domingo, 2 de outubro de 2022

Elio Gaspari - Hoje é o dia

O Globo

O Datafolha saiu no início da noite de quinta-feira informando que o placar estava em 50% para Lula e 36% para Bolsonaro e que 85% dos eleitores já haviam decidido seus votos. O debate da Globo terminou de madrugada, e é razoável supor que não serviu para mexer os ponteiros. Vai daí, só no fim do dia de hoje ou na madrugada de amanhã vai-se saber o resultado do primeiro turno.

Desde que John Kennedy derrotou Richard Nixon no primeiro debate transmitido pela televisão, em 1960, muitos candidatos arrastaram as fichas nessas ocasiões. Na França, François Mitterrand moeu seu adversário. Nos Estados Unidos, Ronald Reagan se impôs. Todos os grandes momentos desses debates tiveram o ingrediente da seriedade associada à presença de espírito.

Em 1981, o presidente francês Giscard d’Estaing achou que tinha uma pegadinha letal e perguntou a Mitterrand o preço do pãozinho.

“O senhor não é meu professor, e eu não sou seu aluno”, respondeu o candidato socialista. Arrastou as fichas.

Lula e Bolsonaro foram para o debate com tamanha agressividade que perderam a calma.

Ganha uma coleção de sermões do Padre Kelmon quem for capaz de repetir uma ideia nova e boa de Bolsonaro ou de Lula apresentada durante o debate. O capitão continua repetindo patranhas de 2018, mesmo sabendo que os ventos favoráveis que o elegeram viraram poeira na eleição municipal de 2020.

Os 15% que poderiam mudar de voto na pesquisa do Datafolha decidirão se a fatura será liquidada neste primeiro turno.

Miro no tempo da civilidade

Hoje os eleitores poderão restabelecer o primado da civilidade nas relações políticas nacionais. Os bons modos evitam brigas de conveniência, e, quando as crises entram no palácio, saem menores. Quando há elegância no convívio, o impossível acontece.

Aqui vão duas histórias, ambas envolvendo o deputado Miro Teixeira.

Em 1980, Lula estava preso. Era um líder sindical de barba negra e discurso a um só tempo novo e amedrontador. A ditadura agonizava com o último general no Planalto. Thales Ramalho era um deputado do MDB conhecido pela sua intransigente moderação. Conversava com generais (poucos, porém relevantes), e a ala mais radical da oposição detestava-o. Uma jovem e ilustre figura chegou a negar-lhe o cumprimento. Thales nada tinha a ver com Lula, mas, de Brasília, telefonou a Miro, que estava no Rio, pedindo-lhe que fosse a São Paulo, como deputado e advogado, para cuidar das condições carcerárias do preso.

Miro desceu em São Paulo e, numa pequena delegação, foi ao carcereiro de Lula. Era o delegado Romeu Tuma, outra figura do mundo de bons modos. O policial disse-lhes que não poderiam visitar o preso, mas se a sua mulher, Marisa Letícia, quisesse trazer algumas roupas, talvez o delegado do próximo plantão não soubesse as normas da incomunicabilidade desse preso. Dito e feito, Marisa visitou Lula. Thales agiu sem deixar suas impressões digitais no lance.

Um ano depois, o caso de Lula seria julgado no Superior Tribunal Militar (STM). Dessa vez, a operação foi conduzida por Tancredo Neves, que nada tinha a ver com Lula. Ele chamou Miro, pedindo-lhe que o acompanhasse ao STM, para mostrar a importância do julgamento. Dito e feito. O Tribunal decidiu que o caso não era da alçada da Justiça Militar, e a ação prescreveu.

Era o exercício da política com gestos, poucas palavras e muita civilidade.

Lula devia aprender com Lula

Durante o debate da TV Globo, Lula perdeu a calma com o Padre Kelmon, da igreja ortodoxa do Peru, ex-petista, hoje no PTB, do deputado Roberto Jefferson. Onze entre dez cidadãos também perderiam, mas Lula estava lá como candidato à Presidência da República.

Faz tempo, Lula estava preso no Dops de São Paulo e foi tirado da cela no meio da noite. No caminho, achou que ia apanhar.

O então dirigente sindical foi levado para uma sala onde o apresentaram a um assessor da Secretaria de Segurança, que desejava conversar com ele. Era mentira, o assessor era um oficial do Serviço Nacional de Informações e havia um grampo na sala.

A conversa durou cerca de uma hora, e a transcrição circulou em Brasília.

Lula deu um baile no inquisidor. Ele queria saber se Lula tinha um canal secreto de comunicação dentro do governo e ouviu o seguinte.

— Durante esse processo, ninguém falou mais com autoridade do que eu. Reclamamos pela situação do trabalhador, como era que ele se encontrava (...) A gente sentia a coisa... Ninguém estendia a mão para o trabalhador, quer dizer, vamos fazer um negócio e colocar na mão do trabalhador.

Muralha no TSE

Há uma muralha no Tribunal Superior Eleitoral, formada pelos ministros Alexandre de Moraes, Ricardo Lewandowski, Cármen Lúcia e Benedito Gonçalves.

Têm votado juntos, sempre contra as maracutaias.

Observadores da eleição

Estão no Brasil cerca de 30 observadores internacionais.

Depois de acompanhar a votação e a totalização do resultado, alguns deles estão prontos para anunciar ao mundo suas conclusões.

Lula mudou a escrita

Lula alterou a escrita dos candidatos a formar frentes de apoio às suas campanhas. Pelo protocolo, o apoio de notáveis era buscado a partir do início da campanha oficial. Por tática ou pelo simples movimento da roda, Lula recebeu-os no finalzinho do segundo tempo.

Foi o caso das manifestações de Joaquim Barbosa e do economista André Lara Resende. Barbosa significou uma poderosa vacina contra o reaparecimento das denúncias de corrupção ocorridas nos governos petistas.

Só o tempo dirá se o apoio de Lara Resende significará algo mais do que uma simples declaração de voto.

Vigarista

Chegará às livrarias americanas na terça-feira “Confidence man” (“Vigarista”, em inglês), da repórter Maggie Haberman

É uma biografia de Donald Trump, cuja presidência ela cobriu para o New York Times, e cuja vida ela escarafunchou.

Quem já o leu informa que, para a repórter, a chave que explica sua presidência está na sua origem na cultura da malandragem da periferia de Nova York (cidade em que ela foi criada e vive).

Conta outra, doutor

Surfando a onda de promessas da campanha eleitoral, o ministro Paulo Guedes disse o seguinte:

“Tem um grupo de fora que quer comprar uma praia numa região importante do Brasil, quer pagar US$ 1 bilhão. Aí você chega lá, pergunta: vem cá, vamos fazer o leilão dessa praia? Não, não pode. Por quê? Isso é da Marinha.”

Em 2018, durante a campanha eleitoral, Guedes já propunha esse feirão de imóveis da Viúva. Dizia que esses imóveis valeriam R$ 1 trilhão. Admitindo-se que essa carteira existisse, à época ele foi advertido por um economista de respeito de que a promessa não ficava em pé.

Admitindo-se que, mesmo assim, ele estivesse certo, fica uma pergunta: passados quatro anos, tendo incorporado vários ministérios, ele continua prometendo o mesmo feirão?

5 comentários:

Anônimo disse...

LULA PRESIDENTE HOJE!

AH, gado, sei q torces pro seu tocador de berrante ir pro 2o turno.
Acontecendo, LULA GANHARÁ LÁ.

Anônimo disse...

VIGARISTAS - Donald Trump e Jair Messias Bolsonaro.

Anônimo disse...

Isso!

Anônimo disse...

As novelas contribui com as mudanças de comportamento das pessoas, com brigas fisicas, principalmente entre mulheres, com xingamentos e baixarias e a internet aperfeiçoa. As boas maneiras estão em fase de extinção. As pessoas dia a dia ficam mais agressivas.

ADEMAR AMANCIO disse...

É,eu sou pela paz,agressividade não resolve nada.