O Estado de S. Paulo
Partidos que ambicionam a Presidência precisam fazer oposição sistemática
Partidos que perdem eleições para cargos
majoritários enfrentam um dilema de difícil solução. Deveriam se opor de forma
sistemática ao governo ou seguir uma estratégia de oposição responsável? Esse
dilema seria ainda mais acentuado em contexto de grande polarização política.
Um partido de oposição seria responsável quando apoiasse iniciativas do governo congruentes com a sua plataforma e/ou de grande apoio popular. Mas se oporia às proposições que fossem distantes das suas preferências e/ou tivessem um perfil controverso junto à sociedade. O problema é que a cada sucesso do governo com o apoio do partido de oposição, maiores seriam as chances de a oposição continue amargando essa condição. A estratégia dominante seria criar obstáculos ao governo para aumentar as chances de ser governo nas próximas eleições.
Por mais que a política implementada tenha
sido consequência direta da cooperação entre governo e oposição, é muito pouco
provável que o eleitor atribua crédito à oposição. Todo o crédito é atribuído
ao governo de plantão. Esse dilema fica ainda mais exacerbado em ambientes em
que o presidente é muito poderoso, como no Brasil. Jogar o jogo de oposição
responsável nesse contexto é o equivalente a ser governo sem, no entanto, ter
acesso aos benefícios políticos e financeiros alocados de forma discricionária
pelo executivo aos fiéis parceiros de coalizão.
O PT parece ter entendido bem esse jogo.
Quando foi oposição, sempre se opôs de forma sistemática aos governos, mesmo
quando as políticas poderiam, em tese, trazer ganhos para a sociedade, como o
controle inflacionário e o equilíbrio das contas públicas. Foi assim, por
exemplo, quando não participou do governo Itamar e votou contra o Plano Real,
votou contra a LRF no governo de FHC, opôs-se ao Teto de Gastos no governo
Temer, foi contra a reforma da Previdência no governo Bolsonaro etc.
O mais interessante é que os demais
partidos não agem da mesma forma quando o PT é governo. Os presidentes do PSDB
(Eduardo Leite), do PP (Ciro Nogueira) e do PL (Valdemar Costa Neto) defenderam
que seus partidos façam oposição responsável ao governo Lula. Pasmem, até
Bolsonaro, no seu retorno do autoexílio na Flórida, disse que faria uma
oposição responsável ao seu arquirrival.
Por que será que os partidos não conseguem
pagar na mesma moeda quando o PT é governo? Como a trajetória presidencial faz
parte do “DNA” do PT, o partido está mais bem preparado para o empobrecimento
de curto prazo, pois aposta nos ganhos futuros de ocupar a Presidência gerados
da pela oposição sistemática.
*CIENTISTA POLÍTICO E PROFESSOR TITULAR DA
ESCOLA BRASILEIRA DE ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA E DE EMPRESAS (FGV EBAPE)
Um comentário:
Quer dizer que a oposição atual é responsável... Então tá!
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