sexta-feira, 19 de janeiro de 2024

Marcos Augusto Gonçalves - Marta Suplicy não é um Alckmin de saia

Folha de S. Paulo

Ex-prefeita tem histórico na base da pirâmide e não é queridinha da classe média

Até que ponto a volta de Marta Suplicy ao PT para ocupar a função de vice do candidato Guilherme Boulos, do PSOL, é comparável à escolha de Geraldo Alckmin para a chapa de Lula na eleição presidencial?

Alguma correspondência pode ser vista. A ex-prefeita brigou com a sigla na qual fez sua carreira política e apoiou o impeachment de Dilma Rousseff em companhia de conservadores.

Acontece que o desentendimento de Marta foi provocado em grande parte pela vontade dela de que Lula substituísse Dilma na corrida eleitoral, escolha que, com o correr do tempo, talvez tenha passado a fazer mais sentido. O "se" em história é um exercício muito duvidoso, mas sempre é possível especular se o líder do partido, caso eleito, teria feito melhor para conter a crise que acabou por expelir a presidente petista.

A divergência levou a ex-prefeita a filiar-se ao MDB (que depois abandonou) e a ser tratada pela militância como uma traidora que assumia enfim uma posição coerente com sua origem de classe. Apoiar Lula não era, de qualquer forma, uma ideia que pudesse ser classificada como uma deriva da ex-prefeita à direita ou centro-direita –faixa em que Alckmin, seu ex-rival em São Paulo, prosperou.

Para o pleito deste ano, a proposta de o PT não ter candidato já estava resolvida após um acordo prévio com Boulos, que desistiu de se apresentar ao governo para apoiar Fernando Haddad. Sabia-se que os petistas desta vez ficariam com a vice e estava contratado que a função caberia a uma mulher. É uma moldura bem mais definida do que aquela que permitiu a escolha do ex-tucano, PSB, para figurar na chapa presidencial.

Embora tenha deixado compreensíveis rancores, a nova conjuntura política favorece o retorno da dissidente à antiga casa, pelas mãos de Lula. Não se conhece mulher no partido com a experiência dela na administração pública de São Paulo e com a sua história de densidade eleitoral na base da pirâmide. São duas deficiências de Boulos, que na última eleição teve um desempenho insatisfatório na faixa de baixa renda e não é testado como administrador.

Não se trata, portanto, de apenas de amenizar a imagem "radical" do candidato com uma vice queridinha da elite ou da classe média raiz da cidade, o que ela não é. Marta não é um Alckmin de saias —ou de tailleur.

Seu nome está associado a medidas populares relevantes, como o Bilhete Único e os CEUs, um acerto replicado às dezenas por sucessores. Boulos tem procurado, com atitudes e discursos, mudar a fama de radical. Caberá a ele, sobretudo, e à sua campanha tentar responder de maneira convincente aos ataques que virão.

Não deixa de ser irônico que uma filha da elite branca de São Paulo venha a contribuir para aumentar as chances eleitorais nas periferias de um nome ligado a movimentos populares. Essa é ao menos a expectativa, baseada no passado, a ser confirmada por novas pesquisas sobre o que ela vai agregar de fato ou não. Marta cometeu erros na sua gestão e não foi reeleita por conta de alguns deles, mas se manteve bem avaliada.

Ao abandonar Ricardo Nunes (foi para a prefeitura a convite do tucano Bruno Covas), ela cria também uma lacuna na eventual tentativa de o prefeito querer contar com alguém de trajetória progressista para enfeitar sua campanha. Resta confirmar se Nunes acabará mesmo nos braços de Bolsonaro e da ultradireita, probabilidade que só aumenta.

Quanto ao futuro de Marta, se a chapa for bem-sucedida, a eleição de 2026, para governo e Presidência, poderá dizer alguma coisa. Por ora, para Lula, um êxito nas eleições municipais, com São Paulo no pacote, seria um trunfo relevante para a continuação do governo.

2 comentários:

Anônimo disse...

■■■TER MARTA DE VICE É FUNDAMENTAL PARA BOULOS CONTRA RICARDO NUNES

■■■Para a articulação da candidatura de Boulos, não importa se Marta Suplicy varre caminho para ele na classe média e na elite, até porque não varre:: ■Os votos que Boulos vai ter na classe média e na elite ele já teria sem Marta.

Ter Marta de vice em uma candidatura contra o prefeito Ricardo Nunes é crucial para Boulos de três modos, dois destes modos envolvendo a população pobre::
■1) Onde Marta tem votos é na periferia. Assim, Marta amplia os votos de Boulos entre os pobres e, mais que ampliar esses votos, Marta consolida esses votos para Boulos.
■2) E este ponto é mais importante que o anterior em Boulos ter Marta contra Ricardo Nunes::
=>a)Marta estava no governo de Ricardo Nunes, ocupando uma Secretaria de Governo.
=>b)A força eleitoral do prefeito Ricardo Nunes é na periferia.
=》Quando Marta se afasta de Ricardo Nunes e vai para junto de Boulos, isso tem como consequências::
●Ricardo Nunes perde votos onde ele é mais forte.
●Os votos que Ricardo Nunes perde vão para Boulos.

■■■Veja a importância de a vice de Boulos ser Marta::
■Se Marta repassar 1 milhão de votos para Boulos, estes votos sairão de Ricardo Nunes.

■É Ricardo Nunes que passa a ter 1 milhão de votos a menos;
■E é Boulos quem ganha estes 1 milhão de votos.

Na conta relativa isso significa que Marta alterou em 2 milhões a diferença entre os dois candidatos::

Anônimo disse...

■■O terceiro modo como Marta é importante para Boulos em uma candidatura à prefeitura é que Boulos é cru como administrador e vai disputar contra um candidato que já está tendo a experiência de ser prefeito.
■Marta empresta para a virgindade administrativa de Boulos a biografia da experiência de ter sido prefeita. E Marta é ex-prefeita bem avaliada na opinião pública.