João Domingos e Vera Rosa
A ida da ex-ministra Marina Silva para o PSB de Eduardo Campos surpreendeu a presidente Dilma Rousseff, a ponto de levá-la a ficar atenta ao noticiário para saber se era aquilo mesmo que estava acontecendo. A presidente e seus principais assessores na pré-campanha trabalhavam com a certeza de que a ex-ministra se abrigaria em um partido, viabilizando a candidatura. A principal aposta da presidente para o futuro de Marina, no entanto, era o PPS.
Por enquanto, ainda de acordo com informação de auxiliares da presidente, Dilma vai aguardar por novas informações da aliança entre o PSB e Marina Silva. Dependendo da reação do eleitorado nas futuras pesquisas de intenção de voto, a presidente poderá mudar ainda mais a sua imagem e adotar uma feição mais popular, Por causa da quedas nas pesquisas, em junho, Dilma decidiu investir nas entrevistas a rádios regionais e nos roteiros de inauguração de obras.
A um ano das eleições, a ideia é fazer uma ou duas viagens por semana para "bater bumbo" sobre programas do governo, principalmente aqueles voltados para os mais carentes.
A estratégia de comunicação para a campanha de 2014 foi avaliada por Dilma em jantar com o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, no dia 30 de setembro, no Palácio da Alvorada. Na ocasião, os dois analisaram cenários de disputa e o potencial de crescimento de Marina nas camadas populares e nas redes sociais.
Pesquisas qualitativas, que servem de termômetro para medir o humor dos eleitores, mostraram ao governo que a ex-ministra começou a ser apontada como "mulher do povo", "humilde" e "gente como a gente". Além disso, ela fez das redes sociais o seu maior ativo, ganhando também adesões na classe média alta.
Diante da briga midiática, Dilma decidiu reabrir, no dia 27, sua conta na rede Twitter, desativada desde o fim da campanha de 2010. A ofensiva digital foi considerada um sucesso por Lula.
Na prática, o Palácio do Planalto só passou a dar importância a Marina em junho, quando pipocaram os protestos pelo País e ela encostou em Dilma. Até então, petistas diziam que as intenções de voto na ex-senadora, que foi ministra do Meio Ambiente na gestão Lula, eram "recall" da eleição de 2010, quando obteve quase 20 milhões de votos.
O desafio é retocar a imagem de gerente, desgastada pelos percalços na economia, e combiná-la com uma fisionomia mais popular, como a que vai ar amanhã no Programa do Ratinho, do SBT. "Vou mandar um fogão para a senhora, hein?", brincou o apresentador na gravação da entrevista, na quinta-feira, quando lembrou que ela disse ter dons culinários não exercidos por falta de fogão no Alvorada.
Foi Lula quem aconselhou Dilma a aparecer em programas de TV destinados às classes D e E e também a investir com mais força nas entrevistas às rádios regionais. A essas emissoras ela vende o "peixe" do governo e geralmente não é questionada sobre denúncias ou escândalos. De quebra, consegue passar o recado para o eleitor menos interessado no jogo político e que pode se impressionar com a "sonhática" Marina.
Fonte: O Estado de S. Paulo
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