O Globo
Na posse da nova diretoria da Academia
Brasileira de Letras (ABL), sexta-feira, enumerei alguns compromissos da
principal instituição cultural do país, que passo a enumerar:
Diversidade
“Nos últimos meses procuramos espelhar mais a diversidade brasileira ao
escolher os substitutos para as cadeiras vagas. Renovamos nossa crença no
empoderamento feminino elegendo a atriz Fernanda Montenegro, ícone da cultura
brasileira e representante do teatro que já deu à ABL, entre outros, o crítico
Sábato Magaldi e o dramaturgo Dias Gomes, cujo centenário comemoramos este ano.
Em Gilberto Gil celebramos a poesia e a identidade afrobrasileira, que sempre
esteve presente na Academia, desde o fundador Machado de Assis até o recente
presidente Domicio Proença Filho e grandes negros do mundo da cultura
brasileira, como Evaristo de Moraes Filho, Octavio Mangabeira e José do
Patrocínio, entre outros. Num momento em que a ciência nunca foi tão necessária
e ao mesmo tempo tão negligenciada pelas autoridades, elegemos o neurocirurgião
Paulo Niemeyer Filho, seguindo uma tradição de ter entre nós grandes médicos
como Oswaldo Cruz, Carlos Chagas Filho e mais recentemente Ivo Pitangui. A
visão humanística de José Paulo Cavalcanti, jurista e escritor, especialista em
Fernando Pessoa, e a visão modernizadora do economista, filósofo e escritor
Eduardo Giannetti da Fonseca foram as duas recentes homenagens feitas à
diversidade cultural do país, um pernambucano de raiz, o outro mineiro, com
atuação a partir de São Paulo”.
Representação
“De acordo com seu estatuto, legado pela primeira diretoria que tinha Machado
de Assis e Joaquim Nabuco, entre outros, a Academia Brasileira de Letras tem
que ter, para possibilitar seu funcionamento, um mínimo de 60% de membros que
residam no Rio de Janeiro. Isso não quer dizer que nossa representação regional
seja limitada. Temos cariocas, pernambucanos, mineiros, paulistas, maranhenses,
capixabas, paraibanos, gaúchos, baianos, potiguares. E até uma carioquíssima
espanhola, a secretária-geral Nélida Piñon que acaba de receber seu título de
cidadã espanhola.”
Futuro
"Falar de uma instituição de 125 anos como a Academia Brasileira de Letras
é necessariamente falar menos do passado e mais do seu futuro, que seguirá seu
curso histórico como bastião da cultura brasileira, especialmente em tempos
difíceis em que é preciso persistir para cumprir seu destino de distribuir conhecimento,
valorizar a língua e a literatura nacional, sem abrir mão de compromissos
sociais há muito inseridos na nossa história”. “Tempos de pandemia que limitou
nossas atividades, mas não nossa firme decisão de permanecer como defensores da
liberdade de expressão, contrários a qualquer espécie de censura, em busca da
difusão da literatura nos locais mais ermos do país, abandonados pelo poder
público, seja por descaso ou intenção, como os presídios, as aldeias indígenas,
as comunidades carentes. Dar livros para os desassistidos é o mesmo que dar pão
para os que têm fome, e por isso uma das ações mais simbólicas do modo de
pensar e agir da Academia Brasileira de Letras foi instituída pela gestão
anterior, presidida por nosso confrade Marco Luchesi. Entregamos livros junto
com cestas de alimentos básicos para os afetados pelo desemprego, pela crise
financeira que abala nosso país”.
Elitismo
“A Academia Brasileira de Letras se recusa a ser um local elitista na acepção
vulgar da palavra, mas representa, sim, uma elite cultural que partilha com os
cidadãos sentimentos de diversidade e inclusão”.
Concórdia
“(…) a Academia Brasileira de Letras não é a Casa do não, é a Casa do sim, a
Casa da aproximação, da concórdia. A Casa do entendimento. A Casa que sabe que
a cultura ajuda a fortalecer uma Nação. Esperamos que essa nova quadra das
nossas vidas seja o tempo da reconstrução”.
Homenagem
“O olho do homem serve de fotografia ao invisível, como o ouvido serve de
eco ao silêncio” (Machado de Assis, em Esaú e Jacó).
Meu amigo Orlando Brito, o maior fotógrafo da política brasileira, morreu na
sexta-feira pela manhã, no mesmo dia da posse da diretoria da ABL. Não pude ir
a seu enterro em Brasília. Mas ele estava comigo na solenidade, e estará sempre
na minha memória e no meu coração.
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