sexta-feira, 19 de junho de 2020

Ricardo Noblat - Fecha-se o cerco a Bolsonaro e aos seus filhos

- Blog do Noblat | Veja

Canta, Queiroz, canta!

A acreditar-se no que já disse Jair Bolsonaro e também o seu porta-voz oficial, o general Otávio Rêgo Barros, Frederick Wassef era, sim, advogado do presidente da República pelo menos no caso da facada que Adélio Bispo lhe aplicou em Juiz de Fora.

A acreditar-se em Wassef, ele atuava em quase tudo que interessava à família Bolsonaro. A acreditar-se no que a televisão mostrou, Wassef era um assíduo frequentador do Palácio da Alvorada e de cerimônias no Palácio do Planalto. Anteontem, esteve lá.

E então? Depois de um dia de intermináveis reuniões com seus ministros mais próximos, tudo o que Bolsonaro conseguiu produzir foi a versão rejeitada pela imprensa de que Wassef não era advogado dele, no máximo do senador Flávio, vulgo Zero Um.

Mais uma fake news, com certeza. A situação estava sob controle, embora não se soubesse por quem, até que a Polícia Civil de São Paulo arrombou as portas da casa de Wassef, em Atibaia, no interior do Estado, encontrou Queiroz dormindo e prendeu-o.

Acabou com isso a farra nas redes sociais de se perguntar onde estava Queiroz. Começou outra: “Onde está Wassef?” – que também tem casa em Brasília, mas que desapareceu. Queiroz foi descoberto na pior hora possível para Bolsonaro.

Afinal, o presidente parece ter-se dado conta da gravidade do cerco judicial. De um lado, o Supremo que investiga a rede de fake news e o financiamento de manifestações de rua. Do outro, a Justiça comum que investiga as ligações da família com o crime.

Porque é isso o que persegue o Ministério Público do Rio, muito além, portanto, do esquema da rachadinha ao tempo em que Flávio era deputado. Sim, Queiroz pagava contas pessoais de Flávio com dinheiro devolvido por funcionários do seu gabinete.

Sim, parte do dinheiro foi usada por Flávio na compra de imóveis e na abertura de lojas. Mas Queiroz servia também de ponte entre a família Bolsonaro e as milícias do Rio. E era sócio do miliciano Adriano da Nóbrega, morto recentemente na Bahia.

Estranha a morte de Adriano. Na casa onde estava escondido e fortemente armado não há vestígios do intenso tiroteio que teria havido entre ele e os policiais, alguns deles de elite. Morreu com dois tiros certeiros disparados a curta distância.

A mulher de Adriano e uma de suas filhas foram empregadas de Flávio no seu gabinete. Flávio o condecorou com a mais alta honraria da Assembleia Legislativa do Rio. Queiroz, o faz tudo de Flávio, recebeu mais de R$ 400 mil de Adriano.

Por qual razão Bolsonaro e seus conselheiros dão tratos à bola para encontrar a melhor maneira de se livrarem do juiz que autorizou a prisão de Queiroz e que está à frente do processo? Bolsonaro não voltou a repetir que nada tem a ver com tudo isso, nem Flávio?

Por que Flávio já impetrou quase duas dezenas de ações na Justiça na tentativa de barrar o avanço das investigações? Isso não é comportamento de quem se acha inocente. É comportamento de quem teme ser condenado pelo que fez.

Os Bolsonaro estrebucham na maca. A reação nas redes sociais dos seus devotos foi de silêncio diante da prisão de Queiroz. Carlos, vulgo Zero Dois, deve ter-se reunido com o gabinete do ódio para providenciar com urgência uma narrativa sobre o que acontece.

Desde já é bom pensar sobre o que dirá se Queiroz ceder à tentação de negociar uma delação premiada. A mulher dele, foragida, pode ser presa a qualquer momento. Ou entregar-se para ser presa. Uma filha de Queiroz pode ser chamada a depor.

A história da Operação Lava Jato ensina que a maioria dos passarinhos, engaiolada por certo tempo, acaba cantando. E canta bonito. Com a família metida na confusão, o canto não costuma demorar. Os Bolsonaro tudo farão por Queiroz livre.

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