• Partido aprova por unanimidade projeto de reeleição em encontro nacional em São Paulo; ex-presidente cobra mais discursos da sucessora e de seus auxiliares e afirma que os petistas precisam 'reconstruir' sua imagem
Ricardo Galhardo - O Estado de S. Paulo
O PT usou a abertura de seu 14.º Encontro Nacional nesta sexta-feira, 2, para ratificar o nome de Dilma Rousseff como pré-candidata do partido nas eleições de outubro. O presidente do partido, Rui Falcão, perguntou aos 800 delegados e aos cerca de 2 mil convidados que compareceram ao Anhembi, na zona norte de São Paulo, se concordavam com o projeto reeleitoral. O apoio foi unânime. O ato foi uma forma de tentar dissipar o coro do "volta, Lula".
"Recebo essa missão honrosa que é ser pré-candidata do PT à Presidência", discursou Dilma, que atacou a oposição. "Tem gente achando que é melhor voltar ao passado. São poucos, mas eles tem amigos e falam muito. Nós somos muitos e temos que falar muito mais", afirmou a presidente, referindo-se à fala de minutos antes de seu padrinho político e antecessor, Luiz Inácio Lula da Silva.
Lula, ao falar no encontro, havia cobrado mais ação de Dilma. "Acho que os trabalhadores estavam precisando ouvir um discurso daquele e que o PT precisava daquele discurso. Portanto, querida, faça mais", disse o ex-presidente, dirigindo-se à sucessora.
Ele se referia ao pronunciamento de Dilma feito na quarta-feira em razão do Dia do Trabalho. A presidente anunciou um pacote que incluiu aumento do Bolsa Família e desoneração de imposto para a classe média. Também criticou a oposição, que segundo ela aposta no "quanto pior, melhor".
"Se você reunir seu ministério, vai ver que 80% não sabe 30% que o governo fez. Se eles não sabem, o povo também não sabe. A gente não está dando uma ferramenta de trabalho para este povo defender a gestão", disse Lula à afilhada política diante da plateia petista.
O ex-presidente também falou em reconstruir o PT, fazendo referência indireta a escândalos envolvendo integrantes do partido. "A gente não pode compactuar com uma pessoa que, em nome do partido, com mandato do partido, saque coisas em nome pessoal. Precisamos fazer uma reconstrução da imagem do PT. É um desafio tão importante e grande quanto eleger a Dilma porque. Criamos o partido para ser diferente de tudo que existia. A gente não tinha panfleto para fazer campanha e hoje parece que o dinheiro resolve tudo."
Aliados. O PT levou aliados para tentar reforçar que o "volta, Lula" é residual. O PR, partido governista, chegou a fazer coro nos últimos dias para que o ex-presidente substituísse a atual mandatária. A legenda não teve representantes na mesa do encontro da noite desta sexta-feira. Outras siglas aliadas, como o PSD e o PTB, por exemplo, estavam no encontro e confirmaram seu apoio à presidente, que entrou no auditório do Anhembi ao lado de Lula, sob gritos dos delegados e convidados: "1,2,3, é Dilma outra vez".
Além de dizer que a presidente vai para a reeleição, Lula fez mistério quanto a uma possível volta à disputa pelo Planalto daqui a quatro anos. "Eles (os opositores) pensam: a Dilma ganha agora e depois o Lula vai querer voltar em 2018. Quantos anos o PT vai ficar no governo?", discursou.
Mais cedo, enquanto os petistas discutiam acréscimos e mudanças nos textos "Tática Eleitoral e Política de Alianças" e "Diretrizes do Programa de Governo", que serão aprovados neste sábado, Dilma estava reunida com Lula para definir o formato da equipe e o modelo da campanha presidencial.
O primeiro evento no qual Lula falou claramente que Dilma seria candidata à reeleição ocorreu em fevereiro de 2013. Em discurso durante a festa de aniversário do PT, o ex-presidente afirmou que a reeleição de Dilma seria "uma resposta" às críticas da oposição – a época, o senador Aécio Neves, pré-candidato tucano ao Planalto, havia realizado um discurso no Senado apontando os 13 "fracassos" da administração de Dilma. Naquela época, o "volta, Lula" já permeava as conversas petistas.
Críticas. Apesar da aparente unidade em torno do nome de Dilma, o encontro petista foi palco para críticas ao modo como a presidente faz política no comando do País. Nas várias reuniões paralelas ao evento principal, dirigentes estaduais reclamaram da indisponibilidade de datas na agenda de Dilma para atos políticos em suas regiões.
Romênio Pereira, do Movimento PT, corrente com forte presença em Minas Gerais, reclamou também da hegemonia paulista na coordenação da campanha à reeleição. "É uma coordenação muito paulistanizada", disse.
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