O Estado de S. Paulo
O desespero de Bolsonaro para se reeleger compromete a recuperação do País
Tanto faz se o pacote para turbinar
benefícios sociais é tratado por “do desespero” ou “de emergência”. O que ele
traduz é apenas desesperada tentativa de Jair Bolsonaro de organizar uma
“virada” nas eleições.
Essa atabalhoada operação política faz
parte também do modo de fazer negócios do Congresso. Outros países, como a
Alemanha, recorreram a subsídios para atenuar o impacto dos preços dos
combustíveis. No Brasil se alteram a Constituição, as regras fiscais e as
normas para ano de eleições.
O economista Marcos Mendes listou 95 medidas aprovadas pelo Congresso desde 2015 que ele considera bastante prejudiciais do ponto de vista fiscal – o atual pacote é apenas o exemplo mais recente. Não se trata apenas da concessão de benefícios a setores diversos (taxistas, usineiros, turismo). Nesse “estado de emergência” causado pelos preços de combustíveis o Congresso interferiu também na capacidade dos governadores de arrecadar.
Via decretos legislativos, altera medidas
do Executivo para fixar tarifas de energia elétrica, por exemplo. Pendura na
privatização da Eletrobras dispositivos para favorecer interesses econômicos
regionais. E parte para cima da Petrobras com a intenção explícita de controlar
a estatal, sob o pretexto de “ajudar os pobres”.
É interessante notar como essas várias
medidas recentes foram aprovadas com maiorias esmagadoras, isto é, “direita” e
“esquerda” estão votando do mesmo jeito. Não há muita diferença entre esses
“polos” quando se trata de interferir em preços ou arranjar uma forma de gastar
mais. Cabe ressaltar aqui mais uma vez como o Centrão está confortável com a
vitória de Bolsonaro ou com a de Lula na eleição.
Bolsonaro não inventou nada disso aí,
apenas a sua incompetência política tornou mais fácil o “modo business” (Marcos
Mendes) do Congresso. Sem qualquer plano de governo a não ser continuar no
governo, não tem ideia da armadilha que preparou caso se reeleja.
No momento o “pacote de emergência” serve
apenas para tentar evitar perder já em primeiro turno, na crença de que o
antipetismo o leve à vitória no segundo. Ocorre que as fichas foram todas agora
para um conjunto de bondades que, para trazer efeito desejado, precisaria de
mais do que os três meses restantes até as eleições.
Para o País, criaram-se um cipoal de
judicializações e um profundo descrédito na capacidade do sistema político de
levar política fiscal a sério. Achando que o adversário está fazendo o serviço
sujo (arrebentar com o teto de gastos), Lula não parece até aqui ter noção do
que será – esta, sim – a herança maldita.
Um comentário:
Vai ser uma herança maledeta daquelas!
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