sexta-feira, 25 de agosto de 2023

Reinaldo Azevedo - Oito anos em oito meses

Folha de S. Paulo

Alvíssaras! O jornalismo tem de se (re)acostumar a tratar política como... política

Lembrei aqui certa feita que as palavras "polícia" e "política" têm a mesma origem. A civilização se encarregou de distanciá-las. E sempre se está com um problema grave quando uma ocupa o lugar da outra. Chega de tratar política como um caso de polícia e também o contrário. Ficamos atolados nesse pântano entre 2014, ano de criação da Lava Jato, e 2022, quando o fascistoide foi derrotado. Alvíssaras! A queridinha de Aristóteles está de volta, ainda que meio desengonçada, a dançar com Arthur Lira no meio do salão.

Na sessão que aprovou o arcabouço fiscal, entre negociações e negaceios —é preciso resgatar certas palavras do oblívio para alfabetizar o ChatGPT—, o presidente da Câmara discursou e afirmou que a Casa tem se dedicado a todas as matérias de interesse do país. Foi quase relatorial: "Nós votamos a PEC da Transição; nós votamos o arcabouço fiscal (...); nós votamos o remanejamento (...) da Esplanada dos Ministérios; nós votamos a reforma tributária, nós votamos o Carf... Essas matérias todas em seis meses." Posso refrescar a sua memória com Bolsa FamíliaMinha Casa Minha Vida, Programa de Aquisição de Alimentos, novo Mais Médicos...

Modesto, preferiu omitir a faceta social do colegiado, que ele comanda ora como um sindicalista, ora como um Marechal de Ferro, aludindo a um conterrâneo seu. Ainda respondia à sereníssima entrevista do ministro Fernando Haddad ao podcast Reconversa. O titular da Fazenda, então, fez um mero registro histórico: nunca a Câmara teve tanto poder como agora. Não vou rememorar os fricotes industriados que se seguiram à observação.

Na sessão que aprovou o novo regime fiscal, o homem mal disfarçava a exaltação do que percebe como obra sua. E emendou: "É óbvio que a Câmara tem uma maioria de líderes e deputados conservadora, liberal; então, têm matérias que vão de encontro a essas ideias que têm dificuldades no Parlamento, e o Parlamento têm feito grande esforço para atender à necessidade do país". Vamos lá.

Opunha, assim, em sua fala, um Executivo que entende progressista a essa força majoritária do Legislativo, que chamou de "conservadora, liberal", tomando os vocábulos como sinônimos. Em primeiro lugar, trata-se de coisas distintas, sem juízo demeritório sobre ambas. Em segundo lugar, a resistência à taxação de offshores ou de fundos dos super-ricos, para citar dois exemplos, apela a um outro padrão. Aí se trata de reacionarismo, com todos os seus deméritos. Os fundamentos se perverteram de tal sorte em "Banânia" que há sedizentes liberais que tentam justificar juros reais de 10% ao ano. Você pode odiar o liberalismo, mas sem-vergonhice é outra coisa.

Não busco aqui minimizar o poder do "lirismo", com suas aspirações épicas. Tampouco me alinho com aqueles que se escandalizam quando Lula abre negociação com o "Centrão". A propósito: a tal fala de Haddad nasceu de uma pergunta minha, que tinha como pressuposto a eficiência do parlamentar, com o que concordou o ministro. Ainda que isso tenha, notei eu, um custo político. Mas tudo tem. A alternativa é a porrada.

É preciso notar: o governo mudou neste 2023, mas o comando do Congresso segue aquele dos dois anos finais do mandato de Bolsonaro. E só se verifica agora tanta produtividade porque há um presidente da República empenhado em recuperar padrões mínimos de gestão para responder a iniquidades evidentes e em dotar o país de balizas contra o atraso. Diga-se tudo e qualquer coisa sobre o arcabouço fiscal e a reforma tributária, menos que apelem a experimentalismos. Se alguém está à caça de heterodoxias, vá estudar a "capitalização" da Eletrobras...

Já há quase oito meses somos impelidos a falar e a escrever sobre políticas públicas. Que coisa louca, não? Sim, o ex-Biltre Homiziado de Orlando ainda ocupa o noticiário. Mas é caso de polícia tratado como caso de polícia. Lembro-me daquele deputado que patrocinou duas PECs inconstitucionais na boca da urna para tentar reeleger o celerado. Nem liberalismo nem conservadorismo, certo? Afirmo, pois, sem medo de errar, que o governo Lula faz também de Lira uma pessoa melhor. O otimismo bem-humorado do colunista até o colocou para dançar, no mesmo parágrafo, com Aristóteles. Uma pitada de exagero para temperar a vida.

 

2 comentários:

EdsonLuiz disse...

E o Brasil até agora parado::
▪Não tem até agora implantada e sendo implementada nada que se possa chamar realmente de Politica Fiscal;
▪Mesmo uma Âncora, como parte de uma política fiscal, só agora mal acaba de ser aprovada. E o que vem por aí é...AUMENTO DE IMPOSTO para cobrir a gastança!

■E depois?
▪Depois? Depois virá aumento de desemprego e volta da inflação e o que veremos é Lula e o PT ficarem colocando a culpa nos outros e fingindo que não sabem que o que acontece na economia hoje é o que foi feito há dois ou três anos.

Perdemos este 2023 inteiro por causa da curriola, da velha e sempre curriola, dos Presidente da República/Presidente da Câmara/Presidente do Senado/ PT/Centrão/PL/Republicanos/PP/MDB...

Estes merdas como Lula, Bolsonaro(Sim, Bolsonaro:: de 2019 a 2022 foi Bolsonaro quem comandou esta mesma putaria toda) Lira, etc transformam este pais em um prostíbulo político!

É preciso mudar a qualidade do exercício da política. E mudar também a cobertura jornalística da política ; com "jornalistas" como Reinaldo Azevedo não dá:: Reinaldo Azevedo só sabia ser do contra sem fundamentos ; agora, ele só sabe ser a favor sem fundamentos.

ADEMAR AMANCIO disse...

O Brasil está em boas mãos,adoro Reinaldo Azevedo,mas não é confiável,mudou demais...