- Folha de S. Paulo
Presidente deve dobrar aposta em comportamento conflituoso na política e na economia
O Jair Bolsonaro que surgiu de máscara nas redes não é diferente daquele que se instalou no Palácio do Planalto há pouco mais de um ano. Suas últimas reações à crise do coronavírus mostram que o presidente está disposto a dobrar a aposta num comportamento conflituoso na política e na economia.
Apesar de ter recomendado o adiamento dos protestos deste domingo (15), Bolsonaro sai da novela das manifestações cada vez mais inclinado a fazer um chamado às ruas quando quiser pressionar o Congresso.
Durante sua última transmissão ao vivo nas redes, o presidente indicou que pretende guardar esse megafone no coldre. Ele disse que a mera convocação dos protestos já foi “um tremendo recado ao Parlamento” e que uma nova manifestação poderá ser feita em “um ou dois meses”.
Embora integrantes do governo recomendem uma postura de pacificação para enfrentar os efeitos do vírus, o presidente continua apontando em sentido contrário. Na quinta (12), Bolsonaro usou a cadeia nacional de TV para fazer uma ameaça velada aos congressistas. No pronunciamento, ele avisou que “as motivações da vontade popular continuam vivas e inabaláveis”.
Líderes políticos acreditam que o presidente deve recorrer cada vez mais ao enfrentamento e à radicalização, especialmente diante das turbulências provocadas pelo coronavírus na economia. Com a expectativa de recuperação em xeque, Bolsonaro precisará animar seus apoiadores com outros confetes.
Esse cenário também deve ampliar a tentação do Planalto em se desviar do ajuste das contas públicas e abraçar medidas populistas. Quando a cotação do petróleo despencou no início da semana, o presidente se mostrou mais sensível à variação de centavos no preço da gasolina do que aos bilhões que o governo deixará de arrecadar em royalties.
Os próximos tempos poderão ser um teste definitivo para a cartilha liberal de Paulo Guedes. Tudo indica que, daqui por diante, Bolsonaro será mais Bolsonaro do que nunca.
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