Primeira prévia do IGP-M de maio aponta inflação de 0,70%, ante alta de 0,55% em abril. De acordo com o economista Heron do Carmo, os últimos índices colocam o governo emuma sinuca de bico, por obrigá-lo a agir contra a alta dos preços sem desacelerar a economia — o que prejudicaria o governo nas eleições de 2012. A inflação em alta tem reflexos também sobre inadimplência, que cresceu pelo segundo mês, porque despesas básicas aumentaram, comprometendo a renda.
Inflação crescente pede ação rápida do governo
Expectativa é que medidas fujam do nível macroprudencial e não se restrinjam apenas ao aumento da taxa de juro
Ruy Barata Neto e Cláudia Bredarioli
Com mais um índice de inflação divulgado ontem acima das expectativas do mercado — o Índice Geral de Preços do Mercado (IGP-M) subiu 0,70% na primeira prévia de maio —, é
esperado que o governo atue com mais força no controle dos preços. E isso envolverá mais altas nos juros e menos medidas macroprudenciais, que, por enquanto, mostraram apenas efeitos localizados na redução do consumo. “O Banco Central (BC) percebe que a inflação na ponta está perdendo ritmo, mas em doze meses está subindo”, diz o economista Heron do Carmo, presidente do Conselho Regional de Economia de São Paulo (Corecon-SP). Segundo ele, o BC se encontra em uma “sinuca de bico”, visto que precisa lidar com dois problemas: o
primeiro é agir preventivamente para evitar qualquer possibilidade de choque nos preços neste ano; o outro é controlar as expectativas do mercado emtorno da alta, longe do centro da meta, da inflação em doze meses. Nos cálculos do economista, o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), que em abril chegou a 6,51%, deve atingir 7,18% em agosto.
“Seria omomento ideal para o governo tomar alguma medida para controlar os ânimos do mercado”, diz Heron. “Uma possibilidade seria o anúncio de trabalhar com superávit primário de 3,5%ou de antecipar o déficit zero [anunciado por Dilma Rousseff para 2014] já em 2012.” Para o economista, se o governo não fizer nada, ou o Banco Central adotar apenas um forte ajuste de juros como recurso de controle inflacionário, há grande chance de uma nova depreciação na taxa de câmbio. “O problema de medidas assim é que isso traria desaceleração da economia, o que seria um fator negativo considerando as eleições de 2012. Se nada for fei-to agora, o governo pode perder nas urnas”, afirma.
Luz amarela
A variação de 0,70% da primeira prévia do IGP-M em maio foi sobre alta de 0,55% de abril, conforme informou a Fundação Getúlio Vargas (FGV) ontem. Inserido no cálculo do IGP, o Índice de Preços ao Produtor Amplo (IPA) aumentou 0,60%, ante 0,63% na taxa anterior. Isso porque, apesar de pequena oscilação negativa (de 0,2%) no IPA agrícola, o IPA industrial registrou alta de 0,83%. “O dado do IGP-M reforça que o ambiente de curto prazo para a inflação não é tranquilo”, diz Silvio Campos Neto, analista econômico da Tendências Consultoria. Ele reforça que agora a expectativa gira em torno da continuidade da ação do governo na contenção dos preços. “As medidas tiveram efeito muito localizados em alguns segmentos de crédito. Ocorre que boa parte do consumo não decorre de financiamento e o brasileiro acaba transferindo seus gastos com bens duráveis para serviços”, diz. Um sinal visto como positivo pelos analistas é que, pela primeira vez após oito semanas de alta, a projeção do mercado para o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) em2011 recuou no boletim Focus divulgado pelo Banco Central na última segunda-feira. O prognóstico para a inflação nos próximos 12 meses caiu pela segunda semana seguida, enquanto o cenário para o próximo ano foi mantido pela quinta semana. Foi a recente mudança dediscurso do Banco Central, indicando uma postura mais dura em relação à inflação, que deu espaço para que o prognóstico ara o IPCA recuasse, mostrando um mercado mais confiante na estratégia da política monetária. O próprio ministro da Fazenda, Guido Mantega, vem afirmando há várias semanas ue confia no arrefecimento dos índices que medem o custo de vida no país.
FONTE: BRASIL ECONÔMICO
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