Senadora tenta tornar candidatura viável em meio a fragilidades suas e disputas partidárias
Joelmir Tavares / Folha de S. Paulo
SÃO PAULO - Com a
desistência do ex-governador João Doria (PSDB-SP),
a senadora Simone Tebet (MDB-MS)
passa a concentrar por ora as expectativas da chamada terceira via, com os prós
e contras que o afunilamento desse campo impõe à sua pré-candidatura, hoje na
casa de 1%
das intenções de voto.
O tucano, que pontuava
em torno de 3% (empatado tecnicamente com ela), deixou a pista livre
para a então rival no consórcio PSDB, MDB e Cidadania, que tenta fabricar uma
alternativa competitiva a Luiz Inácio Lula da
Silva (PT) e Jair
Bolsonaro (PL). Juntos, os
dois detêm cerca de 70% nas pesquisas.
Aliados e auxiliares de Tebet enxergam na
saída de Doria uma oportunidade ímpar para ela, com vantagens e riscos
implícitos. A
ordem é turbinar a pré-campanha a ponto de sustentá-la como opção
viável e neutralizar a ala do PSDB que ainda quer lançar um nome como cabeça de
chapa.
Ungida pela direção dos três partidos como
a melhor opção na disputa com Doria, sobretudo pelo índice de rejeição menor, a
senadora foi diplomática ao
comentar nesta segunda-feira (23) o recuo
do tucano (a quem se referiu como colega e amigo), sem deixar de
explicitar seu otimismo.
No momento do anúncio,
a presidenciável estava
em Cuiabá, cumprindo parte da agenda de viagens traçada para aumentar sua
exposição e apresentá-la aos eleitores. O desconhecimento é justamente um de
seus principais pontos fracos, principalmente quando se dava a comparação com
Doria.
Tebet batizou a jornada de incursões como Caminhada da Esperança e vem buscando responder a uma das demandas reveladas pela pesquisa que a trinca de partidos contratou para embasar a escolha do candidato com mais chances. A sondagem contribuiu para o descarte do tucano pelo grupo.
Como o levantamento mostrou que o eleitor a
ser caçado por uma candidatura alternativa está exausto do clima de polarização
e quer saber de propostas para a vida real, a senadora atenuou o ritmo de
críticas espontâneas a Lula e Bolsonaro. Costuma fazê-las, porém, quando é
instada.
A divulgação de um plano de governo, ou
pelo menos de um esboço de programa, é uma das cobranças que passam a recair
com maior intensidade sobre a pré-campanha da emedebista nesta nova fase.
Ela montou uma equipe que inclui a
economista Elena Landau na formulação
de um documento com sugestões para a reativação do PIB e a geração de empregos.
Ainda não estava claro nesta segunda se conselheiros
de Doria na seara econômica se somarão ao grupo.
"Temos que parar de falar tanto de
Lula e Bolsonaro e falar do Brasil, do Brasil real", conclamou Tebet em
Mato Grosso. "Falar dos brasileiros, que são muito mais importantes do que
toda a classe política. Vamos falar daquilo que o Brasil precisa [e também] da
fome, da miséria, da inflação."
A senadora também aproveitou para minimizar
as divergências
dentro de seu partido, com alas que defendem apoio a Lula e a Bolsonaro.
Deu a entender que será relativamente fácil transpor essa barreira, ao reiterar
possuir o apoio de pelo menos 80% dos membros do diretório.
A falta de unanimidade interna, admitida
pela própria, escancara um dos aspectos que ainda turvam o projeto de Tebet.
Ela, que tem a seu lado o presidente nacional da sigla, deputado federal Baleia
Rossi (SP), acaba de amealhar o apoio do ex-senador Romero Jucá (MDB-RR).
Nesta terça-feira (24), o
ex-presidente Michel Temer (MDB)
reiterou seu endosso à pré-candidata em nota que divulgou para afastar rumores
de que estaria se articulando para concorrer. Ele se disse a favor de um
"debate franco" entre "os contrários em busca do bem comum"
e defendeu "a pacificação do Brasil".
"São as teses que sempre apoiei, sobre
as quais construi minha trajetória politica e que compartilho com a candidata
do nosso partido, a senadora Simone Tebet, que pode levá-las adiante",
afirmou.
Embora indefinida, uma participação direta
de Doria na campanha virtualmente liderada pela senadora é algo visto pelo
entorno dela como danoso. O temor é justificado pelo poder de desagregação do
tucano não só no PSDB, mas também no ambiente do autodenominado campo
democrático.
O agora ex-presidenciável, ao recuar,
removeu um obstáculo significativo para o entendimento das siglas de
centro-direita. Aliados da emedebista dizem que o novo quadro reduz a pressão
para se alcançar um patamar mínimo nas pesquisas, embora, obviamente, a
intenção seja crescer.
O discurso corrente entre os
"tebetistas" é o de que a prioridade passa a ser consolidá-la como
detentora de condições políticas para encabeçar o projeto da terceira via.
Entram no cálculo as alianças partidárias que ela será capaz de estabelecer e o
diálogo com diferentes camadas da sociedade.
"Ela é excelente candidata. Espero que
a partir de agora as pessoas prestem mais atenção a ela", diz o
ex-deputado federal Carlos Marun (MDB-MS).
Para o presidente nacional do Cidadania,
Roberto Freire, nem mesmo a muralha que é o embate cristalizado entre Lula e
Bolsonaro será intransponível. "Se o Muro
de Berlim caiu,
um paredão desse facilmente cai também. Quando a história segue em frente, não
tem muro que interrompa", compara.
Freire afirma que o centro deve abraçar
Tebet e evitar dispersão. "Se tentarmos discutir qualquer outra
alternativa, nós estaremos trabalhando contra nós mesmos. Nosso objetivo agora
é trabalhar o nome dela para ganharmos a sociedade com propostas concretas e
uma mensagem de paz."
A cúpula do PSDB também sinalizou nos
bastidores que a tendência é consolidar a aliança, enterrando levantes por
candidatura própria, como quer, por exemplo, o deputado federal Aécio Neves (MG).
Membros da sigla foram escalados para afinar com o MDB acordos sobre programa e
alianças.
No quesito propaganda, o principal trunfo
apontado pelo entorno de Tebet é a
leva de inserções a que o MDB terá direito em rede nacional de TV e rádio.
O partido vai preencher a fase final do calendário previsto pela Justiça
Eleitoral, na segunda quinzena de junho, o que enseja duas leituras.
Se, por um lado, os anúncios entrarão em
uma época mais próxima das convenções partidárias (entre julho e agosto) e,
consequentemente, do início oficial do período eleitoral, por outro só irão ao
ar daqui a um mês. Não serão, portanto, uma ferramenta à mão para tentar
alavancá-la de imediato.
Até lá, a arma serão as viagens pelo país,
preenchidas por encontros com líderes políticos, visitas e entrevistas, em
estratégia para cavar espaço na mídia.
Um vídeo divulgado pela equipe de Tebet na
semana passada faz as vezes de introduzir sua imagem para um público mais
amplo. Relembra sua trajetória desde a cadeira de prefeita de Três Lagoas (MS)
até o Senado, exaltando o fato de ter sido pioneira como mulher em vários
espaços de poder.
A ênfase atende a um diagnóstico, também
colhido em pesquisas, de que a fatia do eleitorado propensa a escolher um
alguém que não seja Lula nem Bolsonaro valoriza quem tem experiência na vida
pública e vivenciou alguma dificuldade —o filme insinua que no caso dela o
desafio foi o machismo.
"O gesto do Doria reforça nossa
responsabilidade de representar a união do centro democrático e essa
candidatura alternativa para o país", diz Felipe Soutello,
profissional que está à frente da comunicação de Tebet. "É essa unidade
que a campanha vai sinalizar", segue o marqueteiro.
Coordenador do Derrubando Muros,
grupo com empresários e formadores de opinião que abriga favoráveis à terceira
via e simpatizantes de Lula, o sociólogo José
Cesar Martins afirma que a senadora poderá crescer se conseguir
transformar suas qualidades em intenção de voto.
"Agora ela vai precisar recuperar o
tempo perdido pelo centro, se dar a conhecer e conquistar o coração tanto
quanto a cabeça dos brasileiros", diz ele.
Colaborou Carolina Linhares,
de São Paulo
Um comentário:
Pensando bem,os 30% que ainda não decidiram podem decidir o resultado de uma eleição.
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