O Globo
Nota e manifestação do porta-voz destacam
necessidade de instituições seguirem papel constitucional
Tanto a nota da Embaixada dos Estados
Unidos no Brasil quanto a declaração do porta-voz do Departamento de Estado,
Ned Price, reiterando a
confiança do governo norte-americano no processo eleitoral brasileiro têm
outro destinatário direto, além de Jair Bolsonaro: as Forças Armadas
brasileiras.
Escaldado em tentativas da nova
extrema-direita de tumultuar a democracia e contestar o resultado de eleições
graças ao que Donald Trump promoveu internamente, o governo Joe Biden sabe que
o apoio militar a aventuras deste tipo é a chave para o maior ou menor grau de
risco de ruptura democrática.
Por lá, os militares foram firmes em deixar
Trump falando sozinho quanto ao questionamento do resultado das eleições e o
incentivo a atos como o que culminou na invasão do Capitólio.
Ao reiterar a expectativa de que as eleições ocorram de forma justa, livre e confiável, "com todas as instituições agindo conforme seu papel constitucional", o governo Biden comunica aos militares que o resultado das eleições será prontamente reconhecido por Washington.
Mais: dá a senha para que diplomacias de
governos de outros países democráticos se manifestem mais firmemente contra o
show de Bolsonaro, agora que já receberam relatos de seus representantes no ato
de segunda-feira.
No caso do Brasil, os EUA demonstram ter
uma clara radiografia dos sinais dúbios emitidos pelas Forças Armadas,
agravados nas últimas semanas pelo protagonismo adquirido pelo ministro da
Defesa, general Paulo Sérgio Nogueira, em manifestações de dúvida quanto à
segurança e à transparência da votação e da apuração pelo sistema de urnas
eletrônicas no Brasil.
Essa reação firme, reiterada e sem rodeios
também evidencia o papel temerário que o Itamaraty desempenhou nessa pantomima,
totalmente fora do que é a tradição diplomática brasileira e absolutamente
atrelado ao discurso de campanha de Bolsonaro à reeleição.
A nota e o briefing (atenção à grafia,
pessoal) da Casa Branca humilham o Ministério das Relações Exteriores sob
Carlos França.
Falei a respeito do revés que a pronta
reação do governo dos Estados Unidos a sua escalada golpista representa para
Bolsonaro na edição mais recente do Viva Voz, meu quadro na CBN. Ele
se soma a outros internos, com a união de burocracias técnicas do próprio
Executivo, do Legislativo e do Ministério Público em defesa da Justiça
Eleitoral. O tiro, definitivamente, saiu pela culatra.
Um comentário:
Bem feito para o Bozo.
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