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Sem máscara. Sem carta
Faça de conta que estamos em meados de 2003. O presidente da República empossado há menos de seis meses chama-se Luiz Inácio Lula da Silva. Neste momento, em um quartel no interior do Rio Grande do Sul, cercado por generais que o apoiam com entusiasmo, ele fala para uma grande plateia de militares e civis.
Celebra-se a passagem de mais um aniversário de Émile Louis Mallet, conhecido como Marechal Emílio Mallet, o Patrono da Artilharia do Brasil, embora tenha nascido em Dunquerque, na França, e aqui chegado com 17 anos de idade. Então, depois de exaltar as façanhas de Mallet, Lula desata a falar sobre outros assuntos.
Diz, por exemplo: “A nossa vida tem valor. Mas tem algo muito mais valoroso que nossa vida, que é nossa liberdade. Além das Forças Armadas, defendo o armamento individual para nosso povo para que tentações não passem na cabeça de governantes para assumir o poder de forma absoluta” (aplausos!).
Em seguida, Lula defende a ditadura militar instalada no país em 1964 e só revogada 21 anos depois. Durante esse período, foram torturados e mortos centenas de opositores do regime. Lula afirma que os “homens e mulheres de farda já provaram seu valor nos anos de 1960” (aplausos mais fortes!). E animado com aprovação dos que o ouvem, provoca:
– Precisamos, mais que do Parlamento, do povo ao nosso lado para que possamos impor uma política que reflita em paz e alegria para todos nós. (aplausos. Ouvem-se gritos de “Lula, Lula, Lula”.)
Entre o aeroporto local e o quartel, Lula havia sido aclamado nas ruas por pessoas que portavam bandeiras e cartazes. Ele fez questão de apertar mãos e de abraçar crianças. Um homem entregou-lhe um boneco com a cara de José Serra, o candidato derrotado por Lula na eleição recente. Lula estapeou o boneco e arremessou-o longe.
Lula não explicou a associação que fez entre o porte ou posse de armas por civis e uma eventual resistência a governos autoritários. O que ele mesmo quis dizer com aquilo? Uma vez armados, civis deveriam se organizar para resistir a governantes que ousassem assumir o poder “de forma absoluta”? Foi este o sonho da esquerda nos anos 60.
Quanto ao que disse sobre apoio do povo e apoio do Congresso: Lula gostaria de governar dirigindo-se diretamente às massas, contando com sua adesão, se necessário dispensado o Congresso da tarefa de representá-las. Ele e as massas certamente saberiam impor uma política que resultasse “em paz e alegria para todos”.
De Lula, estivéssemos em 2003 e fosse ele o presidente, certamente diríamos que tirara a máscara do Lulinha Paz e Amor, rasgara a Carta aos Brasileiros onde prometera governar como um liberal, e se revelara o que de fato é – um extremista de esquerda, sem compromisso com a democracia, e disposto, se for o caso, a torpedeá-la.
Como estamos em 2019, o presidente se chama Jair Messias Bolsonaro, e ele não precisou de máscara e de carta para se eleger, não poderemos dizer que fomos enganados.
O pavão do Planalto
Capitão de bola cheia
“Ninguém governa governador”, ensinou Agamenon Magalhães, duas vezes governador de Pernambuco na primeira metade do século passado e quatro vezes deputado federal.
Se governador não é governável, quanto mais presidente da República. Em uma semana, Bolsonaro demitiu um dos seus ministros militares e o presidente do maior banco de investimentos.
Por tabela, enfraqueceu a ala militar do seu governo e aquele a quem chamou um dia de seu Posto Ipiranga, o antes todo poderoso ministro Paulo Guedes, da Economia.
Não precisou enfraquecer o enrolado ministro Sérgio Moro, da Justiça e Segurança Pública. Moro enfraqueceu-se sozinho, e hoje é refém de Bolsonaro se quiser sucedê-lo ou voltar a vestir a toga.
Se não bastasse, deu uma encarada no Supremo Tribunal Federal ao censurá-lo por ter criminalizado a homofobia, e no Congresso ao dizer que precisa mais do apoio do povo do que do apoio dele.
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