Folha de S. Paulo
Ex-presidente ainda quer Alckmin para
neutralizar discurso antipetista, mas tenta preservar bases
Lula abriu os braços para personagens de
campos políticos opostos na última semana. Num canto, o petista reconheceu o
avanço de suas negociações com Geraldo Alckmin e repetiu o interesse em ter o
ex-tucano como candidato a vice. De outro lado, ele enviou uma mensagem ao
Movimento dos Trabalhadores Sem-Teto e prometeu dar
protagonismo ao grupo se vencer a eleição.
Esses dois aliados de Lula são mais do que tímidos adversários políticos. Guilherme Boulos (PSOL), líder do MTST, já acusou Alckmin de cometer uma barbárie ao ordenar a remoção da comunidade do Pinheirinho, no interior de São Paulo. O ex-governador, por sua vez, se referiu ao psolista como um "desocupado" num debate presidencial de 2018.
Até aqui, Lula deu poucos sinais de como
deve administrar atritos na coalizão que ele pretende montar para a disputa
deste ano. O petista acredita que a chave para a eleição é uma aliança com
gente que pensa diferente, mas essa tarefa também apresenta alguns desafios.
O aceno ao MTST veio na esteira de
uma insatisfação
persistente em parte da esquerda com o enlace entre Lula e Alckmin.
Ainda que descartem a possibilidade de perda de apoio de movimentos sociais
desse campo, dirigentes do PT querem mantê-los mobilizados durante a disputa e
evitar a imagem de um futuro governo engolido pelos interesses da
centro-direita.
Há efeitos colaterais nesse movimento. Os
principais oponentes de Lula enxergaram no gesto aos sem-teto uma brecha para
despertar um sentimento antiesquerdista no eleitorado. O
deputado Eduardo Bolsonaro aproveitou a deixa e tentou vincular o
ex-presidente ao que chamou de "conflito" e desrespeito à propriedade
privada.
Repetir uma onda de rejeição à esquerda é a
principal arma do bolsonarismo para recuperar terreno até a próxima eleição.
Lula busca um ponto de equilíbrio. Para o ex-presidente, a campanha só
funcionará se preservar uma base com Boulos e chegar aos simpatizantes de
Alckmin.
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