Folha de S. Paulo
Decisão de planos de saúde de rescindir
contratos de usuários caros é um tiro no pé
Planos de saúde estão cancelando de forma unilateral os contratos de usuários "caros", isto é, de pessoas com condições crônicas e custosas, como o autismo, ou em meio a tratamentos particularmente dispendiosos, como os oncológicos. Alegam que estão zelando pela viabilidade financeira de sua carteira de clientes. Em tese, a lei lhes faculta rescindir apólices das modalidades empresarial ou por adesão que não tenham interesse em manter. Mas fazê-lo é dar um tiro no pé.
Planos de saúde são uma
combinação de poupança (usada nas despesas médicas ordinárias, como consultas e
exames periódicos) com seguro (usado em eventos catastróficos como acidentes ou
a descoberta das tais moléstias "caras"). É a parte seguro que faz
com que as pessoas contratem as operadoras. Se fosse só para guardar dinheiro
para consultas e check-ups, poderiam recorrer à velha caderneta de poupança. E
não é preciso ser um gênio dos negócios para perceber que, se as seguradoras
param de honrar seus compromissos, é questão de tempo para que as pessoas parem
de contratar seguros.
Regulações no Brasil tendem a ser malfeitas,
mas, no caso dos planos de saúde, capricharam.
Deixaram o consumidor ao relento no que há de mais importante, que é assegurar
que ele não tenha seus tratamentos interrompidos, e o encheram de mimos de
duvidosa eficácia médica.
Os reguladores vêm há anos ampliando as
coberturas sem uma boa análise de custo-benefício. Um exemplo: como não há mais
limites para consultas com psicólogos, um usuário pode passar 20 anos vendo um
psicanalista cinco vezes por semana e repassar toda a conta para o plano.
Difícil crer que não existam terapias mais breves igualmente eficientes.
Os planos não são santos, mas têm razão
quando se queixam das fraudes, que foram profissionalizadas e se tornaram
endêmicas, e da generosidade dos reguladores, que impossibilita um
gerenciamento racional do sistema.
Um comentário:
Muito bom!
Postar um comentário