Ao menos 10 Estados têm governadores em 2º mandato, que podem deixar cargo para vices de partidos diferentes
Pedro Venceslau | O Estado de S. Paulo
Os candidatos à Presidência no ano que vem
poderão encontrar uma configuração diferente do atual cenário de palanques
regionais. Em ao menos 10 Estados os atuais governadores estão no segundo
mandato e, como não podem tentar a reeleição, deverão se desincompatibilizar em
abril se quiserem concorrer a um novo cargo.
Caso isso aconteça, eles deixariam o comando das máquinas públicas estaduais nas mãos de vices de partidos e alinhamento eleitoral diferentes do titular. Na prática, portanto, os mandatos ‘tampão’ podem mexer com os acordos regionais no período da campanha eleitoral.
Dos 10 chefes de Executivo estão nessa situação, 7 deles estão no Nordeste – região estratégica na campanha presidencial, responsável por 27% dos votos na eleição de 2020, e onde candidatos do PT ao Palácio do Planalto geralmente registram maior concentração de votos.
Os governadores que optarem pela disputa
eleitoral no ano que vem terão que deixar o cargo em abril. Nem todos tratam do
tema abertamente, mas nos bastidores aliados e correligionários da maioria
deles admitem que o parlamento – Câmara ou Senado – é o caminho natural para
quem está no segundo mandato consecutivo, especialmente para os que são bem
avaliados. O único desses 10 Estados onde o vice é do mesmo partido que o
governador é o Piauí, onde Wellington
Dias (PT) vai disputar o Senado e deixar a vaga para a petista
Regina Souza.
Casos
O Estado mais emblemático é o Maranhão. O
governador Flávio Dino (PSB)
avisou que vai renunciar para disputar o Senado, e quem assumirá em seu lugar é
Carlos Brandão, do PSDB. Dino já foi tratado como presidenciável, mas hoje está
afinado com o ex-presidente Luiz Inácio
Lula da Silva (PT). Já Brandão é próximo ao governador João Doria (PSDB),
que vai disputar as prévias tucanas.
Outros Estados potencialmente problemáticos
para o PT são o Ceará e a Bahia, ambos governados pela sigla. Reeleito em
2018, Camilo
Santana ainda não definiu seu futuro, mas se decidir tentar uma
vaga de senador terá que deixar a administração nas mãos de Izolda Cela, do
PDT. “Izolda é militante nossa e vai dar palanque ao Ciro”, garantiu o
presidente nacional do PDT, Carlos Lupi.
Já na Bahia o vice de Rui Costa é João
Leão, do Progressistas, legenda do Centrão que hoje dá sustentação ao presidente Jair Bolsonaro. No plano
local, a legenda está alinhada ao mesmo tempo com Costa e o grupo de ACM Neto (DEM), que
comanda a prefeitura de Salvador. Em 2022, Neto planeja disputar o governo
estadual e deve ter o senador petista Jaques Wagner como
adversário.
“O fato de um governador apoiar um
candidato presidencial tem um peso enorme, que é a máquina. Com a caneta na
mão, o chefe do Executivo tem um espaço enorme nas administrações municipais e
capacidade de aglutinar. O governador tem muita relação com o poder local”,
avaliou o cientista político Túlio Velho, da Fundação Joaquim Nabuco.
Em Pernambuco, o governador Paulo Câmara (PSB)
não tornou pública sua decisão, mas sinalizou para aliados que vai disputar o
Senado. Nesse caso, sua vice, Luciana Santos (PCdoB)
assumiria o governo por 8 meses. O PCdoB está na órbita de Lula, mas o PSB
ainda resiste em subir no palanque do ex-presidente e mantém diálogo com Ciro Gomes.
Na cena regional, PT e PSB têm uma relação
conturbada marcada por rompimentos e atritos. “A expectativa de poder fala mais
alto e o PSB se aproxima de Lula. Mas se o partido se alinhar ao Ciro, isso
iria gerar muita tensão para Luciana Santos, se ela assumir o governo”, afirmou
o cientista político Juliano Domingues, da Universidade Católica de Pernambuco.
Sem vice
Em Alagoas, se deixar o cargo para disputar
o Senado, Renan Filho (MDB)
será substituído pelo presidente da Assembleia Legislativa, Marcelo Vitor (SD),
porque em 2020, o vice-governador, Luciano Barbosa, foi eleito prefeito de
Arapiraca. Assim, o filho do relator da CPI da Covid no Senado deixaria o governo
para um deputado ligado ao presidente da Câmara, Arthur Lira (Progressistas-AL),
aliado do presidente Jair Bolsonaro.
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