o diálogo e encaminhar mudanças para recolocar o país no rumo do crescimento."

A mensagem é reforçada pelo presidente da Fundação Ulysses Guimarães, Moreira Franco. "Foi assim [o papel do PMDB] na volta da democracia, na estabilização da nossa moeda, nos avanços sociais dos últimos anos. E vai ser assim também agora, na reunificação do país. O PMDB forte faz você forte, o Brasil forte."

Para encerrar, Temer fala que "assumindo e, acima de tudo, corrigindo erros, mostraremos a todos que somos um país confiável". Diz que já conviveu com situações bem mais difíceis do que a atualmente vivida pelo país e tenta transmitir uma mensagem positiva, exaltando a força, o espírito de solidariedade e a capacidade de reagir dos brasileiros, que lhe dão a certeza de que, unidos, "vamos vencer essa batalha" e "fazer o Brasil reencontrar o caminho do desenvolvimento".

Sérgio Cabral reaparece para defender Dilma

Por Renata Batista – Valor Econômico

RIO - O ex-governador do Rio de Janeiro, Sérgio Cabral (PMDB), defendeu ontem a governabilidade e disse que continua conversando com a presidente Dilma Rousseff, que é sua amiga. O político, que desde que deixou o governo, em abril do ano passado, tem evitado eventos públicos, participou ontem da apresentação dos candidatos do PMDB fluminense para 2016. Questionado, qualificou de "leviana especulação" os rumores de que pode ser alvo de novas denúncias de envolvimento na Operação Lava-Jato.

Cabral prometeu se engajar nas campanhas de 2016, nos municípios em que for necessário. "Nos momentos importantes, de presença, estarei junto", disse.

No ato, Cabral, o governador Luiz Fernando Pezão, o prefeito da capital, Eduardo Paes, e o presidente regional do PMDB, Jorge Picciani, defenderam que o partido mantenha o apoio ao governo Dilma, em nome da governabilidade e da estabilização. Mas exaltaram a atuação do líder do partido na Câmara, Leonardo Picciani, que negocia a ampliação dos espaços no ministério.

"Não é questão de ministério. É se colocar e mostrar a importância do PMDB. Nós estamos unidos pela governabilidade. Agora é todo mundo unido para salvar esse pais, abaixar o dólar, mostrar que não é uma república das bananas", disse Pezão.

"A gente não pode permanecer num ambiente de crise aguda politica por muito tempo. Já está na hora desses personagens que buscam tumultuar a cena politica demonstrarem respeito ao país, e não só à presidente Dilma", completou Paes.

Picciani, que apoiou Aécio Neves na ultima eleição, disse respeitar o resultado das urnas e afirmou que PMDB vai se posicionar a favor da permanência no governo na reunião nacional do partido, em novembro. Frisou, porém, que essa reunião não é fórum para discutir o rompimento, o que só pode ser feito em uma convenção como a que definiu a aliança em 2014.

Molon sai do PT com críticas ao partido e vai para Rede de Marina

• Insatisfeito, deputado defendia expulsão de condenados por corrupção

Paulo Celso Pereira - O Globo

Deputado federal mais votado pelo PT no Rio, Alessandro Molon deixou o partido, após 18 anos, e foi para a Rede, de Marina Silva. Por pressão do PMDB, a presidente Dilma adiou a reforma ministerial. O deputado federal Alessandro Molon ( PT- RJ), o mais votado do PT no Rio na eleição do ano passado, decidiu ontem deixar a legenda. Nos últimos meses, Molon se tornou um dos principais críticos das decisões da direção nacional do PT, especialmente quanto à falta de autocrítica em relação aos seguidos casos de corrupção que atingiram o partido. O deputado foi um dos ideólogos do manifesto “Mudar o PT para continuar mudando o Brasil”, divulgado pela maioria dos deputados federais do PT em junho, que pedia a expulsão do partido dos filiados condenados por corrupção.

Molon se filiou ainda ontem à recém- criada Rede Sustentabilidade, da ex- senadora Marina Silva, tornando- se assim o segundo parlamentar da bancada, que já contava desde quarta- feira com o deputado Miro Teixeira ( RJ). O deputado deve divulgar até esta noite uma carta explicando as razões da troca de partido.

— Na Rede, vou continuar defendendo as mesmas bandeiras que me levaram à política e pelas quais sempre lutei: fortalecimento da democracia, justiça social e desenvolvimento sustentável. Agradeço profundamente pelos 18 anos de luta por um Brasil melhor que vivi no Partido dos Trabalhadores — explicou ontem Molon, que já é cotado para disputar a prefeitura do Rio pelo novo partido.

O deputado, de 43 anos, militou no PT por 18 anos, mas sempre esteve entre os principais críticos da direção do partido, tanto a nível nacional como a nível local. Segundo interlocutores do agora ex- petista, essa incompatibilidade com as decisões das cúpulas, especialmente as mais recentes, foi o motivo para a saída. Molon disse a aliados, no entanto, que a crise vivida pelo governo da presidente Dilma Rousseff não influenciou na decisão e que tampouco apoiará qualquer pedido de impeachment. Pelo contrário. A manifestação de Marina Silva contra qualquer impedimento da presidente foi decisiva para a migração.

O manifesto divulgado em junho, do qual Molon foi o primeiro autor, dizia que o PT enfrentava “o momento mais difícil de nossos 35 anos de existência como partido político” e sugeria que o fosse feita uma atualização do programa do partido e eleita uma nova direção. Escrito pouco mais de um mês após a prisão do tesoureiro do partido, João Vaccari Neto, o texto defendia a transparência nas finanças da legenda e “um combate sem tréguas à corrupção”, expulsando das fileiras do partido os filiados comprovadamente envolvidos em processos do gênero. Mas o documento foi ignorado pelo PT.

No Rio, Molon liderava o movimento para que o partido se afastasse das gestões do prefeito Eduardo Paes e do governador Luiz Fernando Pezão. Em 2008, Molon disputou a prefeitura contra Paes e foi abandonado pelo partido. Foi então que Marina Silva, ainda senadora do PT, se aproximou e gravou para sua campanha.

Pedidos de impeachment serão decididos na próxima semana

• Presidente da Câmara vai analisar 13 solicitações, entre elas a de Hélio Bicudo

Isabel Braga - O Globo

- BRASÍLIA- O presidente da Câmara, Eduardo Cunha ( PMDB- RJ), avisou ontem que irá começar a decidir sobre os pedidos de impeachment contra a presidente Dilma Rousseff já na próxima semana. Neste momento, 13 pedidos de impedimento aguardam decisão de Cunha, entre eles o apresentado pelo jurista Hélio Bicudo e emendado por Miguel Reale Junior, que foi escolhido pela oposição como o pedido a ser priorizado. Cunha explicou que antes de tomar a decisão queria primeiro ter a definição clara sobre o rito de tramitação, que ele próprio divulgou ontem.

— Não há previsão regimental para que eu tome a decisão ( sobre os pedidos). Vou tomála quão rápido quanto seja possível dentro da minha convicção, do meu juízo decisório. Eu queria primeiro ter essa definição de rito clara. A partir da semana que vem certamente eu começo a decidir — disse o presidente da Câmara.

Cunha afirmou que cada um tem seu juízo de convicção e que todos saberão qual o seu na justificativa sobre arquivamento ou acatamento dos pedidos feitos. Segundo ele, o recurso feito em plenário ontem pelo PT e PCdoB, questionando o rito que ele estabeleceu para a tramitação do impeachment, não irá interferir na decisão dele sobre os pedidos que estão pendentes. O recurso contra o rito estabelecido por Cunha para o trâmite de eventual pedido de impeachment contra Dilma foi apresentado pelo deputado Wadih Damous ( PT- RJ), em nome do PT e do PCdoB. Os partidos criticam o fato de Cunha não ter adotado o quórum de dois terços ( 342 votos) em todas as votações que dizem respeito ao impeachment.

— Não vai interferir porque na prática não tem nenhuma questão de ordem. Tem argumentações em sentido contrário a algum ponto colocado. Não vislumbrei, no que eu li e ouvi, absolutamente nenhuma novidade. São questões de natureza política e não há questão regimental a ser alcançada. Então, o rito já está mais ou menos definido. A minha decisão é a reunião de pontos conhecidos — disse Cunha.

Para Cunha, dar pastas à sigla não vai adiantar

Ranier Bragon – Folha de S. Paulo

BRASÍLIA - O presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), afirmou nesta quinta (24) que Dilma Rousseff não irá resolver seu problema com o Congresso distribuindo ministérios ao PMDB.

Em meio à crise econômica e sob ameaça de um processo de impeachment no Congresso, Dilma ofereceu pastas, inclusive a Saúde, às bancadas do partido na Câmara e no Senado.

"Eu continuo defendendo que o PMDB saia do governo, que não ocupe cargos. Da minha parte, eu simplesmente ignoro o que está acontecendo com a reforma, não tenho ingerência e nem quero ter. [...] Essa tentativa de reintroduzir o PMDB no projeto, uma tentativa através de cargos públicos, não é a melhor forma de fazer. Mais ocupação de cargos ou menos ocupação de cargos jamais vai resolver as divergências de base que existiam", disse Cunha.

O peemedebista está rompido com o governo sob o argumento de que o Planalto está por trás das acusações que pesam contra ele no esquema de corrupção da Petrobras. Cunha foi denunciado pela Procuradoria-Geral da República –instância máxima do Ministério Público Federal, sem ligação com nenhum dos três Poderes– sob a acusação de receber US$ 5 milhões em propina.

Apesar do rompimento, Cunha vem conversando frequentemente com Dilma. Dois dos principais cotados para ocupar a Saúde e Infraestrutura são deputados próximos a ele.

PMDB diz que sociedade cansou de 'pagar a conta'

• Vídeo da sigla destaca vice Michel Temer, 1º na linha sucessória de Dilma

• Propaganda que foi ao ar nesta quinta adota tom sombrio, mas diz que, com união, país consegue sair da crise

Alexandre Aragão – Folha de S. Paulo

SÃO PAULO - Na propaganda que foi ao ar em rede nacional de rádio e TV na noite desta quinta-feira (24), o PMDB afirma que o país enfrenta crises econômica e política, cujo resultado é "uma sociedade angustiada à espera de soluções, cansada de sempre pagar a conta, pessimista diante do nó que não se desfaz".

A frase é seguida por um mosaico de fotos de peemedebistas que formam o rosto de Michel Temer –ele é o único político que fala duas vezes. Em sua primeira aparição, o vice-presidente diz que "é imprescindível unir forças, colocar o Brasil acima de qualquer interesse partidário ou motivações pessoais".

Os peemedebistas que aparecem dizem frases que buscam mostrar a união do partido diante da crise. O líder na Câmara, Leonardo Picciani (RJ), por exemplo, afirma que não há "nada mais natural do que o maior partido do Brasil propor o diálogo".

Há um claro destaque à figura de Temer, primeiro na linha sucessória da presidente Dilma Rousseff (PT). O presidente do Senado, Renan Calheiros (AL), e o da Câmara, Eduardo Cunha (RJ) –este, já declaradamente em oposição ao governo– apresentam-se um em seguida do outro.

"Governos passam, e o Brasil sempre vai ser maior do que qualquer governo", diz Renan. Cunha aproveita a deixa: "Democracia é isso, é nisso que eu acredito. Chegou a hora da verdade, chegou a hora de escolher que Brasil queremos".

A peça é encerrada com mais uma aparição de Temer. "Assumindo", ele começa a fala. Pausa e então continua: "e, acima de tudo, corrigindo erros, mostraremos a todos que somos um país confiável".

Ao todo, 54 políticos falam na propaganda. Desses, 17 são parentes de caciques do PMDB. O ex-senador e ex-governador Jader Barbalho (PA) –que não aparece– é o que mais tem pessoas próximas.

Além do filho de Jader, o ministro Helder Barbalho (Pesca), aparecem a mulher, deputada Simone Morgado (PMDB-PA), a ex-mulher, deputada Elcione Barbalho (PMDB-PA), e o primo, deputado José Priante (PMDB-PA).

Ao todo, são sete filhos, cinco mulheres, duas ex-mulheres, um irmão, um sobrinho e um primo de figuras importantes da sigla. A maioria é de deputados (12), mas há ainda uma senadora, uma prefeita, um governador e um ministro dentre os familiares de caciques.

Peemedebistas elogiam negociações da sigla na reforma ministerial

• Reunidos em um ato público que lançou os nomes dos candidatos do PMDB a prefeito no Rio, Eduardo Paes, Luiz Fernando Pezão, o ex-governador Sérgio Cabral e o presidente do PMDB-RJ, Jorge Picciani, defenderam Dilma

Luciana Nunes Leal - O Estado de S. Paulo

RIO - Na contramão do presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), que tem criticado a ampliação do peso do partido no governo, peemedebistas do Rio de Janeiro elogiaram nesta quinta-feira, 24, a forma como o líder na Câmara, Leonardo Picciani (RJ), tem conduzido as negociações com a presidente Dilma Rousseff. Depois do aceno de Dilma por mais espaço para o PMDB, o partido foi decisivo para manter os vetos presidenciais, em sessão do Congresso realizada, nesta terça-feira, 22.

Reunidos em um ato público que lançou os nomes dos candidatos do PMDB a prefeito no Estado, o prefeito Eduardo Paes, o governador Luiz Fernando Pezão, o ex-governador Sérgio Cabral e o presidente do PMDB-RJ, Jorge Picciani, pai do líder na Câmara, defenderam a presidente e atacaram o movimento pelo impeachment. "O líder soube se colocar lá, mostrar a importância de o PMDB ter um espaço maior no governo. Todos nós estamos lutando pela governabilidade. Um processo desse que estava instalado não leva a nada, leva a aprofundar a crise econômica. Agora é todo mundo unido para salvar esse País, baixar o dólar, melhorar o ambiente econômico, valorizar a democracia. Aqui não é uma república das bananas", disse Pezão em entrevista.

O governador reiterou a tese da candidatura própria do PMDB na sucessão de Dilma. "Cada vez o PMDB vai ser mais importante para o País. E preparando para 2018, com nosso (candidato a) presidente", declarou.

Jorge Picciani minimizou a importância do encontro nacional do PMDB, marcado para 15 de novembro, quando o partido decidirá a permanência ou saída do governo Dilma. Segundo Picciani, que apoiou o tucano Aécio Neves na disputa presidencial de 2014, mas rejeita o afastamento da presidente, o encontro não tem poder deliberativo. "É uma reunião informal, de grande valor no PMDB (...) Mas só uma nova convenção nacional pode decidir. Não se desmancha uma convenção nacional, e eu fui contra a aliança com o PT e perdi. Essa reunião não pode decidir, não é fórum para decisão", afirmou. O presidente do PMDB-RJ afirmou que "sair ou estar no governo é irrelevante".

"Para nós, importante é a governabilidade, somos de uma escola democrática em que se luta para derrotar o adversário até as 17 horas do dia da eleição, depois se respeita a decisão do povo. Nesse momento grave de crise política, econômica, financeira, onde quem mais perde são os mais pobres, nós queremos estabilidade e que a presidente Dilma tenha condições de governar", afirmou Picciani.

O prefeito Eduardo Paes repetiu o tom do discurso, de defesa da presidente Dilma e ataque aos políticos que trabalham pelo impeachment. "A gente não pode permanecer em ambiente de crise política aguda eternamente. Personagens que buscam tumultuar a cena política, supostamente prejudicando a presidenta Dilma, prejudicam o Brasil (...) A presidenta Dilma é uma pessoa decente, correta, não cometeu nenhum crime de responsabilidade, ou, se cometeu, ninguém apurou, ninguém provou nem está provando", declarou.

Paes disse ter ouvido muitas queixas de prefeitos de pequenas e médias cidades em grave crise financeira. "Na prefeitura da capital, você se vira, tem base de arrecadação, não depende do Fundo de Participação (dos Municípios). Mas tem prefeito dizendo que tem vontade de renunciar. Isso é fruto de problemas econômicos, ninguém nega, ajustes têm que ser feitos na economia, mas de muita instabilidade política, de um grau de radicalismo exagerado", disse Paes.

PMDB do Rio sai em defesa de Dilma em reunião do partido

• Eduardo Paes diz que legenda não vai apostar no quanto pior melhor

Por Luiz Gustavo Schmitt – O Globo

RIO - Em meio à crise política e econômica, a cúpula do PMDB do Rio defendeu, na manhã de quinta-feira, a governabilidade da presidente Dilma Roussef (PT) e a estabilização da economia. Numa reunião para lançar as candidaturas do partido para as eleições de 2016, no Centro do Rio, caciques do PMDB fluminense enalteceram a atuação do líder do partido na Câmara dos Deputados, Leonardo Picciani, que tem trabalhado para angariar ministérios e cargos no governo. Ontem, a presidente Dilma disse que vai dar o Ministério da Saúde para o partido.

No evento com cerca de 300 pessoas, que se transformou num ato pró-Dilma, os principais líderes da legenda como o prefeito Eduardo Paes, o governador Luiz Fernando Pezão, o ex-governador Sérgio Cabral e o presidente regional do PMDB, Jorge Picciani, enfatizaram a importância da aliança com o PT e disseram que as divergências políticas não podem estar acima do país:

- Todos nós estamos unidos para baixar o dólar, melhorar o ambiente econômico. E todos aqueles fundamentos que o Brasil precisa, como a democracia. Isso aqui não é uma república das bananas. lutamos pela governabilidade. Esse processo que estava instalado não leva a nada, leva ao aprofundamento da crise econômica - disse Pezão, que tem atuado como bombeiro na relação de Dilma com os principais caciques do partido, em Brasília.

Sem mencionar o nome do presidente da Câmara dos deputados, Eduardo Cunha (PMDB), Paes atacou aqueles que apoiam "o quanto pior melhor".

- Não vou citar nomes. Mas alguns personagens buscam tumultuar a cena política do país. Buscam prejudicar a presidente Dilma e a acabam prejudicando o Brasil. A gente precisa governar o Brasil e agir com responsabilidade - disse Paes.

Pezão destacou que a governabilidade é fundamental para que o Estado do Rio e o país possam "atravessar a crise". Ele voltou a lembrar, no entanto, que o partido terá candidatura própria em 2018. Pezão ainda frisou que é preciso reconhecer e cumprir as alianças políticas.

- Precisamos ajudar a salvar esse país. Mais uma vez, o PMDB foi o fiel da governabilidade - disse Pezão, se referindo ao apoio do partido para a manutenção dos vetos da presidente da Dilma.

Cabral e Picciani também fizeram discurso pró-Dilma:

- Nos falamos com frequência. Ela (Dilma) é minha amiga pessoal, mas não tanto quanto do Pezão - disse Cabral, rindo muito. - Está muito bem posto o tema da governabilidade. Ao meu ver, a crise é fundamentalmente política. E acho que estamos avançando. O PMDB tem divergências, isso é uma característica do partido.

Picciani foi na mesma linha que Cabral.

- Nesse momento de grave crise, nós queremos estabilidade e que a presidente Dilma tenha condições de governar - afirmou Picciani.

Cunha critica ‘reintrodução’ do PMDB ao governo por cargos

• Presidente da Câmara volta a negar qualquer relação ou interferência na reforma ministerial

Por Isabel Braga – O Globo

BRASÍLIA - O presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ) criticou o que chamou de "tentativa de reintroduzir o PMDB" no projeto do atual governo com a oferta de cargos a deputados da bancada. Cunha voltou a negar qualquer relação ou interferência na reforma ministerial que está sendo feita pela presidente Dilma e acrescentou que há divergências dentro do PMDB sobre manter ou não apoio ao governo. Entre nomes apresentados pelo líder do PMDB, Leonardo Picciani (RJ), à Dilma para ocupação das duas pastas que caberão à Câmara estão deputados próximos de Cunha, como Manoel Junior (PMDB-PB), cotado para assumir o Ministério da Saúde.

— Reforma ministerial é iniciativa da presidente. Eu continuo defendendo que o PMDB saia do governo, que não ocupe cargos. Da minha parte, eu simplesmente ignoro o que está acontecendo com a reforma, é um gesto ao qual não faço parte, não tenho ingerência e nem quero ter — disse Cunha, acrescentando:

— Essa tentativa de reintroduzir o PMDB no projeto é uma tentativa através de cargos públicos. Não é a melhor forma de fazer. Mais ocupação de cargos ou menos ocupação de cargos jamais vai resolver as divergências de base que existiam, eu continuo defendendo a mesma coisa, que o PMDB saia do governo.

O presidente da Câmara disse que há diferença entre deixar de apoiar o projeto desse governo, "do qual o PMDB não está fazendo parte há muito tempo" e assumir posição irresponsável de virar as costas e agir para que a situação da crise financeira do país se agrave. Cunha anunciou em julho, depois da publicação das declarações do delator Júlio Camargo de que ele teria recebido propina de U$ 5 milhões do esquema de corrupção da Petrobras, seu rompimento com o governo Dilma e a ida para a oposição. Para Cunha, o governo agiu para forçar a delação e a apresentação da denúncia contra ele pelo procurador-geral da República, Rodrigo Janot.

Ontem, Cunha disse que não será dando ministérios ao PMDB que a presidente Dilma conseguirá aprovar a recriação da CPMF no congresso. O presidente da Câmara descartou qualquer participação na indicação de nomes de deputados peemedebistas para a ocupação

Cunha se cala sobre denúncias
O presidente da Câmara voltou a dizer que não fará comentários sobre as declarações do ex-gerente da área internacional da Petrobras Eduardo Musa, que afirmou que era Cunha quem dava a palavra final em relação às indicações para a Diretoria Internacional da estatal.

— Não vou comentar, quem responde isso é meu advogado. Essas histórias de ouvir dizer...não vou virar comentarista de delações. Cada um que fale, cabe a meu advogado responder. Senão a cada dia a gente vai ficar aqui só alimentando fatos absolutamente inverídicos — disse Cunha, que também não respondeu sobre a entrega de sua defesa na denúncia no Supremo:

— Isso é com o doutor Antonio Fernando ( advogado de Cunha). Não sei de nada, está nas mãos dele.

Cunha participou na manhã de hoje de inauguração do projeto Câmara Convida, de revitalização da quadra 302 norte e integração com a comunidade. A quadra possuiu vários blocos de apartamentos de deputados. O presidente visitou escolas da quadra, mas acabou não ficando para a partida de futebol de salão entre deputados e estudantes, na quadra reformada.

— Até gostaria, mas não tenho condições hoje e não sou grande atleta — justificou.

Dilma adia anúncio de reforma ministerial em meio a impasse com PMDB

• Presidente ofereceu cinco ministérios para a sigla, mas pode ampliar para seis, na tentativa de barrar eventuais pedidos de impeachment no Câmara e aprovar o ajuste fiscal no Congresso

Vera Rosa, Isadora Peron, Daniel Carvalho e Luciana Nunes Leal - O Estado de S. Paulo

BRASÍLIA e RIO - A presidente Dilma Rousseff avisou nesta quinta-feira, 24, o vice-presidente Michel Temer que adiará o anúncio da reforma ministerial para a semana que vem. Diante do impasse na definição do espaço a ser ocupado pelo PMDB na equipe, a presidente preferiu conversar mais com os aliados depois que retornar da viagem internacional. Dilma embarcará ainda hoje para Nova York, a fim de participar da Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas (ONU).

O impasse ocorreu porque a bancada do PMDB na Câmara exige dois ministérios. Um deles está acertado que será Saúde, hoje controlado pelo PT, mas os deputados não aceitam pôr em sua cota as pastas de Turismo, ocupada por Henrique Eduardo Alves, e Aviação Civil, comandada por Eliseu Padilha. O líder do partido na Câmara, Leonardo Picciani (PMDB-RJ), ameaçou desfazer o acordo com o governo e retirar as indicações feitas se a bancada não conquistasse duas vagas na Esplanada.
Dilma ofereceu cinco ministérios para o PMDB, mas pode ampliar a participação do partido de Temer para seis, na tentativa de barrar eventuais pedidos de impeachment no Câmara e aprovar o ajuste fiscal.

Até agora, o favorito para ocupar o Ministério da Saúde, no lugar de Arthur Chioro (PT), é o deputado Manoel Junior (PMDB-PB), homem da confiança do presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ). Recentemente, Manoel Junior disse que situação de Dilma era "quase insustentável" e recomendou a sua renúncia.

A última proposta apresentada por Dilma previa que Eliseu Padilha permanecesse na Aviação Civil e Helder Barbalho, filho do senador Jader Barbalho (PMDB-PA), fosse deslocado da Secretaria da Pesca para Portos.

Para abrigar Helder, a presidente desistiria de fundir Portos e Aviação. O plano de Dilma é incorporar a Pesca ao Ministério da Agricultura. Os ministros Eduardo Braga (Minas e Energia) e Kátia Abreu (Agricultura), que representam a bancada do PMDB no Senado, continuam em seus postos. Dilma quer prestigiar Temer e manter Padilha e Henrique Eduardo Alves, mas enfrenta resistências da bancada do PMDB na Câmara.

Ajuda. A presidente também pediu ajuda ao prefeito do Rio, Eduardo Paes (PMDB), para convencer o líder peemedebista na Câmara, Leonardo Picciani (RJ), a aceitar as mudanças na composição do novo ministério.

Depois de receber um telefonema de Dilma, na tarde desta quinta, Paes prometeu falar com o líder peemedebista, mas já percebeu que Picciani não aceita que Padilha seja considerado indicação da bancada do PMDB.

O prefeito e o governador Luiz Fernando Pezão são os mais próximos aliados de Dilma no Rio de Janeiro, onde o PMDB se dividiu na eleição presidencial de 2014, e abriu uma dissidência que apoiou o tucano Aécio Neves. Pezão e Paes mantiveram a aliança com Dilma.

O presidente do PMDB-RJ, Jorge Picciani, e o filho Leonardo fundaram o movimento "Aezão", de apoio a Aécio e Pezão.

Nas últimas semanas, Leonardo se aproximou da presidente e Jorge Picciani tem defendido a permanência da presidente no cargo, em nome da "garantia de governabilidade". A relação da presidente com os Picciani, no entanto, ainda é distante.

Outro importante líder peemedebista do Rio, o presidente da Câmara, Eduardo Cunha, rompeu com o governo em meados de julho e tem criticado a ampliação do espaço do PMDB no governo, oferecida por Dilma na reforma administrativa. Em reunião do PMDB-RJ realizada na manhã desta quinta-feira, Paes fez uma defesa veemente de Dilma e atacou, sem citar nomes, os integrantes do movimento pelo impeachment da presidente, a quem acusou de tentarem "não só desestabilizar o governo, mas destruir nosso País". "Não vamos apostar no quanto pior melhor", discursou Paes.

Com impasse no PMDB, Dilma diz a Temer que adiará anúncio de reforma

Gustavo Uribe, Valdo Cruz e Natuza Nery – Folha de S. Paulo

BRASÍLIA - Sem conseguir resolver um impasse interno no PMDB pela indicação de ministérios, a presidente Dilma Rousseff avisou ao vice-presidente Michel Temer que vai adiar para a semana que vem o anúncio da nova configuração da Esplanada dos Ministérios.

A petista informou a decisão em reunião nesta quinta-feira (24) no Palácio da Alvorada, residência oficial da Presidência da República.

O Palácio do Planalto tem encontrado dificuldades para acomodar os ministros aliados do vice-presidente. Para solucionar o impasse, a presidente considera abandonar a fusão entre Aviação Civil e Portos.

A ideia é manter Eliseu Padilha no primeiro ministério e transferir para o segundo o ministro Helder Barbalho (Pesca), cuja pasta deve ser extinta na nova configuração ministerial.

No início da semana, no entanto, a presidente havia oferecido o novo Ministério da Infraestrutura para a bancada do partido na Câmara dos Deputados.

A possibilidade da petista não fundir as pastas e entregar Aviação Civil e Portos para aliados do vice-presidente irritaram o líder do PMDB na Câmara dos Deputados, Leonardo Picciani (RJ).

Ele ameaçou, inclusive, retirar as indicações da bancada peemedebista para o Ministério da Saúde caso a presidente não volte atrás na decisão.

Em um aceno ao mercado, a petista também avalia manter o ministro Armando Monteiro (Desenvolvimento), que criticou recentemente as medidas do pacote fiscal que diminuem os repasses ao Sistema S e reduzem a alíquota de abatimento do Reintegra.

A pasta chegou a ser oferecida ao PMDB do Senado Federal, que a recusou e passou a reivindicar a Integração Nacional.

Ela estuda também fundir as pastas do Trabalho, Previdência Social e Desenvolvimento Social e extinguir Micro e Pequenas Empresas.

Em uma tentativa de estancar a crise política, a presidente prometeu entregarcinco ministérios ao PMDB, entre eles o da Saúde para garantir o apoio da sigla a seu governo e evitar que dissidentes apoiem o impeachment de Dilma na Câmara dos Deputados.

A avaliação do Palácio do Planalto, no entanto, é de que o aceno ao PMDB dá fôlego momentâneo ao governo federal, mas não afasta a possibilidade de ser aberto um processo de afastamento da petista

Impasse com PMDB faz Dilma adiar anúncio de reforma para terça-feira

• Presidente só deve informar a nova composição dos ministérios quando retornar da sua viagem a Nova York

Impasse com PMDB faz Dilma adiar anúncio de reforma

Por Andrea Jubé e Raphael Di Cunto – Valor Econômico

BRASÍLIA - A presidente Dilma Rousseff intensificou as conversas com aliados nesta quinta-feira, na tentativa de concluir a reforma ministerial para divulgá-la ainda hoje, mas impasses com o PMDB retardaram o anúncio. O Valor PRO, serviço de informação em tempo real do Valor, apurou que Dilma comunicou o vice-presidente Michel Temer que só fará o anúncio na terça-feira, quando retornar da viagem a Nova York.

Dilma também adiou a viagem para fazer mais reuniões: a previsão mais atualizada é de que ela embarque ainda hoje, entre 18h e 19h. Inicialmente, foi previsto que ela viajaria às 12h, e depois às 15h.

A reforma complicou depois que Dilma retirou a oferta para a bancada do PMDB da Câmara da pasta da Infraestrutura, que reuniria Portos mais Aviação Civil. Ontem, Dilma estava inclinada a manter as duas secretarias, para que Eliseu Padilha, próximo a Temer, continuasse no ministério. A Secretaria de Portos iria para Hélder Barbalho, já que a pasta da Pesca será extinta. Essa operação irritou a bancada da Câmara, que agora ameaça retirar as indicações dos nomes.

Neste momento, Dilma está reunida com o ministro do Planejamento, Nelson Barbosa, que conduz a reforma administrativa. Também chegou ao Palácio da Alvorada o líder do PTB, Jovair Arantes (GO). Dilma deve manter no comando do Ministério de Desenvolvimento, Indústria e Comércio (Mdic) o ministro Armando Monteiro Neto, que é senador pelo PTB. Mas os deputados alegam que ele não representa a bancada. Dilma chegou a oferecer o Mdic para a bancada do PMDB no Senado, que recusou a oferta.

"Está evoluindo"
O líder do governo na Câmara dos Deputados, José Guimarães (PT-CE), confirmou que o anúncio da reforma ministerial ficará para a próxima semana.

“Está evoluindo, a presidente vai anunciar no seu retorno”, disse. Guimarães criticou ainda o mercado financeiro por “especular demais” com a alta do dólar. “Mantivemos 26 vetos presidenciais na quarta-feira, a base está se consolidando, não há razão nenhuma para o estresse do mercado”, afirmou.

PT recorre contra rito de impeachment definido por Cunha

Por Raphael Di Cunto – Valor Econômico

BRASÍLIA - Em nome de partidos da base aliada do governo, o deputado Wadih Damous (PT-RJ), ex-presidente da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) do Rio, apresentou ontem recurso contra a resposta do presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), à questão de ordem da oposição sobre o rito de tramitação do impeachment.

Após discordar de parte das decisões do pemedebista e na tentativa de postergar a análise dos pedidos de impedimento, o PT questionou pontos da resposta de Cunha em plenário. A estratégia do partido, acertada com parte da base, era apresentar recurso para que a decisão ficasse com a Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) e aprovar um efeito suspensivo até lá, mas a legenda aceitou acordo proposto pelo presidente da Casa para transformar os questionamentos em nova questão de ordem.

Segundo o líder do PT, Sibá Machado (AC), o partido preferiu o caminho do diálogo ao enfrentamento e, se as respostas não forem satisfatórias, pode recorrer da nova decisão à CCJ. O Valor apurou que também pesou a decisão de não expor o impeachment a uma votação tão cedo, ainda mais em uma sessão na quinta-feira à tarde, quando o quórum era de menos de 300 deputados, o que tornava incerto o resultado.

Cunha disse que não alterará o cronograma por causa do questionamento do PT. "Não teve questão de ordem, teve argumentação em sentindo contrário [a pontos da decisão]", afirmou. "Não tem nem inovação, o rito já está mais ou menos definido, até porque é baseado em vários pontos já conhecidos, decididos por outros presidentes da Câmara", completou.

Na questão de ordem, Damous questiona seis pontos da decisão de Cunha, em especial os que a oposição pretende usar para dar andamento ao pedido de impeachment de Dilma. O petista defende que, se o presidente da Câmara negar a justa causa, o recurso ao plenário precisa dos mesmos 342 votos necessários para a Câmara aprovar o impeachment e o quórum tem que ser respeitado também na comissão especial.

"A Constituição, ao tratar de matéria que importa em afastamento de presidente da República, consagrou o quórum qualificado de dois terços. As referidas disposições constitucionais visam proteger a democracia e a soberania do voto popular, devendo referido quórum ser respeitado em todas as votações relacionadas a esta matéria", disse Damous.

Em um dos cenários traçados, o presidente da Câmara rejeitaria o pedido de impeachment protocolado pelo jurista Hélio Bicudo, um ex-petista histórico, e a oposição recorreria ao plenário. Para Cunha e a oposição, o recurso precisaria de apenas maioria simples (metade dos presentes mais um) para ser aprovado - mesmo quórum usado em 1999 em um pedido do PT para afastar o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB).

O PT também questiona outra resposta do pemedebista, que sinalizou que deixará para a comissão especial e o plenário a decisão sobre a possibilidade de Dilma ser responsabilizado por crimes anteriores ao seu mandato, desde que relacionados ao exercício da função. A Constituição, disse Damous, garante que o presidente da República só pode ser afastado por atos ocorridos no atual mandato.

"Não se pode admitir a interpretação que não seja a mais estrita dos dispositivos contidos na Constituição, configurando grave violação à democracia qualquer interpretação diversa e que busque elementos para punição de presidente da República que não estejam expressos de forma clara em seu texto", afirmou.

Na questão de ordem, Cunha, que até então defendia que o presidente da República não poderia ser processado por fatos anteriores ao mandato, disse que não responderia sobre o tema por não se tratar de questão regimental, mas sim do "cerne da decisão do plenário, a partir do trabalho da comissão especial". "Não cabe ao presidente da Câmara [...] substituir-se às instâncias competentes para tomar essa decisão."

Se Cunha deixar a decisão sobre a temporalidade para a comissão especial, esta avaliação só ocorreria depois de iniciado o processo de impeachment de Dilma e abriria espaço para que ela fosse afastada pelos supostos crimes que Bicudo lhe acusa: doações de campanha irregulares, fruto de propina da Lava-Jato, ou as "pedaladas fiscais".

Já o líder do DEM, deputado Mendonça Filho (PE), que elaborou as perguntas assinadas pela oposição, disse ver outro ponto importante na resposta do pemedebista: a possibilidade de convocar, por meio da aprovação de requerimento, sessão extraordinária em 24 horas para deliberar sobre o recurso contra a rejeição de um pedido de impeachment. "Isso dilui um poder que era muito discricionário do presidente da Câmara", disse.

Cunha leu ontem em plenário a resposta aos questionamentos dos líderes de oposição sobre quais procedimentos seriam adotados na análise de um pedido de afastamento da presidente Dilma Rousseff, como os prazos a serem cumpridos e composição da comissão especial que daria parecer sobre a admissibilidade ou não dos pedidos. A resposta serve como norma a ser seguida.

A partir de agora Cunha disse que se debruçará sobre os mais de 10 pedidos já protocolados e na próxima semana já terá posição sobre alguns - cabe ao presidente da Câmara determinar se há justa causa para dar início a um processo de impeachment, com a instalação da comissão especial que dará parecer sobre a admissibilidade e depois encaminhará o relatório para o plenário. Pelo menos 342 deputados precisam aprovar o afastamento do presidente da República e, então o Senado Federal decide se aprova o impeachment ou não.

Dilma veta doações de empresas a campanhas

• Presidente seguiu a decisão do Supremo

- Folha de S. Paulo

BRASÍLIA - A presidente Dilma Rousseff resolveu seguir decisão do STF (Supremo Tribunal Federal) e vetou o ponto da reforma política aprovada na Câmara dos Deputados que permite o financiamento empresarial a campanhas eleitorais.

A petista deixou o decreto presidencial assinado antes de embarcar nesta quinta (24) para Nova York, onde participará da abertura da Assembleia Geral da ONU (Organização das Nações Unidas).

A expectativa é que ele seja publicado até a próxima segunda-feira (28) no "Diário Oficial da União".

Na última segunda (21), em jantar com o comando do PC do B, Dilma já havia dito que não podia contrariar a decisão do Supremo que, na semana passada, declarou inconstitucional normas que permitem as doações empresariais.

Na votação da reforma política, PT, PC do B, PSOL e PPS foram contra o financiamento empresarial, que acabou sendo aprovado, porém, com 317 votos contra 162.

Roberto Freire - A urgência do impeachment

- Diário do Poder

Enquanto o governo de Dilma Rousseff demonstra não ter outra preocupação além de evitar a abertura de um processo de impeachment no Congresso Nacional, os brasileiros assistem ao definhamento de nossa economia e veem importantes conquistas obtidas pelo Plano Real nas últimas duas décadas serem ameaçadas pelo lulopetismo.

A desvalorização da moeda em relação ao dólar, que atingiu sua maior cotação desde a criação do Real, não é um problema restrito apenas aos investidores ou à Bolsa de Valores, mas afeta toda a economia. Produtos agrícolas e o tradicional pãozinho, para citarmos somente alguns exemplos, também sofrem aumento com a flutuação do dólar.

A inflação, derrotada com muito esforço pelos governos de Itamar Franco e Fernando Henrique Cardoso, foi ressuscitada pela incompetência dos tempos de Lula e Dilma. No acumulado dos últimos 12 meses, segundo o IBGE, o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA-15) atingiu 9,57%, o mais alto desde dezembro de 2003. De acordo com o último boletim Focus, divulgado pelo Banco Central, a estimativa é de que o IPCA se aproxime dos dois dígitos ao final de 2015, alcançando nada menos que 9,34% - o que seria o maior índice em 12 anos.

O desmantelo sem fim que marca os governos do PT afeta ainda o Índice de Confiança da Indústria, divulgado pela Fundação Getúlio Vargas. Em setembro, a expectativa dos industriais caiu 20,7% em relação ao mesmo mês do ano passado, configurando o pior resultado em 20 anos. Outro dado estarrecedor envolve a Petrobras, já tão corroída pela corrupção desbragada sob o comando do PT: o endividamento total da companhia subiu 31% em 2014 e atingiu R$ 351 bilhões, um recorde absoluto no setor de petróleo em todo o mundo.

O tardio ajuste fiscal proposto pelo atual governo não será aprovado pelo Congresso porque se baseia em aumento da carga tributária, o que é rechaçado pela população. A sociedade não aceita mais pagar a conta pela irresponsabilidade de Lula, Dilma e do PT na condução da política econômica. O Executivo promete fazer cortes insignificantes na máquina do Estado, que continua inchada e ineficiente, e quer jogar sobre os ombros dos brasileiros o peso de mais impostos. Neste momento, há uma necessidade absoluta de formarmos um novo governo e interrompermos, dentro dos marcos constitucionais e seguindo o rito democrático, o desastroso período do PT à frente do país.

Imobilizada por sua própria inaptidão para o cargo que ocupa, Dilma já não governa e se vê cada vez mais acuada, refém de sua frágil base parlamentar, loteando ministérios em troca de apoio para não perder o mandato. Sem autoridade política ou moral junto à população, a presidente da República é hoje o maior entrave para que o país supere a crise. Mantê-la no Palácio do Planalto, como se constata por onde quer que se olhe, vem custando caro ao país, e a fatura é paga na forma de desemprego, inflação, corrupção, desesperança. O processo constitucional do impeachment, que conta com amplo apoio da cidadania, se impõe mais do que nunca. O Brasil tem pressa e não pode mais esperar.

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Roberto Freire é deputado federal por São Paulo e presidente nacional do PPS

Fernando Gabeira - Navegando no pântano

- O Estado de S. Paulo

Navegando no pântano do Rio Pandeiros, no norte de Minas, tive uma intuição sobre o curso das coisas no Brasil. As plantas aquáticas dominavam o caminho, não se via água. Onde estava o leito do rio? Nosso objetivo era alcançar o São Francisco onde o Rio Pandeiros desemboca.

O barco avançava entre os aguapés ao som do ruído do choque das plantas com o metal do casco e percebi que sozinho ficaria perdido na imensidão daquele pântano verde-garrafa. Por isso levamos o barqueiro Pedro, que conhece as pequenas e fugidias trilhas da água. E ele nos levou, depois de quase três horas de viagem, ao encontro do São Francisco.

A verdade é que na volta, pelo mesmo caminho, o motor do barco fundiu. Mas Pedro faz o mesmo percurso quase todo dia. Sabe se mover no pântano.

A sensação de se mover de forma errática naquele território de mil hectares seria insuportável. No entanto, ela se parece com a que vivemos na cena nacional. Os atores aparentam não conhecer as trilhas do pântano. E se perdem no emaranhado das folhas, retrocedem achando que avançam.

Falemos dos projetos de “bondades” que o Congresso aprovou e Dilma vetou. Derrubar os vetos da presidente, sem dúvida, a enfraqueceria. Mas ao custo de perpetuar a mesma ilusão que nos jogou no buraco: fazer o bem sem olhar o momento ou saber como pagar.

O governo, então, parece ter adotado o pântano, como os jacarés. Delira em público sobre impostos, da CPMF à Cide, e termina sua noite nos cassinos, sonhando em legalizar o jogo. Com quem será, com quem será que a gente vai se ferrar?

Todos sabem que não se sai do pântano sem um timoneiro. E a maioria considera o impeachment inevitável. Mesmo o PT já deve estar discutindo internamente se a renúncia ou o impeachment pode servir-lhe melhor na outra vida. Se houver outra vida depois da que se perdeu na delinquência.

Dos atores pantaneiros, o que me parece ter um esboço do caminho é o PMDB. Recusou indicar ministros e marcou para dia Proclamação da República a convenção que pode romper com o governo federal. Daí para se unir com a oposição e despachar Dilma é somente um passo.

Não é um trajeto fácil, porque o barco do PMDB ainda vai enfrentar a tempestade da Lava Jato, mais ameaçadora ainda com o surgimento de novas delações premiadas. E alguns dos seus quadros não resistem a participar de um governo, mesmo depois de morto.

E há as grandes dificuldades do pós-impeachment. As empresas brasileiras perderam R$ 1 trilhão em valor de mercado. O dólar aumenta vertiginosamente, com reflexos na economia, no cotidiano e na produtividade de quem depende de produtos importados.

São instrumentos de trabalho que não se vendem no posto Ipiranga. Falava de tudo isso, segunda-feira, num encontro com amigos em Niterói, no momento em que o motorista que me esperava na porta foi sequestrado e assaltado.

Com os últimos arrastões no Rio e a insegurança que sinto nos meus deslocamentos, deveria ter enfatizado algo que apenas esbocei em alguns artigos. As duas crises que se alimentam mutuamente, a política e a econômica, começam a disparar o gatilho da que realmente vai mudar a qualidade do processo: a crise social.

Dois importantes termômetros são o índice de desemprego e o aumento da violência urbana. Daí o sentido de urgência não só de despachar Dilma, de mas esboçar uma visão de como sair do pântano.

Algumas realidades não desaparecem com a saída de Dilma. O rombo no Orçamento, por exemplo.

Teremos pouco dinheiro para demandas crescentes.

Creio que as trilhas do impeachment são visíveis no momento. Para o depois, nem tanto.

Existe um quase consenso, do qual compartilho, de que é preciso reconquistar a confiança do mercado. Inúmeras vezes defendi essa tese no Parlamento, a de uma sintonia com o mercado. No entanto, sempre ressalvei que precisava trabalhar com outras coordenadas, senão iria soltar a voz na Bolsa de Valores, e não no Congresso Nacional.

O desafio de sintonizar-se com o mercado, articulando as diferentes dimensões da crise, é dos políticos. Talvez esteja dramatizando um pouco, mas em outro contexto. O Congresso deveria estar fervilhando não apenas com o impulso da queda de Dilma, mas no debate das opções que se abrem.

Em linhas mais gerais, ficou claro que só é possível avançar respeitando as leis que regem o capitalismo. Só tem sentido contrariar essas grandes realidades quando se tem outro modelo como estratégia. Exemplo: o “socialismo do século 21” na Venezuela. Na verdade, uma ruína do século 21.

Ao longo destes anos, o governo do PT suscitou um arsenal crítico que é um ponto de referência.

Mudar a política externa, hoje talvez seja fácil, pelo menos no curto período que vai até 2018: bastaria inverter as prioridades do governo petista. Isso não significa voltar as costas para os vizinhos continentais. Mas diante das potencialidades do País, não podemos distanciar-nos da inovação tecnológica.

A tarefa central de um governo minimamente articulado será a de levar o País para 2018, restabelecendo um fio de confiança no processo político brasileiro. Aí, então, será possível renovar a esperança e prosseguir na tarefa gigantesca não só de resolver a crise econômica, mas todos os problemas que incomodavam quando a economia, para muitos, ainda parecia bem em 2013 e milhões de pessoas foram às ruas exigir melhores serviços públicos.

Quando caiu o Muro de Berlim, os camelôs vendiam seus pedaços aos turistas. O material acabou e os camelôs passaram a vender pedaços de muro falsificados. Não sei se vejo bem, mas a ideia me ocorreu quando comecei um livro sobre o meu aprendizado da democracia nos trópicos.
Este momento histórico mostra a implosão, no País, do último pedaço falsificado do Muro de Berlim.

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Fernando Gabeira é jornalista

Merval Pereira - Somos todos Moro

- O Globo

Vão criar diversos Moros pelo país, comenta um experiente advogado criminalista diante da decisão do Supremo Tribunal Federal de “fatiar” a investigação da Operação Lava- Jato. Mesmo que não aconteça um improvável movimento de solidariedade de juízes de primeira instância, declarando- se incompetentes e devolvendo os processos para Curitiba, os que receberem esses processos se sentirão moralmente responsáveis pela continuidade de uma ação do Judiciário que tem amplo apoio da sociedade.

Por onde anda, o juiz Sérgio Moro é aplaudido — ontem, foi em uma reunião em São Paulo —, e juízes que receberem “fatias” do processo terão também a oportunidade de mostrar que a Justiça funciona. A decisão do STF de tirar da jurisdição da 13 ª Vara Federal do Paraná, do juiz Sérgio Moro, o processo sobre a corrupção no Ministério do Planejamento, portanto, não vai inviabilizar a Operação LavaJato, mas coloca mais obstáculos a uma investigação que por si só é muito complexa, e com uma capilaridade impressionante pelo país e no exterior.

O que está sendo visto, e comemorado pelos governistas e advogados de acusados, como o fatiamento da Operação Lava- Jato — fragilizando a tese da Procuradoria- Geral da República de que o que está sendo investigado é uma organização criminosa que atuou em várias instâncias do governo federal além da Petrobras — pode ser revertido com um esforço adicional dos procuradores da Lava- Jato, que pretendem dar apoio aos procuradores de São Paulo e de outros estados que forem investigar o caso.

Até onde se sabe, os casos podem ser desmembrados entre a primeira instância no Rio e em São Paulo, além de Curitiba, e será preciso montar equipes de apoio nesses dois estados para que toda a expertise acumulada na investigação não se perca.

Não é que só exista um juiz no país, como ironizou o ministro Toffoli, mas é de se lamentar que um caso que está sendo investigado desde março de 2014, com um grupo de cerca de 300 pessoas, entre membros do Ministério Público e da Polícia Federal, venha agora a ser desmembrado por questões técnicas, à luz de uma legislação que precisa ser analisada sob a ótica das modernas organizações criminosas.

Além do mais, no afã de tirar o caso das mãos do juiz Sérgio Moro, como salientou em seus comentários durante a votação o ministro Gilmar Mendes, o Supremo antecipou etapas e decidiu questões que poderiam ser definidas na primeira instância, como, aliás, votou o ministro Luís Roberto Barroso.

O ministro, embora tenha concordado que no STF o caso deve ir para outro relator, e não para o responsável pelas ações da Lava- Jato, defendeu que, na primeira instância, coubesse ao juiz Moro decidir o tribunal adequado para conduzir as investigações do caso Consist. Se ele se afirmasse competente, e alguma parte discordasse, poderia interpor a “exceção de incompetência”, a ser julgada pelo Tribunal Regional Federal da 4 ª Região, cabendo dessa decisão o recurso especial ao STJ.

Barroso não compra a tese de que o que há em atuação é uma grande organização criminosa que deveria ser investigada e julgada em conjunto, que prevaleceu no julgamento do mensalão, apesar dos esforços de todos os advogados de defesa para desmembrar o processo naquela ocasião.

Há ministros, no entanto, a começar pelo relator Teori Zavascki, que consideram que não existe mesmo conexão entre os crimes, e, portanto, os processos têm que ser desmembrados. Mas certos argumentos não fazem sentido, como o do ministro Dias Toffoli, que diz que a maior parte dos crimes de lavagem de dinheiro e falsidade ideológica foi cometida em São Paulo, o que justificaria a atração de todos os processos para a Seção Judiciária do Estado de São Paulo, “ressalvada a apuração de outras infrações conexas que justifiquem conclusão diversa quanto ao foro competente”.

O que deveria ser levado em conta, segundo especialistas consultados, é a origem do dinheiro desviado, e não onde ele foi “lavado”, mesmo porque há muito dinheiro circulando pelo exterior que pode ter entrado no país por diversos estados, mas proveniente de desvios de órgãos públicos dentro do esquema da organização criminosa.