Perda de dinamismo da economia brasileira com a crise externa torna difícil alcançar objetivo traçado pelo governo
Bancos e consultorias dizem que recuperação só deverá ganhar impulso na segunda metade do próximo ano
Mariana Carneiro, Mariana Schreiber
SÃO PAULO - A perda de dinamismo da economia brasileira neste fim de ano deve contaminar seu desempenho em 2012 e atrapalhar os planos da presidente Dilma Rousseff para fazer o país voltar a crescer a uma taxa próxima de 5% ao ano.
A anemia do setor industrial no início do quarto trimestre, revelada na semana passada pelo IBGE, reforçou o diagnóstico de que a economia caminha lentamente.
O retrato oficial do que ocorreu com a economia no terceiro trimestre será conhecido amanhã, quando o IBGE divulga o PIB (Produto Interno Bruto) do período. Projeção do Banco Central sugere que houve contração de 0,3% entre julho e setembro.
Para o quarto trimestre, instituições como a consultoria LCA projetam resultado próximo de zero. Outras, como o banco Itaú, estão revendo suas previsões.
"Não quero exagerar nas cores, mas não se pode afastar totalmente o risco de uma recessão técnica [dois trimestres seguidos de contração]", diz o economista Marcelo Carvalho, do banco BNP Paribas.
O resultado ruim neste fim de ano pode retardar uma recuperação mais forte para o segundo semestre de 2012.
"Como a economia termina 2011 mais fraca do que começou o ano, ela começa 2012 em um patamar relativamente mais deprimido", explica ele. "Isso puxa para baixo a média do ano que vem".
Carvalho integra um pequeno mas crescente grupo de analistas que prevê que o país crescerá menos em 2012 do que em 2011. Ele estima que o Brasil crescerá 2,8% neste ano e 2,5% no próximo, metade da meta do governo.
A OCDE (Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico) projeta expansão de 3,4% neste ano e de 3,2% em 2012.
As ambições do governo Dilma são maiores. O ministro da Fazenda, Guido Mantega, afirmou várias vezes que trabalha para que o país cresça em média 5% ao ano entre 2012 e 2014. Seria mais do que a média dos governos Lula (4%) e FHC (2,3%).
Mas o crescimento deste ano já vai ficar bem abaixo da projeção inicial da Fazenda, de 4,5%. O principal motivo foram as medidas tomadas pelo próprio governo no início do ano para esfriar a demanda e segurar a inflação.
Depois de um ano eleitoral em que o governo botou o pé no acelerador e entregou um crescimento de 7,5%, foi preciso pisar no freio para evitar descontrole dos preços.
Na última semana, para atenuar o impacto da crise externa sobre o país, o governo voltou a anunciar medidas para estimular o consumo.
Mas para o economista Thovan Tucakov, da LCA, os efeitos devem ser modestos.
Ele observa que a indústria tem estoques elevados, o que desestimula a produção, e que a desoneração de apenas quatro produtos (fogão, geladeira e máquinas de lavar) pode não ser suficiente.
A LCA prevê crescimento de 2,8% neste ano, com leve aumento para 3,1% no próximo. Mas, se a redução dos estoques não se confirmar, a retomada será mais demorada e a expansão em 2012, menor.
O economista-chefe do Bradesco, Octávio de Barros, está mais otimista e prevê crescimento de 3,7% em 2012.
"O impulso combinado de juros em queda, reversão de restrições ao crédito e aumento dos investimentos públicos trará impacto forte na economia."
FONTE: FOLHA DE S. PAULO
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