Folha de S. Paulo
O mundo inteiro, agora, sabe quem é
Bolsonaro
Em 2020, no auge da Covid, Jair Bolsonaro preferia passear de jet ski a visitar os hospitais abarrotados e solidarizar-se com os profissionais que arriscavam a vida. Enquanto brasileiros morriam por falta de oxigênio, Bolsonaro imitava uma pessoa lutando para respirar. Já então eram-lhe oferecidas vacinas, que ele desprezava em função da cloroquina. E, quando os cemitérios tiveram de abrir covas rasas para comportar milhares, ele celebrou essa tragédia com uma frase: "E daí? Não sou coveiro".
Agora Bolsonaro terá de ser coveiro. Está
diante de dois mortos que o mundo não deixará insepultos: o indigenista Bruno
Pereira e o jornalista britânico Dom Phillips. Queira ou não, são seus mortos,
assassinados pelos exploradores, traficantes e pistoleiros a quem ele entregou
a Amazônia. Por "ele", leiam-se Bolsonaro ele mesmo, seu cínico
vice-presidente Hamilton Mourão, presidente decorativo do Conselho Nacional da
Amazônia, e o ex-ministro Ricardo
"Boiada" Salles.
Bruno e Dom foram mortos a tiros,
esquartejados, possivelmente incendiados e enterrados na floresta. Não se sabe
a que se reduziram seus corpos —ou "remanescentes humanos", como
foram chamados pelas autoridades. É insuportável imaginar que dois seres
humanos, até há pouco na plenitude de suas forças e virtudes, sejam neste
momento material de laboratório e, pior ainda, em Brasília, não muito longe do
homem que os responsabilizou pela própria morte chamando-os de
"aventureiros" e "excursionistas".
Seja o que tiver restado deles, mesmo que
uma unha, terá de ser entregue às suas famílias e sepultado
—Bruno, aqui mesmo, e Dom, quem sabe em seu país. Era o que Bolsonaro mais
temia: a prova física do crime. A partir de agora, ninguém mais, em qualquer
parte, poderá dizer que o desconhece.
Os coveiros da Covid eram heróis. O coveiro
da Amazônia pode ser chamado de muita coisa —você escolhe.
2 comentários:
Que horror!Confesso que li,gostaria de desler,quer dizer,gostaria que fosse obra de ficção literária.
Castro escrevendo sobre o Flamengo ou Nelson Rodrigues é primoroso. Falando sobre política nacional, é tão-somente mais um excremento vermelhinho. Apenas mais um subproduto da esquerda nacional putrefata.
Postar um comentário