O Estado de S. Paulo
Convido a imaginar, desde já, o Brasil que
queremos ter. O futuro é logo ali!
Estamos em janeiro de 2023. O Brasil
comemora a eleição do novo governo e o programa coeso apresentado para o País.
Surge uma oportunidade real para retomarmos a tendência histórica de melhoria
das condições sociais. Há espaço para discutir a ampliação da igualdade de
oportunidades por meio do crescimento econômico e da atuação eficiente do
Estado.
A redução da pobreza, o fortalecimento do
Sistema Único de Saúde (SUS), a preservação da Amazônia, a reinserção do Brasil
no mundo, a educação de qualidade para todos, o aumento dos investimentos, a
garantia dos direitos humanos, a reforma do aparelho do Estado, a simplificação
do sistema tributário e a responsabilidade com as contas públicas são as bases
do novo discurso oficial.
O desafio é enorme em todas as áreas. A
desigualdade social e a dinâmica medíocre de aumento do produto interno bruto
(PIB) per capita precisam ser transpostas. Há muito por fazer.
Uma premissa central do governo eleito vem das ideias de John Rawls, importante filósofo falecido em 2002. Ele defendia a tese de que, sob um “véu de ignorância”, as pessoas jamais desejariam políticas públicas concentradoras de renda, que excluíssem os setores menos favorecidos. A ideia é instigante: se você não soubesse em que família nasceria, com qual situação financeira, em que região geográfica, com quais capacidades biológicas, almejaria ter condições mínimas de igualdade.
Na mesma linha, o economista Amartya Sen,
Prêmio Nobel de Economia, defende a chamada igualdade de oportunidades. Sen
mostra que para ter uma sociedade economicamente desenvolvida e socialmente
justa o Estado precisa garantir o acesso equitativo às políticas públicas de
educação, emprego, renda, saúde, etc.
No programa do governo eleito lê-se que o
Brasil avançou muito com a Constituição cidadã, desde 1988. Os direitos sociais
foram expandidos e tornaram-se obrigação do Estado, assim como a busca pela
transparência e pela impessoalidade no processo orçamentário. A promessa é
resgatar esses princípios norteadores e elaborar políticas que lhes atendam de
maneira eficiente.
Na economia, o programa mostra que o Brasil
conquistou certo espaço na cena internacional nos anos 1990 e na primeira
década dos 2000, e ampliou suas vantagens comparativas na exportação de produtos
primários. No entanto, não superou, mesmo nos melhores momentos, o desafio de
expandir permanentemente suas taxas de crescimento.
O governo eleito para comandar o País de
2023 a 2026 parece ter percebido que a saída para a economia passa por uma
combinação de políticas. De um lado, zelar pela responsabilidade fiscal, pelo
equilíbrio da dívida pública em relação ao PIB, pela transparência no processo
orçamentário, pela qualidade do gasto público e pela manutenção do controle
inflacionário. De outro, abrir espaço orçamentário para políticas de incentivo
– desde que bem desenhadas e avaliadas – em momentos de alto desemprego e
elevada ociosidade na economia.
Também estão no plano de governo a abertura
comercial, o aumento da competitividade e a busca de acordos que favoreçam o
setor produtivo nacional. O acordo entre o Mercosul e a União Europeia tem
grandes chances de prosperar, finalmente, a partir do compromisso efetivo do
Brasil com a preservação da Amazônia e de políticas ambientais responsáveis.
A reforma do Estado começa a ser discutida
a sério: busca-se a eficiência na provisão de serviços públicos, a valorização
da burocracia estatal e a adoção das práticas de gestão e de remuneração por
resultados. Preconiza-se a adoção de um sistema de avaliação de políticas
públicas, com planos pilotos para testar novas ideias e evitar o desperdício de
dinheiro público.
O plano de governo é acompanhado de
estimativas para o espaço orçamentário nos próximos anos. Traz simulações para
o ganho derivado da extinção de políticas ineficientes, a exemplo de certos
incentivos tributários carregados por décadas nas contas públicas. Contém,
ainda, cálculo minucioso para uma proposta de reforma tributária com dois
objetivos: simplificação e redução da regressividade.
Na área social, pretende-se ampliar o Bolsa
Família por meio de programa de renda básica, mas unificando programas que
deram pouco resultado e nunca foram avaliados a contento. Na educação, a
ministra anunciada é experiente, conhece o setor como ninguém, tem ciência dos
avanços do passado e apresentou uma lista de prioridades para sua pasta.
Na saúde, o programa proposto considera que
a população brasileira está envelhecendo e a demanda por serviços do SUS
crescerá. Abre-se espaço orçamentário para isso em três frentes: aumento de
receitas, corte de gastos e realocação de recursos.
Parece um sonho, não é? Depois do horror, da incompetência, da falta de sensibilidade social das hostes oficiais, da crise pandêmica, do luto não vivido, do luto evitável, da tristeza geral destes anos, poderemos ter um novo horizonte. Convido-os a imaginar, desde já, o Brasil que queremos ter a partir de 2023. O futuro é logo ali!
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