quinta-feira, 18 de julho de 2024

Guga Chacra - Trump, divino ou despótico?

O Globo

Após sobreviver ao atentado, Trump se tornou figura messiânica para os súditos. Para opositores, é o apocalipse para a democracia

Quando era adolescente no Queens, uma das cinco regiões metropolitanas de Nova York, Donald Trump andava de metrô para ir à escola. Esses tempos, no entanto, ficaram em um passado distante do fim dos anos 1950 e começo dos 1960. A partir dos anos 1970, passou a se tornar um ícone da riqueza cafona emergente de relógios brilhantes, fofocas em tabloides, cassinos e limousines com motoristas. Visto como uma caricatura pela elite tradicional e progressista de Manhattan, ele incorporou essa imagem e decidiu mostrar que, mesmo sendo um herdeiro de um novo rico do Queens, podia erguer seu "castelo" no coração da Quinta Avenida com o nome de Trump Tower.

Ao ver a entrada de Trump na arena do time de basquete do Bucks em Milwaukee para a Convenção Republicana, lembrei desse histórico e de seu castelo de vidro em Manhattan. Chegava naquele momento uma espécie de rei para uma parcela da população americana. Falta a coroa, mas todo o seu comportamento remonta a uma realeza de filmes da Disney ou de séries como Game of Thrones. Ao redor dele, ficam seus áulicos. Quando chega, o ex-presidente acena a seus delegados, que seriam os súditos, na quadra. Senta-se em uma poltrona branca, que seria uma espécie de trono. Quando todos se levantam para aplaudir alguém discursando, Trump age de forma diversa. Em alguns casos, espera segundos e se levanta. Pode ser que bata palmas ou apenas observe. Em outros, prefere ficar sentado, mesmo quando elogiado.

Após sobreviver por milímetros a uma tentativa de assassinato, Trump se tornou para seus súditos uma figura messiânica. O trumpismo já era uma espécie de peronismo, com todo o partido se transformando em um movimento populista ao redor de um líder carismático. Agora, passou a ter contornos religiosos para seus seguidores. Eles amam Trump. Consideram-no um semideus. Há uma certeza de que ocorreu uma intervenção divina para salvá-lo no sábado passado.

George Washington, Abraham Lincoln e Franklin Roosevelt são admirados pela importância de cada um deles na História americana. Todos desfrutam de respeito de democratas e republicanos. Barack Obama e Ronald Reagan tinham fãs. Mas Trump é diferente. O candidato republicano conta com devotos.

Ao mesmo tempo, essa figura santificada pelos republicanos é vista como demoníaca por uma outra gigantesca parcela dos americanos. Seria o símbolo do mal. Um homem disposto a ser um déspota. O rei maligno dos filmes que precisa ser derrotado de qualquer maneira ou será o fim da democracia dos EUA.

Caso Trump seja vencedor nas eleições em novembro, seus seguidores tendem a celebrar como uma vitória religiosa, não política. Ao mesmo tempo, os opositores tendem a encarar como um apocalipse final para a democracia dos EUA, construída por gênios como Benjamin Franklin, Thomas Jefferson, que será mais uma vez dominada por um criminoso antidemocrático com tendências despóticas.

Essa é a dimensão do que está em jogo agora. Para enfrentar essa batalha, os democratas seguem incertos sobre a permanência ou não de um fragilizado Joe Biden. Pelo visto, a vitória será dos devotos.

 

5 comentários:

Mais um amador disse...

Há alguns anos, quando ainda assistia a GloboNews e via o Guga Chacra, às vezes tinha a impressão de acompanhar um torcedor, não um analista. O canal não me faz qualquer falta.

Anônimo disse...

Realmente as aparições do Guga Chacra estão parecendo mais a chefe de torcida organizada , sempre alvoroçado na sua forma de falar, tem pintado a vitória do Trump como fim do mundo, o fim dos Estados Unidos
Esta postura na verdade é uma histeria infantil mas faz parte da política da mídia Tradicional tomada pelo espectro ideológico da esquerda, que tenta colocar as suas pautas e opiniões goela abaixo do publico
Mas como ele mesmo já reconheceu o velho gaga senil do Biden com seus dias contados O Trump caminha, realmente ungido por Deus que o salvou de um assassinato covarde, rumo a casa Branca e será um vitória triunfal da democracia e dos valores do acidente cristão livre

Daniel disse...

Trump é tão mentiroso que chega a ser inacreditável que gente inteligente acredite nele sem nem pestanejar diante das dezenas de mentiras que ele lança em cada entrevista, discurso ou debate. A MENTIRA é a especialidade do trampo.

Mais um amador disse...

A MENTIRA foi o alicerce do discurso utilizado durante décadas pelas esquerdas, vistas a si mesmas como redentoras e porta-vozes da humanidade.
Guardadas as devidas proporções, a conta chegou.

😏😏😏

ADEMAR AMANCIO disse...

Eu penso que Trump não leva esta,tomara que minha intuição esteja certa.