- Folha de S. Paulo
O vermelho latejante das poltronas, o tom monocórdico dos diálogos mesmo quando lancinantes, o verniz pastel das imagens na TV –tudo isso poderia estar numa novela mexicana do SBT dos anos 80, mas é o Brasil de 2017 ao vivo no subsolo do Planalto Central.
O debate sobre o futuro da nossa democracia ocorre com atraso, pois cinco oitavos do mandato em questão já se passaram, tendo como cenário um prédio, o do TSE, que custou mais do que alguns estádios da Copa.
O espetáculo no tribunal soa tão pouco moderno quanto a sessão que levou ao impeachment de Dilma, com deputados esperando a vez de falar barbaridades ao microfone.
Na outrora sexta maior economia do mundo, a recessão parece finalmente começar a acabar, mas a ressaca da depressão moral se faz presente em pontadas intermináveis.
A longa novela política não para de dragar energia para si própria, e o cansaço mostra seus sintomas. Aparece tanto nos cochilos e cadeiras vazias no plenário da corte quanto na baixa vibração das redes sociais com o julgamento de Temer a despeito de todas as evidências contra ele.
Pudera, trata-se de um país que já pensou poder fazer 50 anos em 5, já se iludiu pelo milagre econômico, já se enganou com o caçador de marajás, já se acreditou moderninho nos anos tucanos e já mergulhou no pré-sal e em outras commodities.
Talvez um dia, assistindo a algum documentário sobre os últimos meses, tenhamos aquela mesma sensação ruim que aflora ao ver a penumbra nas fotos da missa negra do AI-5, em 1968. Parece que o passado aqui passa mais devagar.
Na trilogia "De Volta para o Futuro", o carro-máquina-do-tempo faz as pessoas suspeitarem que no futuro podem acabar virando alguma espécie de idiotas. A DeLorean brasileira pegou um enredo pior ainda, o da "Caverna do Dragão", aquele desenho em que no final o pesadelo sempre começa de novo.
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