sábado, 3 de outubro de 2009

Encontro com Micheletti divide os brasileiros

DEU EM O GLOBO

Dois deputados se recusaram a participar do encontro

TEGUCIGALPA. Contrariando todo o esforço político e diplomático de Brasília para isolar e deslegitimar o governo interino de Honduras, parte da comissão de deputados brasileiros que esteve em Tegucigalpa se encontrou quinta-feira à noite com o presidente Roberto Micheletti.

O encontro não constava da agenda dos deputados e provocou um racha na comissão. Entre os que participaram do encontro, regado a vinho branco, canapés e sorrisos, com o presidente interino estava o líder do PT na Câmara, Maurício Rands (PT-PE). Tanto os deputados quanto Micheletti disseram que a visita não significa o reconhecimento do governo interino.

Além do líder petista, participaram Raul Jungmann (PPS-PE), Bruno Araújo (PSDB-PE) e Claudio Cajado (DEM-BA). Ivan Valente (PSOL-SP) e Janete Pietá (PT-SP) não foram à reunião. Para eles, qualquer forma de diálogo com o governo interino poderia ser interpretada como um reconhecimento por parte das autoridades brasileiras. Segundo testemunhas, houve uma séria discussão entre os integrantes da comitiva antes da reunião.

— É uma comissão da oposição — disse Jungmann ao presidente interino.

Da parte hondurenha participaram Micheletti, a vicechanceler Marta Alvarado, que também não escondia os sorrisos de satisfação, e assessores de segundo escalão.

A forma como o governo encarou o encontro estava explícita logo na entrada na Chancelaria, onde uma surrada bandeira brasileira, fora do padrão, foi colocada ao lado da hondurenha.

Quando foi permitida a entrada de jornalistas, Micheletti e os deputados conversavam animadamente sobre futebol.

“Onde está o lulista?”, perguntou Micheletti Na saída, Micheletti e Alvarado posaram para fotos ao lado dos deputados. Preocupado com a possível ausência do líder do PT, Micheletti perguntou: — Onde está o lulista? Segundo Jungmann, o encontro teria sido combinado na última hora. Os deputados anunciaram que Micheletti prometeu religar os telefones fixos da embaixada, cortados desde o dia 21, além da liberação do diplomata brasileiro Lineu Pupo de Paula para entrar e sair da representação brasileira e da suspensão do ultimato de dez dias para que o Brasil definisse o status diplomático de Zelaya.

Ambos os lados negaram que a visita represente um reconhecimento formal. Segundo Rands, o objetivo foi garantir proteção à embaixada. O presidente Lula, correligionário de Rands, disse que não dialoga com “o governo golpista” de Micheletti.

Depois dos parlamentares brasileiros, Micheletti se reuniu ontem com uma delegação de legisladores americanos, do Partido Republicano. A viagem contraria a política da Casa Branca de não reconhecer o governo interino hondurenho. (R.G.)

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