domingo, 24 de dezembro de 2017

Nichos realçam contrastes de eleitores de Lula e Bolsonaro

MAURO PAULINO
DIRETOR GERAL DO DATAFOLHA
ALESSANDRO JANONI
DIRETOR DE PESQUISAS DO DATAFOLHA

Se você conseguisse reunir o Brasil na sua rua e abordasse jovens brancos, do sexo masculino, com pelo menos o ensino médio, teria grande probabilidade de encontrar um eleitor de Jair Bolsonaro (56% para o primeiro turno e 66% para o segundo).

No entanto, se sua atenção fosse direcionada a mulheres, com mais de 44 anos, não brancas, e com o nível fundamental de escolaridade, a possibilidade de alcançar uma lulista seria bem maior (54% para o primeiro turno e 73% para o segundo).

Já se você mora no Nordeste, desconsiderando sexo e idade e mantendo apenas o filtro de baixa escolaridade, suas chances de encontrar um eleitor do ex-presidente vão a 68% logo no primeiro turno.

Esses são os principais resultados de uma análise estatística multivariada feita pelo Datafolha sobre a base de dados da última pesquisa nacional de intenção de voto, com o objetivo de identificar nichos da população brasileira em que são observados altas concentrações de eleitores dos dois principais pré-candidatos à Presidência até o momento.

VARIÁVEIS
Foram contempladas no modelo todas as variáveis socioeconômicas e demográficas do levantamento.

Apesar de pouco peso quantitativo desses subconjuntos na composição total do eleitorado, algumas de suas características e valores apontam para importante potencial de influência no processo de formação do voto.

O grupo de garotos brancos escolarizados corresponde a apenas 4% da população, mas todos têm conta em redes sociais e 81% fazem uso delas para acompanhar política e notícias sobre as eleições.

As senhoras não brancas de baixa escolaridade –7% do total– são, na maior parte dos casos, donas de casa e aposentadas (49%) que administram baixos orçamentos familiares. Também possuem maior conversão religiosa do que o restante dos eleitores (96%).

O desempenho de Bolsonaro é majoritário no grupo correspondente até a idade de 24 anos. Se todas as outras variáveis –de escolaridade, gênero e cor da pele– fossem mantidas e a idade passasse, por exemplo, para até 33, a intenção de voto no deputado federal (PSC-RJ) candidato cairia para 44%.

No caso de Lula, quando se exclui a região do país do modelo, outras combinações são calculadas e passam a ser determinantes, como escolaridade, idade, cor da pele e gênero.

A renda familiar mensal, por guardar alta correlação com essas varáveis, deixa de ser discriminante em ambos os casos.

Entre os garotos brancos, a maioria mora no Sudeste e tem renda familiar acima da média da população. A taxa dos que dizem não ter partido de preferência e dos que rejeitam Lula também é mais alta do que a observada no total do país.

PROBLEMAS DO BRASIL
Como principal problema do Brasil, destacam, mais do que outros segmentos, a educação, a economia e a corrupção. Quando Bolsonaro não está no segundo turno, a maioria opta pelo governador de São Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB), ou Marina Silva (Rede).

O grupo das mulheres mais velhas e de pouca escolaridade concentra-se acima da média no Nordeste. A grande maioria (72%) possui renda familiar mensal de até dois salários mínimos.

Menções ao desemprego como principal problema do Brasil são muito mais frequentes do que no resto da população, assim como a percepção de que as situações econômicas, tanto do país quanto a pessoal, pioraram nos últimos meses.

Quando Lula não está na disputa presidencial, distribuem-se principalmente entre Marina, votos brancos e nulos. Bolsonaro é o candidato de menor apelo no estrato.

Mais contrastes interessantes são observados nos dois nichos quando assuntos polêmicos são abordados. Os rapazes brancos escolarizados são muito mais liberais quando se discutem aborto e maconha.

O estrato feminino mais velho, não branco e de baixa escolaridade reprova a descriminalização de ambos.

Elas, porém, não se mostram tão favoráveis à redução da maioridade penal e demonstram opinião diametralmente oposta à dos garotos quanto à posse de armas –69% delas a condenam, enquanto 66% deles a defendem.

Se contemplados na agenda eleitoral para 2018, temas correlatos exigirão adequação dos discursos de ambos os candidatos, considerando o perfil dos nichos em que atualmente têm o melhor desempenho.

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