domingo, 8 de setembro de 2024

Ruy Castro - Trevas a caminho

Folha de S. Paulo

Casos de racismo na Europa contrariam uma tradição de abraçar quem viesse de fora, não importava a cor da pele

Duke Ellington passava o ano se apresentando com sua orquestra em cidades dos EUA. Com ele, viajavam 18 músicos, alguns com suas mulheres, e a equipe de ajuda. Ao fim de cada show, tinham de procurar um hotel de beira de estrada que aceitasse hóspedes negros. O cantor Billy Eckstine, cujos olhos verdes fascinavam as mulheres brancas, não era aceito nos estados do Sul. E, em Las Vegas, Nat King Cole não podia frequentar e se hospedar nos cassinos e hotéis em que cantava para plateias de milhares. Duke, Billy e Nat eram negros. Eram também príncipes. Mas assim eram os EUA.

Por causa disso, muitos artistas negros americanos, principalmente jazzistas, se mudaram para a Europa, onde eram recebidos aos abraços. As cantoras Josephine Baker, Alberta Hunter, Adelaide Hall e Eartha Kitt, o clarinetista Sidney Bechet, o pianista Bud Powell, o baterista Kenny Clark e os saxofonistas Benny Carter, Don Byas, Lucky Thompson e Dexter Gordon foram só alguns dos que viveram anos em Paris, Londres e Copenhague e viajando pelo continente. No palco, eram estrelas. No dia a dia, sem problemas na rua —ou teriam voltado.

jazz só ganhou com isso. Em 1952, em Paris, o trompetista Clifford Brown, soterrado na orquestra de Lionel Hampton, fugia de madrugada para gravar com os músicos franceses. Foram esses discos que fizeram os americanos despertarem para o gênio que ele era. Em 1958, também em Paris, Miles Davis gravou a primeira trilha sonora ao vivo de um filme, improvisando à projeção do copião de "Ascensor para o Cadafalso", de Louis Malle, e ainda achava tempo para namorar Juliette Greco durante as trocas de rolo. Era como se a Europa tivesse olhos para tudo, menos para as cores de pele —nem mesmo contra imigrantes negros e pobres.

De repente, estamos vendo casos pesados de racismo e de volta da extrema direita na Alemanha, Áustria, Finlândia, França e até em Portugal. Supunha-se que, depois da Segunda Guerra, que quase a destruiu, a Europa fosse à prova dessa indignidade.

Nunca entendemos como há mil anos houve uma idade das trevas. Agora podemos estar às vésperas de entender.

 

7 comentários:

Mais um amador disse...

Mais uma ótima coluna.

Anônimo disse...

Coluna típico de um comunista no domingo, usa uma história verdadeira do passado, tira uma situação atual do contexto pra falar em "extrema direita" (desde que aprenderam essa palavra, não tiram da boca, como o órgão sexual masculino) e se cala para os crimes de seus cúmplices: o ministro de esquerda estuprador e seu amado ditador Maduro, usando palavras da própria esquerda , quem é cúmplice de estuprador também é estuprador.....

Anônimo disse...

Gado raiz detetado

Luiz Oliveira disse...

Que baixo nível.

ADEMAR AMANCIO disse...

Pois é,o mundo vai de ré.

marcos disse...

O covarde à direita coloca o penis no rabo todo dia e ofende o outro; é um imbecil. A Europa recebia dezenas de artistas americanos que lhes dava prazer e arte; hoje recebe milhares de árabes e negros muçulmanos africanos, que só dão trabalho, despesa e, não raro, bombas, tiros e facadas. É só isso. MAM

marcos disse...

Frouxo, covarde e tacanho. MAM