Pela primeira vez ex-presidente será objeto de inquérito criminal sobre o caso
Medida foi pedida pelo Ministério Público com base na afirmação de Valério de que Lula negociou repasse ao PT
Matheus Leitão, Fernando Mello
BRASÍLIA - A Procuradoria da República no Distrito Federal pediu ontem à Policia Federal a abertura de inquérito para investigar acusações feitas pelo operador do mensalão, Marcos Valério de Souza, contra o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o ex-ministro Antonio Palocci.
É primeira vez que será aberto inquérito criminal para investigar se Lula atuou no mensalão.
No processo principal do escândalo, julgado no ano passado pelo Supremo, Lula não foi investigado. Ele prestou depoimento, por ofício, apenas na condição de testemunha arrolada por diferentes réus do processo.
O pedido de abertura de inquérito tem como base depoimento de Valério à Procuradoria-Geral da República em setembro, no meio do julgamento do mensalão.
Entre outras acusações, Valério afirmou que Lula, Palocci e Miguel Horta, então presidente da Portugal Telecom, negociaram repasse de US$ 7 milhões para o PT.
Segundo pessoas com acesso ao depoimento, sob sigilo, Valério afirmou que o ex-presidente e Palocci reuniram-se com Horta no Palácio do Planalto e combinaram que uma fornecedora da Portugal Telecom em Macau, na China, transferiria o valor combinado para o PT.
O dinheiro seria usado em campanhas petistas e para pagar os deputados da base, segundo Valério. Horta também deverá ser investigado.
O depoimento foi enviado para a primeira instância já que nenhum dos citados têm foro privilegiado.
No pedido enviado ontem à PF, que é obrigada a abrir o inquérito, a Procuradoria solicitou "diligências" para averiguar até a exata data do encontro citado por Valério.
No mês passado, a Procuradoria analisou o depoimento de Valério e, a partir daí, abriu seis procedimentos criminais, além de anexar algumas das acusações a dois inquéritos já abertos.
Os seis procedimentos são preliminares e podem ou não virar inquéritos. O primeiro pedido de abertura de investigação foi feito ontem.
Condenado a 40 anos de prisão no julgamento do mensalão, Valério fez outras acusações no depoimento, como a de que Lula se beneficiou com recursos do esquema. O petista sempre negou.
Outro lado
O presidente do Instituto Lula, Paulo Okamotto, afirmou em nota que "não há nova informação em relação às publicadas há cinco meses", quando o depoimento de Valério foi remetido à primeira instância.
Advogado do ex-ministro Palocci, José Roberto Batochio chamou o depoimento de Marcos Valério de "invencionice".
Segundo ele, o próprio Horta já negou publicamente qualquer pedido de ajuda financeira ao PT. "Se houver uma investigação, será sobre algo que não ocorreu."
A Folha não conseguiu contato ontem com a Portugal Telecom.
Fonte: Folha de S. Paulo
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