O Globo
Em 2002, a grande dúvida era o que
aconteceria com a economia. Agora, a primeira pergunta é o futuro da
democracia, e deve ser feita a Bolsonaro
A pergunta de 2022 é diferente da de 2002.
Naquele ano, Lula precisava responder se manteria o Plano Real que havia
derrotado a hiperinflação. Agora, a pergunta central recai sobre Bolsonaro. Que
garantia o país pode ter de que a democracia será respeitada? Em 2002, Lula
escreveu a Carta aos Brasileiros e manteve as bases do plano de estabilização.
E agora, mesmo se Bolsonaro escrevesse uma carta, que confiança poderíamos ter
na sua palavra, dado que ele sempre elogiou a ditadura que houve no Brasil e
hoje se identifica com os mais emblemáticos autocratas?
Nesta largada do segundo turno, há uma corrida por apoios em que os dois lados podem cantar vitória. Bolsonaro recolheu o apoio de governadores como Zema e Garcia e, como já tinha o do Rio, pode dizer que tem os administradores dos três maiores colégios eleitorais. Lula recebeu apoios do PDT, da ex-candidata Simone Tebet, que recolheu 5 milhões de votos, e reuniu governadores e senadores do Nordeste em evento que demonstrou força em São Paulo.
Simone fez um belo papel. O discurso que
falou sobre o 34º aniversário da Constituição foi na linha que lembrava o MDB
histórico, aquele que luta pela democracia. “Depositarei em Lula o meu voto
porque reconheço seu compromisso com a Democracia e a Constituição, o que
desconheço no atual presidente.”
A maneira como o ex-presidente Fernando
Henrique Cardoso apoiou Lula não podia ser mais eloquente. As fotos de abraços
que atravessaram décadas lembravam que duas coisas os uniram, apesar das
divergências, a democracia e a inclusão social. Depois, outra foto histórica,
dos dois panfletando juntos.
A primeira pesquisa
divulgada, do Ipec, deu uma diferença de oito pontos nos votos totais
e de 10 pontos nos votos válidos entre os dois. A disputa será curta, intensa.
As próprias pesquisas estão sob dúvidas. Mas o fato é que a tentativa do
governo de intimidar institutos é mais um gesto do mesmo arsenal
antidemocrático.
A economia é apenas a segunda pergunta
desta eleição. Ela tem vez, só não tem primazia. A economia precisará de muitos
ajustes no ano que vem, e a necessária caminhada para o centro terá que ser
feita por Lula explicando melhor seu programa econômico. As ideias estão muito
vagas. O programa social terá que ser ambicioso, por isso é preciso dar
horizonte para as contas públicas. Não se sustenta um projeto social com a
economia desorganizada.
Bolsonaro, se conseguir responder de
maneira satisfatória a pergunta democrática, também tem que explicar como
pretende organizar a economia da bagunça que ele mesmo fez. A soma das
promessas eleitorais, na contagem do jornal “O Estado de S. Paulo” deu R$ 160
bilhões. Ou ele está mentindo ou pretende estourar o Orçamento que seu governo
fez. A gastança para tentar ganhar a eleição vai minar o começo do próximo
mandato.
Não confundir com a conjuntura, que parece
boa. Há bons indicadores de curto prazo, fruto em parte de medidas artificiais.
Até 30 de outubro, Bolsonaro será beneficiado pelos dados que serão divulgados.
Os números serão usados como instrumento de propaganda. Na inflação, o IPCA
deve registrar a terceira queda seguida, em setembro. O desemprego, segundo o
economista-chefe da MB Associados, Sérgio Vale, deve recuar mais um pouco, para
8,7%. A criação de empregos formais pode ficar em torno de 250 mil. Pode haver
desaceleração dos alimentos, mas nada que compense a forte alta de 10% de
janeiro a agosto deste ano.
A gasolina é a grande responsável pela
queda da inflação. Ela já caiu 35% desde junho. Em parte, pela queda do
petróleo, em parte por uma brutal renúncia fiscal que tirou dinheiro dos
estados e dos cofres federais. Minas Gerais calculou em R$ 12 bi num ano, e só
não afundou porque foi ao Supremo e numa liminar o ministro Gilmar Mendes
permitiu a recomposição das perdas através da suspensão do pagamento da dívida.
São Paulo tem perdas mensais de R$ 830 milhões. Mesmo assim os governadores
desses dois estados deram apoio a Bolsonaro.
Mas a grande questão agora é a democracia. Num texto do Centro de Análise da Liberdade e do Autoritarismo, “O caminho da Autocracia”, vários especialistas, entre eles o professor Conrado Hubner, relatam a caminhada de alguns famosos autocratas para o desmonte da democracia. São sempre as mesmas etapas. O caso exemplar é o da Hungria, de Viktor Orbán, que está no quarto mandato seguido. No segundo, ele suspendeu liberdades individuais e deu poderes ao Executivo de controlar a corte constitucional. Esse será o caminho do Brasil? Eis a pergunta fundamental desta eleição.
2 comentários:
A colunista tem razão! O que está em jogo é a DEMOCRACIA! FHC, Simone Tebet, Ciro Gomes e outros democratas já estão apoiando LULA! Palhaço Kelmon e outros canalhas sempre estiveram com o GENOCIDA! Felizmente a DEMOCRACIA já sai na frente com mais de 6 milhões de votos de vantagem!
Xingamento de nada resolve,vamos orar pelo País.
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