terça-feira, 23 de agosto de 2022

Bolsonaro mente no JN e coloca condição para aceitar resultado das eleições

Presidente deu relato falso sobre atuação na pandemia e disse que nunca xingou ministro, mas já chamou Moraes de 'canalha'

Matheus Teixeira, Renato Machado, Ricardo Della Coletta / Folha de

S. Paulo

BRASÍLIA - presidente Jair Bolsonaro (PL) colocou condições para aceitar os resultados das eleições e mentiu, durante sabatina no Jornal Nacional nesta segunda-feira (22), ao tratar de ações na pandemia da Covid-19 e ao negar que tenha xingado ministros do STF (Supremo Tribunal Federal).

Ele foi o primeiro candidato ao Planalto a participar da série de entrevistas com presidenciáveis no programa da TV Globo. Durante a sabatina, houve panelaços em diversas capitais do país.

No ano passado, Bolsonaro chamou o ministro Alexandre de Moraes de "canalha". Além disso, diante de apoiadores, já chamou o ministro Luís Roberto Barroso de "filho da puta".

Após ter dito no JN que nunca xingou algum magistrado do Supremo, o apresentador do programa, William Bonner, recordou do episódio em que chamou Moraes de "canalha".

Bolsonaro, então, admitiu que atacou o magistrado, mas disse que o entrevero teria sido apenas com ele —e omitiu o xingamento a Barroso.

No Jornal Nacional, Bolsonaro também mentiu sobre as ações do governo na pandemia, ao negar ter barrado a compra de vacinas.

O mandatário começou a entrevista mais calmo, dando respostas em um tom sereno. No decorrer do programa, porém, ficou mais irritado, principalmente após ser questionado se tinha algum arrependimento por ter imitado pessoas sem ar ao comentar os problemas da Covid-19.

Ele, porém, disse que foi solidário às vítimas da pandemia. "A solidariedade eu manifestei conversando com o povo nas ruas, visitando as periferias de Brasília, vendo pessoas humildes que foram obrigadas a ficar em casa sem ter um só apoio de governador ou prefeito", disse.

Bolsonaro também voltou a levantar dúvidas sobre a segurança das urnas eletrônicas, citando informações que já foram rebatidas pelo TSE (Tribunal Superior Eleitoral) e pela própria PF.

O delegado Victor Neves Feitosa Campos, responsável pelo inquérito sobre o ataque hacker ao sistema do TSE que o presidente costuma citar, disse em depoimento à corporação que não encontrou indícios de que a ação pudesse ter resultado em manipulação de votos, fraude ou problemas na integridade das urnas.

O presidente foi cobrado pelos apresentados a assumir um compromisso de que respeitará o resultado das eleições.

No entanto, novamente colocou uma condicionante de que faria isso se considerar que as eleições foram "limpas" —o que ele nega ocorrer, já que segue colocando em dúvida o sistema eleitoral do país.

"Serão respeitados os resultados das urnas desde que as eleições sejam limpas", afirmou o presidente.

Em outro momento, Bolsonaro foi questionado sobre as ações antidemocráticas de seus apoiadores, como a recorrente defesa da ditadura militar em manifestações em seu favor.

Respondeu que se trata de "liberdade de expressão". "Quando alguns falam em fechar o Congresso, é liberdade de expressão deles. Eu não levo para esse lado."

Bolsonaro tem feito neste ano seguidos ataques ao sistema eleitoral e aos ministros do STF para acusar uma suposta fraude caso não vença as eleições.

O sistema eletrônico de votação, porém, foi exaltado e ovacionado diante de Bolsonaro na posse do ministro Alexandre de Moraes como presidente do TSE, na semana passada.

A retórica golpista do presidente inclui ainda o flerte com as Forças Armadas, que participam de uma comissão de transparência eleitoral e, na prática, têm sido uma das linhas de frente do questionamento do presidente às urnas.

O ataque mais grave às urnas ocorreu em 18 de julho, quando ele chamou embaixadores estrangeiros para expor suas mentiras acerca das urnas e do processo eleitoral, repetindo argumentos já descartados após sua exposição em uma live no ano passado.

A reação veio no último dia 11, com um ato que reuniu milhares de pessoas para a leitura de duas cartas de apoio à democracia na Faculdade de Direito da USP. A primeira carta foi endossada por entidades como a Fiesp e centrais sindicais. Já a segunda, inspirada na Carta aos Brasileiros de 1977, ultrapassou 1 milhão de assinaturas.

No JN, Bolsonaro afirmou que não retardou a compra de vacinas e repetiu as alegações de que a Pfizer pretendia impor condições impraticáveis para fornecer os imunizantes. A CPI da Covid, no entanto, apontou que as propostas da farmacêutica americana ficaram meses sem resposta.

O presidente também se negou a afirmar que a aliança com o centrão foi contraditória em relação à campanha de 2018, quando costumava criticar duramente o grupo político composto por partidos de centro.

Bolsonaro aproveitou a oportunidade para elogiar seus ministros, mas deixou de fora da lista expoentes desse bloco que estão na Esplanada, como o chefe da Casa Civil, Ciro Nogueira, e o chefe das Comunicações, Fábio Faria.

Ao ser questionado sobre desmatamentos, o presidente respondeu que há 30 milhões de brasileiros vivendo na região e que isso deve ser foco de preocupação do governo. Na sequência, Bolsonaro ainda criticou o Ibama por destruir o maquinário das pessoas que devastam as florestas.

"A destruição [dos equipamentos], como está em lei, é se você não puder tirar o equipamento daquele local. O que vinha acontecendo e ainda vem, infelizmente, é que o material pode ser retirado do local, porque se chegou lá pode ser retirado e há o abuso de uma parte...", afirmou o presidente, sendo questionado de quem partiria o abuso. "Por parte do Ibama", acrescentou.

Bolsonaro também repetiu a estratégia usada em debates de 2018 e foi à entrevista com anotações na mão, com as seguintes palavras: Nicarágua, Argentina, Colômbia, Dario Messer. As críticas do mandatário aos três países, que são comandados por governantes de esquerda, são recorrentes.

Em relação a Messer, que ele não mencionou na entrevista, a anotação ocorreu porque o doleiro já disse, em delação premiada, que realizou repasses de dólares em espécie à família Marinho, dona do Grupo Globo.

Em nota emitida na época, os proprietários da emissora negaram as acusações de Messer e ressaltaram que o doleiro não apresentou provas.

Ao final da entrevista ao JN, o presidente transmitiu em suas redes uma live, a partir do carro onde estava. Nela, voltou a chamar apoiadores para os atos do 7 de Setembro. Lembrou que haverá desfile militar, pela manhã, em Brasília, e que à tarde estará no Rio de Janeiro, com apresentações das Forças Armadas.

Nesta semana também serão sabatinados pelo JN os candidatos Ciro Gomes (dia 23), Luiz Inácio Lula da Silva (25) e Simone Tebet (26).

Apesar de Bolsonaro fazer críticas recorrentes à Globo e de já ter até orientado sua militância a não assistir a emissora, a entrevista ao Jornal Nacional foi tratada pelo entorno do presidente como um dos momentos mais importantes da campanha.

Bolsonaristas prepararam uma grande mobilização nas redes sociais para aumentar a repercussão da sabatina. A hashtag #BolsonaroNoJN foi usada em postagens nas redes sociais por ministros do governo, por filhos do mandatário e por outros aliados.

O senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ) e o ministro das Comunicações, Fábio Faria (PP), publicaram nas redes um vídeo no qual Bolsonaro olhava para o celular e um interlocutor falava "olha a cara do presidente preocupado hoje com o JN". Bolsonaro então respondia: "Vou dar um beijo no [William] Bonner hoje."

A aposta de estrategistas da campanha era que a participação do mandatário no telejornal de maior audiência do país pudesse alavancar o presidente nas pesquisas e ajudar a expor ações do governo federal.

A entrevista concedida em 2018, por exemplo, foi amplamente explorada por seus apoiadores na época durante todo o período eleitoral.

Na ocasião, Bolsonaro defendeu a ditadura militar, espalhou fake news sobre livros distribuídos às escolas e questionou o salário da apresentadora Renata Vasconcellos.

O então candidato apresentou um exemplar do livro "Aparelho Sexual e Cia." e disse erroneamente que a obra havia sido entregue em colégios públicos. Na ocasião, porém, a Cia. das Letras, que editou o livro, afirmou que a publicação nunca foi distribuída em escolas pelo MEC (Ministério da Educação).

A Fundação Biblioteca Nacional, ligada ao Ministério da Cultura, comprou, em 2011, 28 exemplares do título, que foram distribuídos em bibliotecas públicas —não nas escolas.

O MEC, em 2016, já havia negado que tivesse adquirido exemplares desse título.

Nas negociações sobre a participação de Bolsonaro no JN neste ano, a campanha chegou a exigir que a sabatina fosse realizada no Palácio do Alvorada, argumentando que Luiz Inácio Lula da Silva (2006) e Dilma Rousseff (2014) tiveram o mesmo tratamento quando tentaram a reeleição.

O presidente depois cedeu e aceitou ir aos estúdios da emissora no Rio de Janeiro. A participação no programa acontece em um momento de crescimento de Bolsonaro nas pesquisas de intenção de voto, que ocupa o segundo lugar, atrás do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

Levantamento do Datafolha divulgado na semana passada mostrou que o presidente conseguiu diminuir para 15 pontos percentuais a diferença para o líder Lula. A diferença entre os dois na pesquisa anterior, de 28 de julho, era de 18 pontos.

Essa foi a primeira pesquisa Datafolha divulgada após o início do pagamento do Auxílio Brasil de R$ 600.

4 comentários:

Anônimo disse...

O que observamos ontem não foi uma entrevista de uma emissora com o presidente da república candidato a reeleição
O que nós vimos foi um tribunal de Inquisição em que os entrevistadores acusaram ironizaram, interromperam insinuaram mentiras, interromperam de novo… O jornalismo da Globo lixo se fez manifestar como sempre;
Vale tudo para denegrir a imagem do presidente Bolsonaro

Anônimo disse...

Ora Sr. Anônimo, quando se entrevista um bandido como Bolsonaro, tem mesmo que ser inqisidor. Afinal ele mesmo sempre diz que bandido não merece ser bem tratado. Então, ele e seus filhos e asseclas que se preparem.

Anônimo disse...

O primeiro anônimo reclama de barriga cheia. Os entrevistadores nem perguntaram sobre as rachadinhas, o enriquecimento familiar comprando apartamentos em dinheiro vivo, o operador financeiro Queiroz, a defesa da tortura, as milhares de mentiras desde o primeiro dia do mandato, a indicação do Eduardo Bananinha Bolsonaro para a embaixada nos EUA, a reunião ministerial de abril de 2020 e tantas otras cositas más...

ADEMAR AMANCIO disse...

Não vi a entrevista,verei dos outros candidatos.