- O Globo
O sequestro na Ponte Rio-Niterói terminou com a libertação de todos os reféns. Ponto para a polícia, não para o político que buscou faturar com o episódio
Wilson Witzel vibrou, ergueu os punhos, deu pulinhos diante das câmeras. O governador era só euforia ao descer do helicóptero na Ponte Rio-Niterói.
Ele parecia comemorar um gol no Maracanã, mas estava chegando ao local demais uma tragédia carioca.
Não há o que festejar num sequestro que termina em morte, mesmo que seja ado sequestrador. OB ope agiu dentro da lei, tentou negociar uma rendição e atirou para preservar as vidas dos reféns. Ponto para a polícia, não para o político que buscou faturar com o episódio.
Witzel não se contentou em explorar o crime vivo na TV. À tarde, ele recebeu a imprensa no palácio comum a boina da tropa de elite sobre a mesa. À noite, trocou o figurino de “caveira” pelo de pastor.
Em vídeo divulgado nas redes sociais, o governador reapareceu dentro do ônibus, orientando os reféns a “colocar Jesus no coração”. Depois de três horas e meia de sequestro, as vítimas foram usadas como figurantes numa pregação eleitoreira.
O objetivo do ex-juiz é explícito. Sob pressão pelas seguidas mortes de inocentes, ele tenta capitalizar uma ação bem sucedida para virar o jogo. Ao transformar o caso de ontem em palanque, busca legitimar o discurso de incentivo ao “tiro na cabecinha”.
A operação na Ponte seguiu protocolos internacionais e mostrou que a polícia está mais preparada para enfrentar situações com reféns. Isso é bem diferente da apologia ao bangue-bangue nas favelas, que Witzel confunde com política de segurança.
Na sexta passada, o governador tentou culpar “pseudo-defensores dos direitos humanos” pelas mortes de inocentes no Estado. Em apenas cinco dias, seis jovens foram atingidos por balas perdidas em operações da PM. “Esses cadáveres não estão no meu colo, estão no colo de vocês”, ele disse, como se os críticos fossem responsáveis pela violência policial.
Enquanto Witzel posa de Capitão Nascimento, as milícias continuam a se expandir pelo Rio. Sem repressão, passaram a extorquir moradores até em condomínios de militares. Combatê-las é mais difícil que buscar aplausos pela morte de um criminoso.
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