terça-feira, 16 de outubro de 2018

Opinião do dia: José Arthur Giannotti

• Por que o voto nos extremos?

O eleitor foi para os extremos porque ele raivosamente se apegou às promessas do PT, que foram frustradas. Essa raiva faz parte da tradição política, mas ela piorou. Nunca vi tanta violência, nem em 1964. Porque agora há muito ódio. E a violência está dos dois lados. Muitas vezes os que são contra Bolsonaro têm uma violência bolsonarista."

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José Arthur Giannotti é professor de filosofia, em entrevista: ‘Forças ocultas vão ter de se moderar’, Folha de S. Paulo, 16/10/2018.

Marco Aurélio Nogueira: A frente em favor de Haddad

- O Estado de S. Paulo

Manifestos de apoio e declarações de artistas são insuficientes para fazer a pedra se mover em outra direção. Cabe ao PT dar o primeiro passo, o mais decisivo

Muitas vezes se tem a impressão de que o PT não está de fato empenhado em ganhar as eleições presidenciais de 2018.

Se estivesse, estaria buscando dar materialidade à “frente democrática e progressista” que intelectuais, ativistas democráticos e o próprio Haddad dizem querer constituir, mas que, até agora, não saiu do papel.

O PT nunca soube lidar bem com a ideia de “frente democrática”. É um dos problemas do partido, uma das nódoas mais fortes de sua trajetória. Sempre se indispôs contra todas as tentativas de unir os democratas e de trabalhar em conjunto com eles. Sempre desejou ser farinha de outro saco, diferente, a única capacitada para olhar pelos pobres e oprimidos.

Se, agora, mostra-se disposto a mudar de posição, deve ser saudado e aplaudido.

O desafio é imenso e só será vencido se houver concessões, serenidade e sinalizações claras.

Não é produtivo proclamar a intenção e pouco fazer para convertê-la em fato. Conversas com personalidades, suavização da linguagem da campanha e movimentos de repaginação simbólica, como a troca do vermelho pelo verde-e-amarelo, são úteis mas ajudam pouco, ou quase nada. Não chegam ao fundamental.

Eliane Cantanhêde: Risco de contaminação

- O Estado de S.Paulo

Civis e militares temem a simbiose entre governo Bolsonaro e Forças Armadas

Há quatro décadas, o general Ernesto Geisel cansou das provocações dos “bolsões radicais, porém sinceros” e, com duas canetadas, reconduziu as Forças Armadas para a hierarquia, a disciplina e a ordem. Foi o fim da politização e o início de uma profissionalização militar que atravessou diferentes governos, dois impeachment e fortes crises.

Geisel demitiu o ministro do Exército, Silvio Frota, que contestava a abertura política, e o então comandante do 2.º Exército, Ednardo D’Ávila Mello, por não conter os seus “radicais” em São Paulo. E foi assim que o presidente garantiu a “abertura lenta, gradual e segura” até a posse do também general João Figueiredo e a redemocratização de 1985.

Quanto mais o Ibope confirma a virtual vitória do capitão reformado Jair Bolsonaro e do seu vice, general da reserva Hamilton Mourão, mais cresce a dúvida: até que ponto um governo com forte apoio de militares e com participação de altas patentes poderá contaminar as Forças Armadas, com a volta da politização, dos grupos e das consequentes disputas internas de poder?

Ninguém, dentro e fora do Exército, da Marinha e da Aeronáutica, considera possível ou viável um golpe militar clássico a esta altura, mas quem descarta uma democracia tutelada, ou seja, uma tutela militar sobre o governo civil democraticamente eleito?

Merval Pereira: Semana perdida

- O Globo

A grande maioria dos que votaram em Bolsonaro não mudará seu voto, assim como os adeptos do petista também não o farão

Foi uma semana perdida para o candidato petista Fernando Haddad. Agora, só restam duas até o segundo turno, e nada indica que tenha encontrado o caminho certo para tentar tirar votos de Bolsonaro, que continua com 18 pontos à frente desde que encerrou o primeiro turno na liderança da corrida presidencial, como mostra amais recente pesquisa de intenção de votos divulgada ontem pelo Ibope.

Combater Bolsonaro comum discurso genéricos obre valores e democracia, vindo de quem vem, e emitido aos eleitores anti petistas que votaram nele, épura perda de tempo. O PT não entendeu que a votação de Bolsonaro se deve ao antipetismo disseminado pelo país, mas sobretudo à insegurança da população, ao conservadorismo do brasileiro médio, considerado um defeito pela esquerda.

Não que veja na provável vitória de Bolsonaro uma resposta adequada a esses conflitos da modernidade, e, sobretudo, considero perigosa a postura de que a maioria tem que se impor às minorias, impedindo que tenham espaço na sociedade.

Bolsonaro aos poucos vem recuando de posições radicais que defendeu, assim como o PT tenta ir para o centro, ambos sem muita convicção. Sobretudo, o que Haddad diz não se escreve, porque o escrito que vale é o de Lula, não dele.

Não estou convencido de que os dois estejam sendo sinceros, pode ser apenas recuo de estratégia eleitoral. Mas as instituições nacionais saberão cobrar-lhes um comportamento dentro dos marcos da democracia. A grande maioria dos que votaram em Bolsonaro não mudará seu voto, assim como os adeptos do petista também não o farão. A margem de mudança é muito pequena, como mostra a pesquisa Ibope: Bolsonaro é o que tem mais simpatizantes convictos: 41% votariam nele com certeza, e 35% não votariam Haddad é o que tem a maior rejeição:47% não o escolheriam em nenhuma hipótese, e 28% manifestam certeza na escolha.

A ideia de formar uma aliança pluripartidária “a favor da democracia” não sensibilizou seus supostos componentes, não porque sejam favoráveis a Bolsonaro. Ao contrário, não são. Mas a alternativa de apoiar o PT, que representaria a “civilidade” contra a “barbárie”, não está conectada com a realidade da atuação política dos petistas, nem coma relação que mantêm com seus adversários, que sempre foram tratados como inimigos a serem destruídos.

José Casado: Uma agenda de confusões

- O Globo

Como a perspectiva do poder embriaga, Bolsonaro já aumenta os custos políticos do eventual governo

Jair Bolsonaro se consolida como favorito. Além de manter a vantagem obtida no primeiro turno, com 18 pontos à frente, conseguiu inverter o fluxo da rejeição eleitoral, agora liderada por Fernando Haddad.

Como a perspectiva do poder embriaga, Bolsonaro já aumenta os custos políticos do eventual governo.

Semana passada, no Rio, celebrou com aliados políticos e religiosos a vitória no primeiro turno, com 49 milhões de votos. “Depois de Israel, o próximo país que vou visitar é os Estados Unidos, ok?”, avisou.

Na plateia, muitos perceberam nesse aviso de viagem o eco de uma promessa de Bolsonaro a sionistas cristãos feita em outubro do ano passado, na Nova Inglaterra (EUA): se eleito, vai transferir a embaixada do Brasil em Israel, de Tel-Aviv para Jerusalém, cidade sagrada para judeus.

Significaria uma reversão em meio século de política externa do Brasil, com alinhamento às prioridades do governo Donald Trump e, também, ao governo conservador de Israel. Desde 1967, o Brasil vincula o status de Jerusalém ao reconhecimento das fronteiras de duas nações, Israel e o Estado palestino.

Bernardo Mello Franco: Rejeição vira novo obstáculo para o PT

- O Globo

Os petistas associam a maré contra Haddad ao bombardeio nas redes. O petista tem sido alvo de uma onda de fake news. Já foi acusado até de defender o incesto

O favoritismo de Jair Bolsonaro não é mais o único problema do PT. A pesquisa divulgada ontem pelo Ibope mostra que Fernando Haddad passou a enfrentar um novo obstáculo. Pela primeira vez na campanha, seu índice de rejeição ultrapassou o do adversário.

De acordo com o levantamento, 47% dos eleitores descartam votar no petista. Isso significa que a rejeição a Haddad disparou nos últimos dias. Na véspera do primeiro turno, o índice era de 36%.

No caso de Bolsonaro, deu-se o inverso. Pelos números do Ibope, 35% dos eleitores não admitem votar nele “de jeito nenhum”. Na pesquisa anterior, o capitão era rejeitado por 43%.

Os petistas associam a maré contra Haddad ao bombardeio de fake news nas redes. O petista tem sido alvo de uma onda de ataques abaixo da cintura. Já foi acusado até de defender o incesto, em postagem do bolsonarista Olavo de Carvalho.

A artilharia produziu efeito, e o petista teve que ir para a defensiva. Ontem ele levou a mulher e os filhos para a TV, num esforço para rebater a ideia de que seria um inimigo da família tradicional.

Com o TSE de braços cruzados, Bolsonaro colhe os frutos da ofensiva virtual. Segundo o Ibope, ele abriu uma vantagem de 42 pontos entre os evangélicos. No contingente, sua vitória sobre Haddad seria um massacre: 66% a 24%.

A esta altura, reconquistar estes eleitores parece uma missão quase impossível para o petista. Ainda mais com as máquinas das maiores igrejas neopentecostais, como a Universal de Edir Macedo, atuando abertamente para o capitão.

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O candidato do PSC ao governo do Rio, Wilson Witzel, abriu seu programa eleitoral de ontem com um depoimento do vereador Otoni de Paula.

É o mesmo personagem que rebolou e fez um gesto obsceno na Câmara Municipal para festejar a rejeição do pedido de impeachment contra o prefeito Marcelo Crivella. Saltou do colo do bispo para o do ex-juiz.

Míriam Leitão: A hora da verdade dos governadores

- O Globo

Próximo presidente terá que lidar com uma crise na Federação. Vários estados podem ter dificuldades de prestar serviços básicos

Os governadores eleitos encontrarão, na maioria dos casos, as contas em escombros. Nos estados é que se sentirá de forma mais imediata a crise em 2019, porque em vários deles pode haver dificuldade de prestar serviços básicos. Todos os governadores, novos ou não, irão a Brasília pressionando por solução. Pelos dados do Ministério da Fazenda, houve aumento do número dos que estouraram os limites do gasto com salários em relação à Receita Corrente Líquida. Eram nove, em 2016, e no ano seguinte a lista cresceu.

Os piores são Rio de Janeiro, Minas Gerais e Rio Grande do Sul, mas a esse grupo se juntou o Rio Grande do Norte. A situação está contida artificialmente pelas ações na Justiça. É o caso de Minas, que parou de pagar a dívida ao governo federal e conseguiu uma liminar do Supremo Tribunal Federal para receber suas parcelas do Fundo de Participação dos Estados. Com a anuência do STF, deixa de pagar por mês algo como R$ 500 milhões. O governador Fernando Pimentel nunca quis negociar a entrada no Regime de Recuperação Fiscal porque teria que pôr ativos à venda, como foi exigido do Rio com a Cedae. O estado está atrasando pagamento aos fornecedores. O próximo governador não poderá mais adiar o encontro com esse problema.

O Rio Grande do Sul está negociando com o governo federal, mas também parou de pagar a dívida. O Rio de Janeiro está diante do risco concreto de ser retirado do RRF porque a Alerj tem aprovado leis de reajustes salariais que são expressamente proibidas pelo programa.

Em Goiás, o governador eleito Ronaldo Caiado terá que tomar medidas duras. Houve lá um ensaio de ajuste e em 2016 as contas fecharam com superávit. Melhorou na pontuação do Tesouro, mas em 2017 com o calendário eleitoral, os gastos voltaram a aumentar.

Joel Pinheiro da Fonseca: A política e as fake News

- Folha de S. Paulo

Há novas formas mais eficazes de mentira, e as táticas do PT ficaram para trás

Não é de hoje que a mentira é usada na política. Afinal, mesmo o político bem intencionado —que quer promover o bem da sociedade—sabe que, para ter impacto real, precisará vencer. Para vencer, é preciso dar esperança ao eleitorado e mostrar-se como superior aos outros. Daí vêm as promessas vazias e acusações sem base de toda campanha. Nunca teremos uma política completamente calcada na veracidade. Mas, do ponto de vista dos cidadãos, seria desejável reduzir o grau de mentiras.

Por muito tempo, o PT foi o mestre na arte de enganar a população no período eleitoral. Uma de suas estratégias favoritas é inventar uma acusação contra alguém (e para isso basta um fiapo de verossimilhança) e repeti-la ininterruptamente, mesmo que o acusado negue e faça de tudo para mostrar-se inocente. Foi assim com Marina Silva na corrida presidencial de 2014, acusada de querer cortar auxílio social aos pobres para favorecer banqueiros; e assim com Bolsonaro agora em 2018, acusado de querer acabar com o décimo terceiro salário. A questão é que, desta vez, parece não estar colando.

Há novas formas mais eficazes de mentira, e as táticas do PT ficaram para trás. Elas parecem até inocentes perto da verdadeira máquina de desinformação que é a campanha de Jair Bolsonaro no WhatsApp (e aqui incluo não só a campanha formal como todos aqueles que contribuem para gerar e compartilhar conteúdos a seu favor). Notícias falsas e teorias da conspiração --a revista que aceitou atacar Bolsonaro em troca de R$ 600 milhões, as urnas fraudadas, etc.-- circulam em tamanha profusão que criam um verdadeiro universo paralelo contra o qual o jornalismo sério pouco pode fazer. As agências de checagem de fatos têm se mostrado incapazes de conter a maré das fake news. No tempo em que se apura uma notícia falsa, três novas já foram criadas e circulam pelo WhatsApp.

Hélio Schwartsman: Prevenção secundária

- Folha de S. Paulo

Se Bolsonaro for eleito, precisamos estar atentos a iniciativas de potencial democraticida

A democracia é vulnerável a ameaças que venham de dentro. Essa é só uma de suas muitas imperfeições. E é difícil mudar isso, porque, para fazê-lo, teríamos de relativizar características fundamentais do sistema, como a soberania do voto popular e a possibilidade de o Congresso Nacional aprovar emendas constitucionais e leis que alterem as regras de funcionamento do Estado.

A provável eleição de Jair Bolsonaro (PSL), estou convencido, representa um risco. Há bastante exagero na visão daqueles que equiparam automaticamente a vitória do capitão reformado à morte da democracia, mas seu histórico de declarações destrambelhadas nos dá razões para genuína preocupação.

O que saiu errado? Eu diria que a prevenção primária falhou.

Fossem as nossas instituições democráticas um pouco mais hígidas, seria praticamente impossível para um partido político nanico como o PSL fazer um presidente. E nenhuma das siglas “mainstream” jamais daria legenda a alguém como Bolsonaro.

Não chego a afirmar que o eleitorado nunca escolheria um populista sem o menor preparo para o cargo porque sabemos, desde Platão, que o povo, mesmo quando instruído e bem alimentado, pode fazer grandes barbeiragens diante da urna.

A confirmar a eleição de Bolsonaro, só o que nos restará é a prevenção secundária, que é a que lida com doenças já instaladas e, através do diagnóstico e do tratamento precoces, procura evitar que elas passem da fase assintomática para a sintomática.

Em português claro, isso significa que precisaremos estar atentos para bloquear democraticamente ab ovo as iniciativas bolsonarianas de maior potencial democraticida. Para tanto, temos Congresso, Justiça, vários órgãos de Estado formados por burocracias estáveis e a própria opinião pública, que hoje parece estar majoritariamente com o capitão, mas que já deu mostras de que é volúvel e sabe cobrar de seus governantes.

Bruno Boghossian: Darwin, Bolsonaro e o general

- Folha de S. Paulo

A 12 dias do 2º turno, não se sabe quase nada sobre planos para o ensino público

As conspirações sobre a ideologia nas escolas atingiram o insuspeito Charles Darwin. Um general que elabora propostas na campanha deJair Bolsonaro diz que a teoria da evolução deve ser ensinada ao lado do criacionismo (a ideia de que Deus criou diretamente o homem).

“Muito da escola está voltada para orientação ideológica [...]. Houve Darwin? Houve, temos de conhecê-lo. Não é para concordar, tem de saber que existiu”, afirmou Aléssio Souto ao jornal O Estado de S. Paulo.

As duas visões devem ser mantidas em esferas distintas, mas o militar segue uma linha em que a religião disputa espaço com a ciência. Ele diz que um pai “não está errado” se quiser que o professor ensine teoria da criação no lugar do darwinismo.

A sugestão causa arrepios em especialistas. “Esse debate deve ocorrer no campo da religião, nas aulas de filosofia ou sociologia”, afirma Priscila Cruz, do movimento Todos pela Educação. “Na ciência e na biologia, o criacionismo deveria ser banido.”

Ao tratar pontos do ensino científico como desvio ideológico, assessores de Bolsonaro aplicam, eles mesmos, um viés político à educação.

Fernando Exman: Para onde vai a onda que Bolsonaro surfa

- Valor Econômico

Vitória de Bolsonaro enfraqueceria ainda mais os partidos

Apenas uma "hecatombe", um escândalo de grande proporção, pode impedir que Jair Bolsonaro vista a faixa presidencial no dia primeiro de janeiro, preveem aliados e integrantes da campanha do candidato do PSL ao se referirem ao desfecho do processo eleitoral no próximo dia 28. Esse é o cenário traçado a pouco menos de duas semanas do segundo turno, não apenas devido à confiança que eles têm nas projeções estatísticas feitas a partir de pesquisas de intenção de voto. Para eles, a ascensão de Bolsonaro é fruto de uma mudança cultural da sociedade brasileira, da qual fazem parte um sentimento crescente de reação à grave crise de insegurança pública observada país afora e uma aversão aos partidos políticos tradicionais.

Em outras palavras: a candidatura de Bolsonaro está calcada muito mais na representação de uma ideia do que na própria persona do candidato, que faz questão de reunir todo esse caldo cultural com o objetivo de desgastar o Partido dos Trabalhadores, seu antigo antagonista no Congresso Nacional e atual adversário nas urnas.

Por ironia, foi o PT quem adotou inicialmente essa abordagem, ao tentar elevar o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva ao patamar de uma "ideia" a ser incorporada por algum preposto na disputa. Seja ele quem fosse, assim como já foi a ex-presidente Dilma Rousseff, desde que fiel aos objetivos pessoais do ex-presidente e aos interesses do partido.

Maria Clara R. M. do Prado: Carta aberta ao bom senso

- Valor Econômico

PSDB pode ser o fiel da balança de um grande acordo nacional, mas não o faria sem envolvimento consequente do PT

O título deste artigo poderia ter sido "Carta aberta a FHC". Ou "Carta aberta a Lula". Escolher um ou outro, porém, significaria apelar para um dos dois lados que, por divergências de cunho mais retórico do que político, conviveram mal nos últimos anos. São líderes políticos com percursos diferentes, mas forjados nos mesmos ideais da social democracia. Apelo ao bom senso de ambos.

Dirijo-me, primeiro, ao ex-presidente FHC para lembrar o papel fundamental que teve nos idos de 1992, nos estertores do governo Collor de Mello, eleito três anos antes na onda da caça aos marajás e das políticas que colocariam o país na era supersônica. Uma grande aliança foi necessária para convencer o então vice-presidente, Itamar Franco, a assumir a cadeira presidencial e dar respaldo político a um governo que nascia fraco, sem liderança e sem estratégia.

Seu engajamento, presidente FHC, como senador na época, ajudou a garantir a governabilidade naquele momento delicado da República brasileira. Com as limitações que tinha, Itamar conseguiu governar até o final do mandato porque contou com a sua liderança e capacidade de persuasão. Não fosse isso, o Brasil não teria conseguido debelar a hiperinflação.

Contra o ceticismo dos políticos em geral, do FMI e mesmo dos economistas mais especializados no tema da estabilidade, foi a sua persistência, aliada a uma aguda percepção das possibilidades políticas e à confiança em uma ousadia bem direcionada, que conseguiu colocar de pé o mais ambicioso plano de estabilização jamais experimentado.

Seu nome, presidente FHC, ganhou lugar de destaque na história do país. Nada melhor do que gozar uma aposentadoria regada pelo orgulho do reconhecimento público. No entanto, nem sempre é possível escapar de um chamado em prol da preferência pela democracia, como ocorreu em 1992. O prestígio político impõe essa responsabilidade.

Ricardo Noblat: Haddad, um dia perfeito!

- Blog do Noblat | Veja

Nada deu certo

a presidente da República, acordou ontem cedo e foi à caça de votos. Quando o dia terminou, ele estava diante do seguinte quadro:

a)A pesquisa IBOPE conferira ao seu adversário uma vantagem de 18 pontos percentuais nas intenções de voto. E a ele, Haddad, o título de candidato mais rejeitado.

b)Jaques Wagner (PT), senador eleito na Bahia e um dos coordenadores da campanha de Haddad, afirmara que Ciro Gomes (PDT) teria tido mais chances de derrotar Bolsonaro.

c)José Sérgio Gabrielli, outro coordenador da campanha de Haddad, recebera a notícia de que seus bens haviam sido bloqueados por causa do superfaturamento do preço de construção da refinaria Abreu e Lima, em Pernambuco. Gabrielli foi presidente da Petrobras.

d) Em ato público em Fortaleza a favor da eleição de Haddad, o senador eleito Cid Gomes (PDT) chamara petistas de “babacas” e dissera que o partido colherá uma feia derrota no próximo dia 28.

Pelo menos hoje talvez fosse melhor Haddad não sair da cama.

PT, um partido dos grotões do Nordeste

O risco de uma derrota histórica

A essa altura, nem mesmo se o encarcerado de Curitiba batesse no peito, confessasse seus pecados e prometesse se emendar ao fim de sua pena de 12 anos e um mês de cadeia haveria chance de o PT eleger Fernando Haddad presidente da República.

Luiz Carlos Azedo: A volta do marmiteiro

- Correio Braziliense

“A campanha nas redes sociais continua sendo um fator decisivo na eleição. Com a paridade de tempo de televisão, ganha ainda mais importância”

Na pesquisa do Ibope divulgada ontem, na qual Jair Bolsonaro (PSL) aparece com 59% dos votos válidos e Fernando Haddad (PT), com 41%, o dado mais significativo é a rejeição. O candidato do PSL tem mais simpatizantes convictos: 41% votariam nele com certeza e 35% não votariam de jeito nenhum, enquanto 47% não escolheriam o petista em nenhuma hipótese e 28% manifestaram certeza na escolha. Esses dados sinalizam certo congelamento do cenário eleitoral, apesar do reinício da campanha de tevê e rádio, com muita virulência de ambas as partes.

Bolsonaro não tem nenhum motivo para mudar o rumo de sua campanha, ainda mais agora, que conseguiu a paridade estratégica do tempo de televisão e rádio, o que não acontecia no primeiro turno. Está apenas afinando o discurso, para reforçar sua posição defensiva em relação aos ataques do petista quanto a temas como misoginia e homofobia, além de conter a violência dos seus cabos eleitorais. No mais, o discurso é o mesmo. Não houve um fato novo de campanha que o obrigasse a mudar de postura. Já o cavalo de pau de Haddad na própria campanha, que no primeiro turno ignorou Bolsonaro e concentrou seus ataques no tucano Geraldo Alckmin, não foi convincente para mudar os índices de rejeição dos eleitores em relação a Lula e ao PT.

O candidato petista não fez autocrítica dos erros do PT e não se desvinculou do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva; de certa forma, está engessado quanto a isso, pois provocaria uma crise na campanha. A chantagem moral como tática para atrair setores do chamado “centro democrático” também não funcionou. Até Fernando Henrique Cardoso, que sempre se mostrou aberto ao diálogo com Haddad, reclamou dessas pressões. A pesquisa também mostra que 9% do eleitorado pretendem votar nulo ou branco. É um resultado muito próximo do segundo turno de 2014, disputadíssimo, no qual somaram pouco mais 7%. Àquela época, Dilma Rousseff (PT) derrotou Aécio Neves (PSDB) por 51,64% a 48,36% dos votos.

Bolsonaro já abriu 18 pontos percentuais de vantagem nos votos válidos desde o primeiro turno, quando ficou à frente de Haddad por 46% a 29%. A campanha nas redes sociais continua sendo um fator decisivo na eleição. Com a paridade de tempo de televisão, ganha ainda mais importância. “Nos últimos dias, as menções aos candidatos têm ficado numa proporção média de 60 x 40, com ampla vantagem para o capitão. O grande volume de menções ao candidato do PSL revela que a sua militância venceu a guerra da internet e o impulsiona nesta reta final. Sem um fato novo, as eleições estão definidas”, avalia o analista digital Sérgio Denicoli, da AP Exata. Segundo ele, há uma relação direta entre o volume de menções nas redes sociais e a intenção de votos, num universo de 145 cidades brasileiras.

Forças ocultas vão ter de se moderar, afirma Giannotti

Forças ocultas na política terão que se civilizar, diz Giannotti

Professor de filosofia diz que não se governa com ameaças e que vitória de Bolsonaro levará conservadores a moderação

Mario Cesar Carvalho | Folha de S. Paulo

SÃO PAULO - A eventual eleição de Jair Bolsonaro (PSL) vai jogar conspiradores e golpistas na dança política, afirma José Arthur Giannotti, 88, um dos mais influentes professores de filosofia do país, que já deu aulas na USP, da qual se aposentou, e na Universidade Columbia, em Nova York.

E essa é uma boa notícia, segundo ele. "A grande sorte dessas eleições foi trazer para a política as forças ocultas”, disse à Folha. "Com isso, elas vão se moderar. Você não governa com ameaças nem se mostra publicamente como bandido. Eles serão obrigados a se civilizar."

Um dos primeiros intelectuais a dizer que os tucanos caminhavam para a morte, em 2014, Giannotti afirma que não há chance de renascimento do PSDB, partido do qual já foi considerado um ideólogo informal. Mas defende que um partido de centro é essencial. "Para conter o discurso e a prática velha do PT. E para conter essa onda que acredita na violência pela violência."

Ele elogia o desmonte do sistema político provocado pela onda conservadora por achar que ela abrirá a estrutura extremamente fechada. Ele nem esperou o repórter perguntar para começar a falar.

Nós estávamos numa negação política. O Congresso fechado nele mesmo, armado para se reproduzir. O governo isolado, incapaz de enfrentar as crises econômicas e sociais. Estávamos num fechamento total. E a Lava Jato denunciando, num processo jurídico-político, na medida em que atua juridicamente mas com intenções políticas. Sua intenção é jogar uma bomba atômica no processo político.

• Por que a polaridade PT-PSDB foi varrida?

Foi varrida porque ao PSDB faltaram lideranças, faltou se renovar. Quando você chega ao [João] Doria, que é pura aparência, é o fim. Nós vivemos numa sociedade do espetáculo, mas com o Doria você só tem espetáculo, não tem conteúdo político. O PSDB ficou dividido entre o Alckmin e oDoria. Do outro lado, o PT levou o país a uma recessão brutal por causa de uma série de equívocos econômicos. Esta eleição recupera e amplia 2013 [movimento contra alta de tarifas de transporte que depois começou a questionar a agenda dos partidos e a eficiência do Estado].

• O que o sr. achou do resultado das eleições? 

Estou contente porque esse movimento antidemocrático, que é profundo e ocorre no mundo inteiro, representa o capitalismo atual, que é o capitalismo de conhecimento. Isso exige uma universidade que faça pesquisa, e o lulismo transformou a universidade num processo de ascensão social: você sai de secretária 3 para secretária 1. Os tucanos também fizeram isso em SP.

A eleição trouxe essa violência toda para o jogo político. Nós temos uma violência insustentável: morre mais gente aqui do que na guerra da Síria. A eleição foi um banho de soda cáustica revelando as nervuras da real luta política.

Deputados da centro-esquerda europeia se reunem para criticar Bolsonaro

Para grupo, eventual vitória do candidato seria uma 'ameaça à democracia' no Brasil

Jamil Chade | O Estado de S.Paulo

GENEBRA - Deputados ligados à esquerda, à centro-esquerda e aos ecologistas europeus realizam nesta terça-feira, 15, um debate no Parlamento Europeu, em Bruxelas, dedicado às eleições no Brasil com foco nas propostas do candidato Jair Bolsonaro. O evento diz que há um “risco à democracia” caso o líder nas pesquisas vença as eleições 2018.

Entre os membros do Parlamento Europeu que apoiam e patrocinam a iniciativa estão os deputados portugueses Marisa Matias e Francisco Assis, os espanhóis Xabier Benito Ziluaga, Ramon Tremosa i Balcells e Ana Miranda, os italianos Roberto Gualtieri e Ignazio Corrao, e a britânica Julie Ward.

“Reunindo Membros do Parlamento Europeu de todo o espectro político, o evento tem um único objetivo: manifestar publicamente a firme oposição ao candidato à presidência do Brasil, Jair Bolsonaro, cuja trajetória política e declarações públicas claramente se contrapõem aos princípios básicos do Estado de Direito”, declararam os deputados que convocaram o evento em um convite enviado aos demais parlamentares.

Sem eleger o mínimo exigido, Rede, de Marina Silva, mira fusão com PV ou PPS

Jeferson Ribeiro | O Globo

A Rede Sustentabilidade, partido idealizado por Marina Silva e que obteve o registro em 2015, deve deixar de existir até o final do ano. Após não atingira cláusula de barreira e ficar sem fundo partidário e propaganda no rádio e na TV, integrantes da legenda conversam com PV e PPS mirando uma fusão nos próximos meses.

Uma decisão sobre qual o melhor caminho para a fusão pode sair hoje, quando Marina reúne a comissão executiva para debatera questão.

—A ideia é concluir esse processo ainda neste ano para dar segurança aos nossos parlamentares — disse Laís Garcia, porta-voz da Rede.

Para passara cláusula de barreira, o partido precisaria eleger deputados federais empelo menos nove estados ou obter 1,5% dos votos para a Câmara, com um mínimo de 1% dos votos em nove estados. A Rede elegeu uma deputada, Joenia Wapichana, em Roraima, e não atingiu o mínimo de votos necessários para a Câmara.

Rede e PV já estiveram juntos no primeiro turno, quando Marina disputou a Presidência e teve pouco mais de um milhão de votos, impactando no mau desempenho do partido.

Há conversas também com o PPS. O presidente do partido, Roberto Freire, disse que ainda não falou diretamente com Marina, mas admitiu que integrantes das duas legendas têm discutido uma possível união.

Cid Gomes diz que PT perderá eleição se não fizer mea culpa e chama militância de 'babaca'

Em evento no Ceará, senador eleito pelo PDT e irmão de Ciro Gomes ainda afirmou que Bolsonaro é 'criação' de quem acha que é dono da verdade

Matheus Lara | O Estado de S.Paulo

O senador eleito e ex-governador do Ceará Cid Gomes (PDT) disse nesta segunda-feira, 15, em evento do PT em Fortaleza, que o partido do presidenciável Fernando Haddadprecisa fazer mea culpa e assumir que fez "muita besteira" - ou perderá a eleição de forma "merecida". O irmão de Ciro Gomes (PDT), que estava na corrida presidencial, ainda disse que Jair Bolsonaro (PSL) é uma "criação" de quem acha que é dono da verdade.

"Tem que fazer mea culpa, tem que pedir desculpa, ter humildade e reconhecer que fizeram muita besteira", disse Cid, ao lado do governador eleito no Estado, Camilo Santana (PT). Vaiado por militantes petistas, Cid apontou para um deles, que fazia sinal de negativo com as mãos, e o confrontou. O vídeo ganhou repercussão nas redes sociais na madrugada desta terça.

"É assim? Pois tu vai perder a eleição. Não admitir mea culpa é pra perder a eleição e é bem feito", disse Cid. "Quem, junto com ele (militante), acha que fez tudo certo, muito bem, pois vão perder feio. Porque fizeram besteira, aparelharam as repartições públicas, porque acharam que eram dono de um País e o Brasil não aceita ter dono."

Ao ouvir gritos de "Olê olê olá, Lula, Lula!", em apoio ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, Cid chamou a militância de "babaca". "Quem criou o Bolsonaro foram essas figuras que acham que são donos da verdade, que acham que os fins justificam os meios. Que Lula o quê? O Lula está preso, babaca! E vai fazer o quê? Babaca! Isso é o PT e o PT desse jeito merece perder."

Líderes partidários criticam atitude ‘hegemonista’ dos petistas

Dirigentes de ex-partidos aliados e adversários dizem que postura da sigla de Haddad dificulta frente de apoio ao petista

Ricardo Galhardo e Marianna Holanda | O Estado de S.Paulo

Após vencer quatro disputas presidenciais seguidas, a postura do PT, classificada por ex-aliados e adversários como “hegemonista”, deixou um rastro de ressentimentos que hoje dificulta reaproximações e a formação de uma “frente democrática” em torno do presidenciável Fernando Haddad e contra o candidato Jair Bolsonaro (PSL).

Em entrevista ao Estado, neste domingo, 14, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso deixou claro que a postura do PT é um entrave para seu apoio a Haddad. “O PT no poder sempre teve uma deterioração da visão do (Antonio) Gramsci da hegemonia. Aqui não é cultural, é hegemonia do comando efetivo. Quando você vê o que foi dito a respeito do meu governo, nada é bom”, disse.

FHC não é o único. Carlos Lupi, presidente do PDT, partido que declarou “apoio crítico” a Haddad, explicou por que a sigla e Ciro Gomes não entraram de cabeça na campanha petista. “É um acúmulo dessa coisa de hegemonia. Me diga uma unidade da Federação em que eles nos apoiaram. Para o PT, a gente só é bom quando os apoia”.

Segundo Lupi, no dia 29, logo depois do segundo turno, o PDT vai lançar a candidatura de Ciro para a eleição presidencial de 2022.

Rede. O PT também procurou a Rede de Marina Silva, por meio de ex-petistas. As tratativas pararam quando a Executiva Nacional do partido decidiu não apoiar o petista ao estabelecer apenas o veto a Jair Bolsonaro. Questionado sobre as razões para não apoiar Haddad, Bazileu Margarido, membro da Executiva Nacional da Rede, criticou o que chamou de “erros” do PT, como as alianças com “o que há de pior na política”.

Haddad patina em amarrar apoios de FHC, Barbosa e Ciro

Por Malu Delgado | Valor Econômico

SÃO PAULO - As dificuldades para que o candidato do PT à Presidência, Fernando Haddad, consiga produzir fatos e sinais claros de apoio mais amplo na disputa com Jair Bolsonaro (PSL) se acumulam e esbarram no curtíssimo tempo que resta de articulação no segundo turno. Na noite de ontem, emissários de Haddad sinalizaram, mais uma vez, a intenção de bater à porta do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, do PSDB.

O candidato também aguardava resposta do ex-presidente do Supremo Tribunal Federal Joaquim Barbosa sobre uma possível adesão à campanha ou ao menos uma declaração favorável ao petista.

Nos dois casos, tanto FHC quanto Barbosa sinalizam que só poderão cogitar o apoio a Haddad se houver inflexão clara do petista em pontos específicos do programa de governo. O discurso de Haddad em prol da democracia não é e não será suficiente para construir esta unidade de forças democráticas. Além de perder o 'timing', a liderança consolidada de Bolsonaro nas pesquisas limita os movimentos do PT sobre eventuais alianças.

Ontem, o candidato fez um outro movimento e disse ter conversado com o professor Mario Sérgio Cortella. No Twitter e em entrevistas, Haddad disse que Cortella seria um excelente ministro da Educação. Um convite, porém, não foi feito. Houve apenas um contato telefônico.

Os movimentos de Haddad esbarram na falta de autonomia que o candidato tem dentro do PT. O novo coordenador político da campanha, o ex-ministro Jaques Wagner, afirmou ontem ao Valor que Haddad "tem total liberdade" para conduzir pontes com setores amplos da sociedade, para além da política, inclusive. Wagner é um dos defensores, dentro do PT, da construção de um campo amplo em torno da candidatura. Eleito senador, Wagner disse não gostar do nome "frente ampla", porque uma frente só pode ser de fato construída em caso de vitória.

Haddad declarou ontem, em entrevista a jornalistas, que não tem feito outra faz coisa "a não ser falar com pessoas" que podem compor frente democrática que se oponha a Bolsonaro (PSL).

O candidato voltou a mencionar o encontro com Joaquim Barbosa e foi questionado sobre sinais concretos que poderia fazer a Ciro Gomes, do PDT, para tê-lo a seu lado, como um compromisso de não disputar uma eventual reeleição.

"Pelo Brasil democrático, eu estaria disposto a qualquer tipo de...", disse, sem concluir o raciocínio. Haddad afirmou que tem feito "vários outros contatos desta natureza", mas que não citaria nomes devido a pedidos de reserva das pessoas com as quais busca uma interlocução.

Wagner voltou a defender ontem que Haddad vá ao Ceará, caso Bolsonaro insista em permanecer "escondido debaixo da cama e atrás de uma receita [médica]" e não vá a nenhum debate. Ele sinalizou que Ciro pode antecipar seu retorno da Europa. "Nosso governo teria que ser mais amplo do que nunca", disse Haddad, que deu entrevista com uma bandeira nacional ao fundo. "A bandeira não é do Bolsonaro. São as cores do Brasil", justificou Jaques Wagner.

Wagner tenta choque de comunicação tardio

Por Andrea Jubé | Valor Econômico

BRASÍLIA - Na largada para o segundo turno, o senador eleito pela Bahia, Jaques Wagner (PT), incorporado ao time de Fernando Haddad, tomou as rédeas da campanha para aplicar um choque de comunicação tardio, que poderá surtir ou não efeitos a 12 dias da votação. Wagner trouxe para a campanha de Haddad o reforço de profissionais da Bahia para promover mudanças nas redes sociais e no horário eleitoral, setor em que diagnosticou, ao lado do candidato, falhas na primeira etapa da disputa.

Haddad conduziu uma reunião em São Paulo na última terça-feira apenas com o governador da Bahia, Rui Costa, e Jaques Wagner, incorporados à coordenação da campanha, quando ouviu de ambos que deveria dar mais entrevistas, principalmente para rádios e televisão, turbinar as redes sociais, em especial o WhatsApp, e adicionar doses de emoção à disputa.

Wagner avocou para si a missão de turbinar a comunicação. Na última quinta-feira, Haddad concedeu entrevista para um pool de 98 rádios do interior da Bahia. A estratégia foi repetida ontem, quando o candidato petista falou para um dos locutores mais conhecidos do Estado, Mário Kertész, em um pool de 28 rádios baianas.

Ontem, Haddad deu três entrevistas para rádios, incluindo o pool de emissoras baianas, falou para veículos de internet, participou de um ato com professores e gravou entrevista para a TV dos Trabalhadores (TVT). Hoje ele falará para a rádio Jovem Pan e para uma emissora do Piauí. O petista concedeu mais entrevistas em oito dias de campanha no segundo turno do que durante um mês como candidato na primeira fase.

A simbólica perda de votos do PT na classe C: Editorial | O Globo

De 2014 a 2018, partido teve 10 milhões de votos a menos em faixas de renda mais baixa, algo sugestivo

O primeiro turno da eleição marcou o surgimento de uma forte corrente conservadora que digitou nas urnas 47,7 milhões de votos em Jair Bolsonaro (PSL), contra 29 milhões no candidato do PT, Fernando Haddad. Ficou nítida uma onda antipetista na derrota de Haddad nesta primeira fase das eleições presidenciais.

Natural que, enquanto o candidato vitorioso avalie discurso, propostas e campanha para confirmar o êxito no segundo turno, o PT — partido que ganhou as eleições presidenciais de 2002 a 2014, tendo saído do Planalto devido ao impeachment aprovado pelo Congresso, em 2016, contra a presidente Dilma Rousseff — faça um cuidadoso inventário dos erros.

A necessidade de os petistas entenderem o que houve se justifica por diversos fatos. Um deles, importante, revelado pelo GLOBO de domingo, é que, segundo uma atualização da tese de doutorado em ciência política da pesquisadora Priscila Lapa, da Universidade de Pernambuco (UFPE), o PT, de 2014 a 2018, perdeu 10 milhões de votos junto à classe C. Aquela, segundo a classificação da Fundação Getúlio Vargas, que tem rendimentos familiares entre R$ 2 mil e R$ 8,6 mil.

A prepotência petista: Editorial | O Estado de S. Paulo

As análises estatísticas do primeiro turno da eleição presidencial mostram aquilo que todos já sabem: o PT continua a reinar soberano nos remotos grotões do País, onde eleitores sustentados pelo assistencialismo do Bolsa Família idolatram o chefão petista Lula da Silva. Foi basicamente esse clientelismo que impulsionou a transferência de votos de Lula para seu preposto na eleição, Fernando Haddad, levando o ex-prefeito paulistano para o segundo turno contra Jair Bolsonaro (PSL).

Superada a primeira etapa da campanha, e a título de arregimentar apoio fora do curral lulopetista, Haddad agora quer fazer o País acreditar que nada tem a ver nem com o PT nem com Lula. Mais do que isso: pretende identificar-se como um candidato sem partido, preocupado unicamente com a democracia brasileira, que, segundo seu discurso, estaria ameaçada pelo seu oponente – um ex-capitão que faz apologia da ditadura e da tortura.

Assim, a candidatura de Haddad seria nada menos que a salvação da democracia – condição que, se verdadeira fosse, tornaria praticamente obrigatório o voto no PT no segundo turno para aqueles que prezam as liberdades democráticas. Na narrativa elaborada pelos estrategistas do PT, aqueles que rejeitam esse axioma lulopetista, recusando-se a declarar voto em Haddad ainda que considerem Bolsonaro realmente uma ameaça à estabilidade do País, são desde logo qualificados como cúmplices do ex-capitão.

O preço do voto: Editorial | Folha de S. Paulo

Custo das campanhas eleitorais cai, mas com alta de verba orçamentária

Em um curso forçado, sob o impacto das revelações da Lava Jato, o Brasil atingiu o objetivo de baratear as campanhas eleitorais.

Conforme esta Folha relatou, os candidatos aos múltiplos cargos em disputa no primeiro turno deste ano se valeram de uma receita total de R$ 2,8 bilhões. O montante decerto está longe de desprezível, mas aponta uma substancial redução após os R$ 6,4 bilhões, em valores corrigidos, desembolsados há quatro anos nos dois turnos.

Resta contabilizar, claro, os gastos dos confrontos finais ao Palácio do Planalto e aos governos de 13 estados; seria ingenuidade, ainda, imaginar que não tenha havido casos de caixa dois. De todo modo, não há dúvida de que se reverteu uma tendência de encarecimento contínuo dos pleitos no país.

De positivo, comprova-se que os candidatos podem levar sua mensagem aos eleitores sem a necessidade de marqueteiros contratados a peso de ouro e efeitos espetaculosos na propaganda de TV.

Se o debate programático ainda deixa a desejar, não é por falta de verbas. A disputa presidencial de 2014, aliás, indica que a dinheirama mais se destinava a iludir do que a esclarecer o eleitorado.

A chapa vitoriosa de Dilma Rousseff (PT) e Michel Temer (MDB) declarou, na época, mais de R$ 300 milhões em arrecadação oficial. Agora, o petista Fernando Haddad teve pouco menos de R$ 50 milhões no primeiro turno; seu adversário, Jair Bolsonaro (PSL), não chegou aos R$ 2 milhões.

Velhas fragilidades da educação no novo índice do Banco Mundial: Editorial | Valor Econômico

Em recente artigo no Financial Times, o presidente do Banco Mundial, Jim Yong Kim, escreveu que os governos geralmente preferem construir rodovias, pontes e aeroportos a investir em treinamento de professores e em atendimento à saúde, o que também beneficia a população. Médico que trabalhou em projetos de apoio humanitário antes de assumir o Banco Mundial, Kim conclui que os frutos político e econômico da construção de uma obra de infraestrutura podem ser colhidos mais rapidamente, enquanto o impacto positivo do investimento em capital humano pode "levar anos ou mesmo décadas para se tornar aparente". No entanto, adverte, a disponibilidade de capital humano de um país tem estreita correlação com o crescimento econômico, ligação que deve se aprofundar no futuro cada vez mais digital.

A conclusão de Kim é que promover o desenvolvimento do capital humano é, portanto, urgente. Com o objetivo de oferecer um instrumento de partida para a tarefa, o Banco Mundial elaborou um Índice de Capital Humano (ICH), divulgado na reunião conjunta com o Fundo Monetário Internacional (FMI), na semana passada. A ideia é que, ao poder comparar sua posição com a de vizinhos ou concorrentes, o governo de cada país possa trabalhar para superar os pontos fracos da formação de sua população, providência tão importante quanto a solução dos problemas fiscais e econômicos.

Cesaria Evora & Marisa Monte - É doce morrer no mar

Carlos Drummond de Andrade: Entre o ser e as coisas

Onda e amor, onde amor, ando indagando
ao largo vento e à rocha imperativa,
e a tudo me arremesso, nesse quando
amanhece frescor de coisa viva.

As almas, não, as almas vão pairando,
e, esquecendo a lição que já se esquiva,
tornam amor humor, e vago e brando
o que é de natureza corrosiva.

N'água e na pedra amor deixa gravados
seus hieróglifos e mensagens, suas
verdades mais secretas e mais nuas.

E nem os elementos encantados
sabem do amor que os punge e que é, pungindo,
uma fogueira a arder no dia findo.