Folha de S. Paulo
Os vazamentos de sexta à noite (9) começaram a confirmar as previsões mais apocalípticas sobre a delação da Odebrecht. Estamos diante de um tsunami de proporções inéditas, com potencial para varrer os principais partidos e pré-candidatos à Presidência em 2018.
A primeira onda quebrou com força sobre o atual inquilino do Planalto. O delator Cláudio Melo Filho afirma que Michel Temer pediu "direta e pessoalmente", em jantar no Palácio do Jaburu, que Marcelo Odebrecht repassasse R$ 10 milhões para as campanhas do PMDB em 2014.
Ex-diretor da empreiteira, ele diz que a distribuição dos recursos foi organizada pelo ministro Eliseu Padilha, a quem chama de "preposto" do presidente. Segundo o relato, parte da bolada foi entregue em dinheiro vivo no escritório de José Yunes, amigo e assessor de Temer.
O delator também cita repasses e apelidos de outros caciques do PMDB, como Moreira Franco (o "Angorá"), Romero Jucá ("Caju"), Renan Calheiros ("Justiça") e Eunício Oliveira ("Índio"). O presidente da Câmara, Rodrigo Maia ("Botafogo"), é a velha novidade do pacote.
Ao atingir o Planalto, o tsunami encontra um presidente impopular e emparedado pela própria base, incapaz até de nomear um ministro que escolheu. Para seu consolo, tucanos e petistas também estão com água no pescoço —vide as novas acusações a Alckmin e Serra e a abertura da quarta ação contra Lula.
O executivo da Odebrecht é apenas o primeiro dos 77 que fecharam acordo de delação. Diante do cenário de devastação na política e da ameaça de naufrágio do governo, a economia voltará a ser usada como pretexto para a costura de um "grande acordo nacional". Quem está prestes a se afogar fará de tudo para tentar melar o que vem por aí.
Até a semana passada, a hipótese de acordão parecia remota, já que exigiria a participação do Supremo. Depois do que a corte fez para salvar Renan, nada mais é impossível.
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