- Folha de S. Paulo
Bolsonaro mente ou perde a oportunidade de ficar calado
Qual o valor da palavra de Jair Bolsonaro? Julgue você mesmo.
Ao longo da última semana, o presidente abordou quatro assuntos principais: manifestações contra o Congresso, Orçamento impositivo, fraude eleitoral e coronavírus. Em duas dessas ocasiões, Bolsonaro mentiu e, nas outras duas, deveria ter ficado quieto.
As mentiras são facilmente demonstráveis. Na quarta (11), ele disse que não convocou ninguém para as manifestações que ocorreriam neste domingo (15). Mas há um vídeo, gravado em Roraima no sábado (7), em que o presidente fala da manifestação e instrui seus simpatizantes a participarem.
Na terça (10), ele voltou a afirmar em suas redes sociais que não havia negociação entre o governo e o Parlamento em torno da verba do Orçamento disponível para investimentos. Mas há farta documentação mostrando que o governo negociou, sim, e longamente, para ter acesso a ao menos parte do dinheiro.
Passemos às oportunidades perdidas. Na segunda (9), Bolsonaro veio com a história de uma suposta fraude eleitoral que o teria impedido de vencer no primeiro turno. Aqui ele se põe na fronteira do Código Penal. Se tem mesmo provas e não as exibe, comete prevaricação; se não tem e diz que tem, só conta mais uma mentira.
É no coronavírus, porém, que Bolsonaro se supera. Enquanto a maior parte dos líderes mundiais já se decidia por medidas duras para conter a progressão da Covid-19, nosso presidente, talvez por julgar que um ser tão pequenininho como um vírus não pode causar grande mal, passou boa parte da semana denunciando um suposto exagero da mídia e dizendo que a epidemia tinha muito de fantasia. Foi só quando a doença bateu à porta de sua casa que ele passou a agir de forma menos exótica.
O discurso de governantes não costuma mesmo ser exemplo de precisão e objetividade, mas o nível de deterioração que Bolsonaro impôs à palavra presidencial impressiona.
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