O Estado de S. Paulo
A combinação de apoio à democracia com a performance gera o desejo de uma democracia melhor
Democracias estariam mais seguras diante de maior apoio popular? Ou, estariam em risco de retrocessos quando o apoio dos eleitores é menor? Há muito que se argumenta que regimes democráticos e seu respectivo apoio popular se reforçariam mutuamente. Que elevados níveis de apoio popular garantiriam que democracias permaneceriam fortes e duráveis. Ao mesmo tempo que experiências de governança democrática virtuosa gerariam suporte robusto da sociedade em favor da democracia.
Por outro lado, acredita-se que o
fortalecimento democrático funcionaria como uma espécie de termostato do apoio
popular; ou seja, em vez de uma democracia forte gerar mais apoio popular, o
aprofundamento da democracia provocaria uma reação inversa. Entretanto,
paradoxalmente, são justamente em momentos de risco de retrocessos democráticos
que o suporte popular em favor da democracia aumentaria.
Esse “efeito termostato” pode ser verificado
na série história de pesquisas de opinião sobre o apoio à democracia de 1989 a
2023. A diferença entre o “apoio à democracia” e a soma dos eleitores que
responderam “tanto faz” e “apoio à ditadura” sugere que o apoio à democracia
foi muito maior durante os anos do governo Bolsonaro e alcançou o seu ápice um
pouco antes das eleições de 2022, quando existia a percepção de grande temor de
retrocessos democráticos no Brasil.
Entretanto, no artigo Democracy, Public
Support, and Measurement Uncertainty, que acaba de ser publicado na revista
científica American Political Science Review, Yuehong ‘Cassandra’ Tai e seus
autores questionam essas crenças. Eles demonstram que a relação entre suporte
público e democracia desaparece quando levam em consideração o grau de
incerteza dos eleitores quanto à solidez da democracia e da sua capacidade de
entregar as políticas consistentes com as suas preferências.
O estudo, feito em 144 países por cerca de 33
anos (1988 a 2020), indica que o declínio do suporte popular à democracia não
sinaliza que a democracia necessariamente sofrerá retrocessos. Tampouco que
mudanças no padrão democrático que venham a indicar riscos de retrocessos
ativariam respostas tipo termostato de aumento do apoio popular em favor da
democracia, como se pensava.
O efeito da democracia no apoio popular, o
estudo sugere, pode ser consequência da sua efetividade, particularmente se a
democracia é acompanhada de redistribuição e diminuição de desigualdade. Ou
seja, é da combinação do suporte democrático com a satisfação em relação à sua
performance que surgem demandas por democracias melhores.
*Professor titular da Escola Brasileira de Administração
Pública e de Empresas (FGV Ebape) e sênior fellow do Cebri
2 comentários:
A democracia só é ''nociva'' por eleger políticos contrários à democracia.Quem é contra a democracia devia ser banido do processo eleitoral.
■Quem apoia ditadores e terroristas deve ser derrotado democraticamente em processos eleitorais.
= Especialmente os políticos de partidos que se dizem democráticos, mas que usam a democracia para reforçar os interesses de ditaduras e de terroristas.
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