sexta-feira, 11 de agosto de 2023

Vera Magalhães - Lula mira no Rio diante de revés de Bolsonaro

O Globo

Turnê de lançamento do PAC, concessões a Castro e Paes e retomada de investimentos em óleo e gás fazem parte da estratégia de retomar liderança no Estado

Luiz Inácio Lula da Silva está em turnê no Rio. A solenidade com pompa e circunstância do novo PAC será apenas o clímax de uma visita estendida, planejada para marcar uma ofensiva política do presidente no estado com o qual viveu uma história de amor em seus mandatos anteriores — que acabou sem final feliz para ele e os parceiros de então.

Agora, diante dos graves reveses políticos e judiciais de Jair Bolsonaro, Lula investe para fincar a bandeira do governo federal na forma de investimentos e concessões no Rio, com o intuito evidente de chegar ao término de quatro anos tendo entregado mais para o estado e para sua capital que o antecessor, que tem neles sua base política.

Por mais que escorregue aqui e ali na retórica quando fala de improviso, Lula é imbatível na arte de, em cima de um palanque, entender rapidamente a maré do público e conquistá-lo para si.

Foi dessa forma que deu as mãos ao prefeito Eduardo Paes, político igualmente habilidoso, e passou um pito na plateia que começava a vaiar o governador Cláudio Castro, aliado de Bolsonaro quando foi alçado ao cargo pelo impeachment de Wilson Witzel e na bem-sucedida campanha à reeleição, mas que vem se mostrando o mais discreto dos governadores do triângulo do Sudeste agora, na fase do ocaso do capitão.

Depois de suscitar críticas dos seguidores mais radicais de Bolsonaro ao apoiar a reforma tributária, o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, passou as duas últimas semanas reforçando seus vínculos com o ex-presidente, com ações de viés bolsonarista na educação e na segurança pública e declarações de que não será candidato em 2026 e apoiará quem Bolsonaro indicar.

Romeu Zema, de Minas, deixou evidente sua pressa em ser o candidato a herdeiro do espólio bolsonarista em 2026 e se queimou com o eleitorado do Norte e Nordeste ao comparar as duas regiões a “vaquinhas” que dão pouco leite e nem por isso mereceriam ser protegidas.

Castro tem tido uma postura mais pragmática, de buscar acordos vantajosos economicamente para o Rio, como o impulsionamento do Galeão, o recebimento de receitas de petróleo e o polo farmacêutico da Fiocruz.

É uma linguagem que Lula domina e que casa com a arrancada do PAC, uma vitrine de seu terceiro mandato. Com todos tocando a mesma música, a passagem do petista pelo Rio deverá fazê-lo avançar na clara estratégia de reduzir a vantagem do antecessor junto ao eleitorado fluminense. Bem mais inteligente que ofender o eleitorado que não fechou com ele na eleição, como acabou fazendo Zema ao propor uma espécie de guerra de secessão no Brasil.

O desgaste eleitoral de Lula no Rio veio depois de anos de lua de mel com o estado. Em 2006, ele se reelegeu com 70% dos votos dos fluminenses no segundo turno. Em 2007, ele e Cabral começaram uma parceria bem-sucedida política e economicamente para o Rio, com fartos investimentos na indústria de óleo e gás. O ocaso de ambos teve em comum a Lava-Jato, que, no Rio, foi encarnada na figura do juiz Marcelo Bretas.

Mesmo com a anulação de todas as condenações, Lula ainda colheu em 2022 o fruto do desgaste no Rio: perdeu por Bolsonaro por 56,53% a 43,47%. A ofensiva de agora é para recuperar esse terreno.

O discurso de retomada do investimento na indústria de óleo e gás casa com a necessidade de voltar os olhos para o estado. Da mesma forma, o petista também olha para São Paulo: a ideia é, ao término de quatro anos, ter um número de investimento em infraestrutura para exibir superior ao da dupla Bolsonaro-Tarcísio.

Com o PAC, a eleição de 2024 será crucial para o avanço dessa retomada do Sudeste. Se conseguir, no Rio, aproximar Castro e Paes, Lula acredita que poderá enfraquecer Bolsonaro ainda mais e começar a trincar a polarização na “casa” do oponente.

 

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