segunda-feira, 5 de dezembro de 2011

Dilma orienta Pimentel a explicar consultorias

Ministro alega que serviços pelos quais recebeu R$2 milhões entre 2009 e 2010 estão dentro da lei

Regina Alvarez

BRASÍLIA. O governo reagiu ontem à denúncia publicada no GLOBO de que o ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, Fernando Pimentel, recebeu R$2 milhões em serviços de consultoria entre 2009 e 2010. A presidente Dilma Rousseff recomendou a Pimentel que retornasse a Brasília ainda no domingo e se explicasse, apresentando documentos, para mostrar transparência e que não tem nada a temer. O objetivo do governo é destacar que a situação de Pimentel é diferente da situação do ex-ministro da Casa Civil Antonio Palocci, demitido por Dilma em meio à pressão para explicar a multiplicação de seu patrimônio.

- A presidenta me orientou a agir com transparência e tranquilidade. Não tenho nada a esconder, tudo que fiz foi dentro da lei - disse Pimentel.

Segundo o ministro, que recebeu O GLOBO em seu gabinete ontem à tarde em Brasília, pouco depois de chegar de Belo Horizonte, a orientação de Dilma foi a seguinte, após ler a reportagem: "Responda de forma transparente, seja objetivo e bastante explícito, mostre tudo para dirimir qualquer dúvida, porque você não tem nada a esconder, não tem nada de errado nisso".

Ele disse que seu rendimento líquido com as consultorias foi entre R$1,2 milhão e R$1,3 milhão, menos do que os R$2 milhões brutos, considerando o desconto dos impostos e os gastos administrativos da empresa. E apresentou cópias dos contratos assinados com a Federação das Indústrias de Minas Gerais (Fiemg) e com a QA Consulting, uma empresa de informática,

- Não embolsei R$2 milhões. Entrou mesmo R$1,2 milhão, R$1,3 milhão que dividido por 24 (meses) equivale a R$50 mil mensais. Estamos falando de uma remuneração absolutamente compatível com o mercado de executivos hoje no Brasil.

- Foi a forma que eu tive de ganhar dinheiro e sobreviver. Não tem nada de irregular, nada de ilegal. Foi um trabalho de consultoria com notas fiscais emitidas. Uma empresa de consultoria na qual trabalhei em 2009 e 2010 e da qual me afastei no fim de 2010 - disse.

O ministro negou que tenha influenciado o resultado de licitação na prefeitura de Belo Horizonte, para favorecer o grupo Convap, para o qual prestou consultoria em 2010, como mostrou a reportagem. Pimentel disse que, em conversa por telefone com o secretário de Obras da prefeitura, Murilo Vasconcellos, fora informado de que o consórcio do qual participa a Convap ganhou a licitação para uma das obras mencionadas na reportagem, a Via 210, mas foi desabilitado e só conseguiu assinar o contrato depois de ganhar uma liminar na Justiça.

- O governo de Marcio Lacerda é um governo de frente. Tem gente do PT, do PSB e do PSDB. Concluir que houve qualquer interferência minha nos contratos públicos é uma afirmação totalmente descabida.

Pimentel apresentou o contrato com a Fiemg, destacando que os serviços de consultoria foram prestados ao Centro de Indústrias de Minas Gerais (Ciemg) - que está explícito no documento -, o que justificaria o fato de outros integrantes da Federação terem declarado que desconheciam o trabalho prestado por Pimentel à entidade.

- Fiz uma consultoria direta à direção do Ciemg, ao Olavo e ao Robson Andrade .

Olavo Machado é ex-presidente do Ciemg e atual presidente da Fiemg. Robson Andrade é ex-presidente da Fiemg e atual presidente da Confederação Nacional da Indústria (CNI). Andrade assina os dois contratos de Pimentel com a entidade em 2009, que somam R$1 milhão.

No contrato com o Ciemg, uma das atribuições da consultoria de Pimentel é "elaborar estudos e pareceres relativos a propostas que serão apresentadas aos órgãos de gestão pública". Segundo o ministro, ele ajudou na elaboração de propostas, avaliação de programas e avaliação econômica, e todo o eixo de atuação do Ciemg teria sido influenciado pela consultoria que prestou aos dois empresários.

- Não tive contato com ninguém da Fiemg além dos dois.

Andrade confirmou as explicações de Pimentel. Quanto à consultoria contratada pela Convap, Pimentel disse que tem relações de amizade com o empresário Flávio Lima Vieira, dono do grupo ao qual a construtora pertence.

FONTE: O GLOBO

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