O Estado de S. Paulo
A Europa enfrenta grave conflito de
prioridades. Não sabe se põe força total para garantir o cumprimento das metas
ambientais ou se trata primeiramente de assegurar a segurança energética.
Esses dois objetivos contraditórios
produzem estresse econômico e político. A forte onda de calor e de incêndios
que se espraia pela França, Espanha, Portugal, Itália e Inglaterra exige ação
imediata dos governos para combater a exacerbação do efeito estufa e a promoção
da substituição mais rápida da energia de fonte fóssil pela energia de fonte
limpa e sustentável.
No entanto, a guerra na Ucrânia e as
sanções contra a Rússia são fatores que aumentam a dependência de gás natural
russo.
Ao mesmo tempo, tornam inevitável a reativação das usinas térmicas a carvão e a outros derivados de petróleo.
Mesmo não tendo chegado o auge do verão no
Hemisfério Norte, as autoridades já temem pelo que haverá de queima de
combustíveis fósseis destinados a garantir o aquecimento ao longo do inverno.
O presidente Putin avançou sinais de que
pretende anexar territórios da Ucrânia. Se isso se confirmar, tenderá a exigir
respostas ainda mais contundentes do Ocidente que, por sua vez, poderá bloquear
o fornecimento de gás russo para a Europa. Nada menos que 55% do gás natural
consumido pela Alemanha em 2021 foi de origem russa. A Itália depende do
suprimento russo em 40%. As autoridades europeias parecem ter começado a
preparar a opinião pública para a necessidade de racionamento de gás e de
combustíveis.
A União Europeia ainda tem de enfrentar as
consequências da insegurança alimentar, produzida pela queda das importações de
trigo tanto da Ucrânia como da Rússia. Não há como prever como as respostas de
política econômica ao redor do mundo tratarão de administrar esses conflitos.
Mas já se podem antever as consequências.
A primeira é a inflação que já vem atacando
os países avançados. Em junho, nos Estados Unidos, o Índice de Preços ao
Consumidor em 12 meses chegou a 9,1%, o mais alto desde 1981. Na área do euro,
ficou em 8,6%.
Outra consequência será a desaceleração do
crescimento econômico, ainda não confirmada nos Estados Unidos, mas inevitável
na Europa. O tombo do euro ante o dólar mostra essa fraqueza (veja o gráfico).
Nesta quinta-feira, o Banco Central Europeu deve aumentar os juros pela
primeira vez em mais de uma década.
Como as autoridades são inevitavelmente
cobradas pela alta da inflação e pela freada no avanço do PIB, ainda está para
ser avaliado o custo político dessas tensões. Embora tenham sido provocados por
outros fatores, a demissão do primeiro-ministro do Reino Unido, Boris Johnson,
e a demissão não acatada do primeiro-ministro da Itália, Mario Draghi, em algum
grau podem ser debitadas às novas dificuldades políticas. •
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