quarta-feira, 2 de novembro de 2016

Opinião do dia – Dora Kramer

Fala-se de 'virada' à direita como se algum dia o Brasil tivesse sido de esquerda

Em momento algum o País teve a prevalência da corrente de esquerda. Não nos esqueçamos: Lula só ganhou a eleição quando adaptou seu discurso ao centro e fez uma Carta aos Brasileiros jurando fidelidade à política econômica qualificada pejorativa e equivocadamente como neoliberal.

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Dora Kramer é jornalista. ‘Onda furada’, O Estado de S. Paulo, 2/11/2016

Crivella se compara com Doria e Kalil e diz que preservam 'valores tradicionais'

Débora Álvares – Folha de S. Paulo

BRASÍLIA - O prefeito eleito do Rio de Janeiro, Marcelo Crivella, disse nesta terça-feira (1º) que tem em comum com outros dois futuros administradores de capitais, João Doria (São Paulo) e Alexandre Kalil (Belo Horizonte), a "preservação dos valores tradicionais da civilização ocidental".

Para Crivella, senador pelo PRB, a eleição dos três é "uma mensagem contra a legalização do aborto, liberação das drogas e discussão de gênero nas escolas". "Insistem em dizer que é conservadorismo, mas conservadorismo tem a ideia de intolerância, o que não ocorre. Nós três somos bem democráticos na maneira de ser, agir".

Marcelo Crivella garantiu que fará uma gestão democrática. Questionado sobre a possibilidade de dar uma das secretarias do município ao movimento LGBT, ele disse que já existe uma coordenadoria. "Quero até reforçá-la. Agora, acho que devemos diminuir o número de secretarias e cargos comissionados".

Crivella foi eleito no domingo (30) com 59,36% dos votos válidos. Ele é bispo da Igreja Universal, fundada por seu tio Edir Macedo.

O prefeito eleito do Rio disse que se encontraria com o presidente Michel Temer nesta terça. Afirmou que insistirá na municipalização dos portos da cidade. "As receitas iriam para o município, mas também a responsabilidade na administração. Uma receita de, no mínimo, R$ 100 bilhões ao ano, só com alugueis. Existe também a receita do ISS".

Partidos nanicos são alternativa não ideológica, diz Greca, eleito em Curitiba

Estelita Hass Carazzai – Folha de S. Paulo

CURITIBA - De volta à Prefeitura de Curitiba depois de 20 anos, o prefeito eleito Rafael Greca (PMN) atribuiu o alto índice de abstenção nestas eleições à derrota das "bandeiras e ideologias pulverizadas pela Operação Lava Jato".

"Há uma desilusão de pessoas que idealizavam a política e viram seus ídolos desmoronarem", disse, em entrevista à Folha.

Greca, 60, que já passou pelo PDT, PFL e PMDB e foi ministro no governo FHC, afirmou que partidos nanicos como o PMN, pelo qual se elegeu, são "uma alternativa não ideológica" ao eleitor.

Depois de ver sua campanha desidratar no primeiro turno ao declarar que "vomitou com cheiro de pobre", ele atribuiu sua eleição "à inteligência do povo de Curitiba".

Lula critica conservadorismo paulista e 'concepção retrógrada' sobre o país

Marcelo Toledo – Folha de S. Paulo

RIBEIRÃO PRETO - O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva criticou nesta terça-feira (1) o que qualifica como "conservadorismo" paulista, a PEC 241 e a reforma do ensino médio. Disse, ainda, que a "desgraça" de quem não gosta de política é ser governado pela elite.

As afirmações foram feitas em Buri (a 257 km de São Paulo), onde o ex-presidente esteve para inaugurar um laboratório da UFSCar (Universidade Federal de São Carlos), que funciona numa área de 643 hectares que foi doada pelo escritor Raduan Nassar , autor de obras como o romance "Lavoura Arcaica" (1975).

Foi a primeira aparição de Lula após o segundo turno das eleições municipais, ocorridas no último domingo (30). Ele estava acompanhado do escritor, de Guilherme Boulos, membro da coordenação nacional do MTST, da deputada estadual Márcia Lia (PT) e do vereador mais bem votado na capital, o petista Eduardo Suplicy.

"Aqui em São Paulo nós temos um problema que é o conservadorismo. Desde a Revolução de 32, quando foi construída a USP, que eles não queriam universidade federal aqui para não ter pensamento federal no Estado de São Paulo. Uma ideia, uma concepção retrógrada, que não tem noção de país, não tem noção de que o país tem 8,5 milhões de quilômetros quadrados, que nós somos uma meganação, que tivemos as mais diferentes culturas desse mundo, e tem gente que não gosta disso. Tem gente que não gosta da ascensão de outros Estados", disse Lula em discurso a estudantes.

No Estado, o PSDB, partido do governador Geraldo Alckmin, conquistou prefeituras importantes, como a da capital, enquanto o PT definhou e tem como maior vitória a Prefeitura de Araraquara.

De acordo com ele, faltou força para evitar o "golpe", e os estudantes devem participar da política. "Nós temos que aprender que cada vez mais, ao invés de a gente negar a política, a gente tem que fazer política. Porque a desgraça de quem não gosta de política é que é governado por quem gosta. E quem gosta é sempre a minoria, é sempre a elite."

Reeleito no Recife, Geraldo Julio (PSB) diz que êxito não foi só conservador

Daniel Carvalho – Folha de S. Paulo

RECIFE - Responsável por encerrar a última esperança que o PT tinha de comandar uma capital do Nordeste ao ser reeleito com 528 mil votos (61,3% dos votos válidos), o prefeito do Recife, Geraldo Julio (PSB), vai defender internamente que seu partido lance candidato próprio à Presidência em 2018.

O prefeito diz rejeitar ser vice em uma eventual candidatura do governador de São Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB), e garante que ficará no cargo até o final de 2020. Em entrevista à Folha, Julio disse não ter "nenhuma relação" com o presidente Michel Temer e afirmou que as eleições deste ano não foram "só dos conservadores".

• Folha - Qual sua opinião sobre candidatura própria a presidente em 2018?

Geraldo Julio - A gente deve repetir o que fez em 2014 e apresentar um projeto para o país, apresentar uma candidatura à Presidência.

• O sr. consegue ver algum nome hoje?

Antes de discutir o nome, precisamos discutir a possibilidade, unificar a posição no partido. Vou levar [às instâncias partidárias] a ideia de que a gente deve ter candidatura [em 2018].

Tucano propõe IR para fundo de campanhas

Daiene Cardoso – O Estado de S. Paulo

/ BRASÍLIA - O financiamento de campanha eleitoral será um dos temas centrais da nova comissão criada na Câmara dos Deputados para discutir a reforma política. Uma das propostas que poderá entrar no debate é a do tucano Marcus Pestana (MG), que sugere a criação de um fundo especial constituído por 2% do montante total anual das receitas do Imposto sobre a Renda da Pessoa Física (IR).

O texto também propõe punições rigorosas para o uso de caixa 2, prevê a responsabilização de partidos e dirigentes, além da suspensão do funcionamento da legenda que praticar a contabilidade paralela.

O projeto de lei foi apresentado na semana passada pelo deputado do PSDB e prevê a criação de um Fundo Especial de Financiamento da Democracia (FFD), que se tornaria a única fonte de recursos para as atividades partidárias e para as campanhas eleitorais. A proposta veda qualquer forma de financiamento de campanha, em especial a privada. A previsão orçamentária de recursos terá como base de cálculo o imposto de renda do ano anterior.

Caciques do PMDB patinam no 2º turno

• Nomes como Renan Calheiros e José Sarney não emplacaram seus candidatos nas capitais

Ricardo Brito – O Estado de S. Paulo

/ BRASÍLIA - Balanço do desempenho do PMDB nas eleições municipais feito pelo Estado aponta que o resultado do segundo turno do partido ficou aquém das expectativas de suas principais lideranças regionais.

O partido obteve o maior número de prefeituras – 1.083 –, mas viu importantes quadros perderem influência em seus Estados, não bateu a meta na eleição para as capitais e ainda assistiu ao PSDB ultrapassá-lo em número de eleitorado governado nos municípios.

A meta do partido era conquistar 1,2 mil prefeituras e, pelo menos, cinco capitais. O partido, que lançou 16 candidatos a 26 prefeituras de capitais, só venceu em primeiro turno em Boa Vista, com a reeleição de Teresa Surita e, na segunda etapa, em Goiânia, com Iris Rezende, em Florianópolis, com Gean Loureiro, e em Cuiabá, com Emanuel Pinheiro.

Soninha aceitará convite de Doria para Secretaria de Assistência Social

• Nome da vereadora eleita deve ser oficializado na próxima semana; ela é contra o modelo adotado por Haddad no Programa De Braços Abertos

Daniel Weterman - O Estado de S.Paulo

SÃO PAULO - A vereadora eleita Soninha Francine (PPS) afirmou que vai aceitar o convite de João Doria (PSDB) para assumir a Secretaria da Assistência e Desenvolvimento Social na Prefeitura de São Paulo a partir de janeiro. Ela foi convidada pelo tucano e disse que dirá o "sim" o quanto antes. O nome de Soninha deve ser oficializado na próxima semana em entrevista coletiva.

"Não ter dito 'não' até agora é bem sugestivo, preciso responder o sim ainda hoje", disse Soninha ao Broadcast Político, serviço de notícias em tempo real da Agência Estado. Ela foi vereadora pelo PT entre 2004 e 2007 e subprefeita da Lapa em 2009, na gestão de Gilberto Kassab.

Perillo defende prévias para PSDB escolher candidato à Presidência

• Governador de Goiás diz que avalia disputar indicação com Aécio e Alckmin

Maria Lima - O Globo

-BRASÍLIA- Em meio ao acirramento da disputa entre o presidente do PSDB, Aécio Neves, e o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, pelo direito de ser o candidato tucano à Presidência em 2018, o governador de Goiás, Marconi Perillo, deixou claro ontem que também quer ser incluído nessa lista. Em conversa com O GLOBO, Perillo defendeu que seja deflagrada a discussão para a instituição das prévias previstas no estatuto do partido.

O governador de Goiás sustenta que o assunto comece a ser amadurecido nos debates para escolha dos novos líderes na Câmara e Senado, marcada para o fim deste ano, e prossiga durante a escolha do candidato a presidir a Câmara e na eleição da nova Executiva do partido, ano que vem. Aécio e Alckmin também já defenderam publicamente a realização de prévias para 2018.

— Pode ser que, na eleição de 2018, dada a expectativa concreta de vitória do PSDB, mais quadros queiram colocar seus nomes para a disputa da candidatura. Já temos ótimos quadros, com muita experiência, o governador Geraldo Alckmin, o Aécio, o José Serra. Já falaram no senador Tasso Jereissatti e outros. E, se tiver prévias, vou avaliar colocar meu nome — disse Perillo.

A oficialização do instrumento das prévias, com regras claras, diz Perillo, pode acontecer depois em uma reunião da Executiva Nacional. Ao contrário dos outros anos, quando o candidato do PSDB foi escolhido por consenso, Perillo avalia que as prévias são o caminho mais indicado desta vez.

Acordão na Alerj aprova estado de calamidade, mas sem demissões

• Emenda quer proteger servidor de carreira de possível corte de pessoal

- O Globo

O decreto de calamidade financeira do estado foi aprovado pela Alerj, mas acordo entre deputados e governo incluiu a proibição para a demissão de servidores. Uma emenda vetou que o estado dê novas isenções fiscais pelo período de dois anos, o que foi criticado pela Fecomércio. Um acordão feito durante a reunião do Conselho de Líderes da Alerj antes da votação do projeto de lei de calamidade do estado permitiu ao governo aprovar a medida por 40 votos a 14. Das 57 emendas apresentadas, 11 foram aceitas. Após a negociação, a proposta passou com garantias para os servidores, que não poderão ser demitidos.

O deputado Luiz Paulo Corrêa da Rocha (PSDB) diz que uma das emendas incluídas vai preservar os empregos dos funcionários:

— Trouxemos o que estava na justificativa feita pelo governo para dentro da lei. Os artigos da Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF) que permitem ao Executivo demitir se for ultrapassado o teto de gastos com pessoal ficam suspensos, enquanto durar o estado de calamidade.

Mas o tema demissão de funcionários também é tratado pela Constituição Federal e dá margem a interpretações. O secretário-chefe da Casa Civil, Leonardo Espíndola, que integrou a tropa de choque enviada pelo governo à reunião do Conselho de Líderes, lembra que o artigo 169 da Constituição prevê a demissão em caso de desenquadramento, ou seja, na eventualidade de o limite de gastos com pessoal ultrapassar o estipulado.

O governador ainda terá que sancionar a lei de estado de calamidade. O principal ponto é que a medida protege o governo de punições caso sejam ultrapassados alguns limites legais: o de pessoal está prestes a acontecer, e o teto de endividamento já foi atingido.

“GOVERNO PODERÁ AVANÇAR”
Espíndola diz que o governo não tem intenção de demitir servidores no momento. O objetivo da lei é basicamente garantir a continuidade de repasses federais:

— O reconhecimento do decreto de calamidade (editado em junho) pelo parlamento permite ao Executivo avançar na proteção dos servidores estaduais. Queremos manter os empregos e evitar demissões. Nosso objetivo é evitar a sanção mais dura da LRF, preservar o servidor público e, consequentemente, o atendimento à população. No passado, o decreto já permitiu que o estado conseguisse o aporte de R$ 2,9 bilhões do governo federal.

Outra emenda aprovada fixou a vigência do estado de calamidade, que termina em 31 de dezembro de 2017. Há ainda emenda que prioriza as verbas do orçamento, durante o período de calamidade, para o “pagamento dos servidores públicos e a manutenção dos serviços de saúde, segurança pública, educação e assistência social”. O governo também não poderá contratar com dispensa de licitação.

Os debates sobre o projeto foram acalorados no plenário. Toda a bancada do PSOL presente — Paulo Ramos está de licença —, formada por quatro parlamentares, votou contra. O PT — com dois deputados — também se opôs ao projeto. E os deputados Carlos Osorio (PSDB) e Marcelo Freixo (PSOL) entraram no debate.

— O PSOL votou contra o servidor. O projeto garante que os funcionários não poderão ser demitidos — atacou Osório. Freixo rebateu: — O Osório saiu do PMDB, mas o PMDB não saiu dele. O que não podemos é dar um cheque em branco ao Executivo. O que o governo quer é poder aumentar o endividamento.

Preocupados com o pacote anticrise que será apresentado sexta-feira, servidores que protestaram ontem em frente à Alerj e nas galerias da Casa ameaçam fazer greve geral, caso o governo não estabeleça um diálogo com os funcionários. Segundo o professor Túlio Paolino, do Sindicato estadual dos Profissionais de Educação (Sepe), os trabalhadores vão enfrentar as “provocações do governo”.

Jucá: governo dá aval para reajuste de 9 categorias

• Servidores da Receita Federal e do Itamaraty, além de peritos do INSS, estão entre os que podem ser beneficiados

Júnia Gama - O Globo

-BRASÍLIA- Após conseguir aprovar a proposta de emenda à Constituição (PEC) 241, que estabelece um limite para os gastos públicos, o governo decidiu abrir a porteira: dará sinal verde para que o Congresso aprove os aumentos de nove categorias de servidores. Além das cinco carreiras funcionais, entre elas Polícia Federal e Polícia Rodoviária Federal, que tiveram projeto de reajuste aprovado semana passada na Câmara, devem ser incluídas nas discussões as propostas de reajuste para Receita Federal, Itamaraty, fiscais do Ministério do Trabalho e médicos peritos do INSS.

É o que diz o senador Romero Jucá (PMDB-RR), que foi escolhido para ser o novo líder do governo no Congresso. Jucá afirmou ontem que o governo deu o aval e esses reajustes que já haviam sido negociados com os representantes dessas carreiras. A postura do Palácio do Planalto em relação aos reajustes se deve ao fato de a PEC 241, que estabelece um limite para os gastos públicos, já ter passado pela Câmara. Agora, no Senado, a expectativa é de uma tramitação mais tranquila para a medida. O temor, segundo o senador, era que a discussão sobre os reajustes fosse usada para dificultar a aprovação da PEC.

Venezuela: Julgamento de Maduro e protesto na capital são suspensos

- Valor Econômico

SÃO PAULO - O parlamento da Venezuela suspendeu, nesta terça-feira (1º), o julgamento sobre a responsabilidade do presidente Nicolás Maduro na crise do país, diante do início de um diálogo com o governo.

"Aprovado, concorda-se com adiar" os pontos da agenda desta terça, anunciou o chefe da Assembleia Nacional, Henry Ramos Allup, ao explicar que não se trata de uma "capitulação" da oposição, mas da busca por uma solução para a crise.

Se o Vaticano exigiu que se sentem em uma mesa, tem que ser feito. Não podemos nos negar essa possibilidade", afirmou Allup antes da votação.

A sessão foi convocada para a próxima terça-feira (8), às 14h.

Também foi anunciada a suspensão de uma marcha de opositores que aconteceria nesta quinta-feira (3) e que tinha intenção de ir até a sede do governo venezuelano, o Palácio de Miraflores.

Negociação
No domingo (30), governo e oposição se reuniram, sob a mediação do Vaticano, num museu nos arredores de Caracas.

Já passava das 20h (22h de Brasília) quando Maduro abriu a reunião no Museu Alejandro Otero dizendo que assumia um "compromisso total e absoluto com este processo de diálogo".

"Estendo a mão à MUD para dialogar", afirmou o presidente, diante do secretário-geral da MUD (Mesa da Unidade Democrática), Jesús Torrealba, coalização de oposição ao governo Maduro e representantes dos partidos de oposição Acción Democrática, Primero Justicia e Un Nuevo Tiempo.

Após o início do diálogo, cinco opositores do governo foram soltos nesta segunda-feira (31).

Onda furada - Dora Kramer

- O Estado de S. Paulo

• Fala-se de 'virada' à direita como se algum dia o Brasil tivesse sido de esquerda

Concluídas as eleições, inicia-se a fase das conclusões. No geral, apressadas quando se trata de fazer projeções. A mais difundida no momento é a que põe nas mãos do governador Geraldo Alckmin a legenda do PSDB para concorrer à Presidência da República em 2018, como consequência da vitória em primeiro turno de João Doria para a Prefeitura de São Paulo, da conquista de importantes cidades no Estado e da derrota do candidato do senador Aécio Neves à prefeitura de Belo Horizonte.

Nesses casos de A + B=C, somam-se bananas com laranjas e trata-se a política como se fosse ciência exata ou como algo que funcione no piloto automático. No meio, entre um acontecimento e outros há os fatos, há as circunstâncias e há gente, espécie humana, categoria instável, sujeita aos efeitos da chuva e das trovoadas.

Experiente no tema, Alckmin tratou anteontem de declarar algo que certamente não pensa: que, no momento, a disputa de 2018 não está na agenda dele nem do PSDB. É claro que está, mas é daquelas coisas que o político precavido não assume. Entre outros motivos para não se queimar e ver se consegue atravessar a distância entre uma eleição e outra com chance de sucesso na tarefa de ultrapassar obstáculos.

Agora, às claras - Merval Pereira

- O Globo

Com a confirmação do relator da comissão especial de combate à corrupção, deputado Onyx Lorenzoni, de que propostas contra a prática de caixa 2 “com dinheiro lícito” estão previstas no relatório que será lido para aprovação na semana que vem, está aberta nova etapa na tentativa de estabelecer uma linha divisória para a punição de parlamentares e ex-parlamentares que foram financiados de modo ilegal nos últimos anos.

Os políticos resolveram assumir abertamente a tese de que é preciso criminalizar o caixa 2, sem darem ênfase, porém, aos efeitos da nova lei, que é anistia ampla e suprapartidária. Eles não estão preocupados com os já presos na Lava-Jato, mas com os que podem vir a ser presos depois das delações da Odebrecht e outras empresas envolvendo doações aos políticos. Do mesmo modo, as empresas também têm interesse nessa definição legal.

A tal ponto que o deputado Lúcio Vieira Lima, irmão do ministro Geddel Vieira Lima, disse que, se a comissão especial de combate à corrupção não enfrentar o assunto, a comissão que trata da reforma eleitoral tratará dele. A postura é muito diferente da de meses atrás, quando tentaram aprovar na surdina, com voto de liderança, um projeto de lei com o mesmo objetivo.

A tribo debandou – Ruy Castro

- Folha de S. Paulo

- Um leitor me recorda que, há anos, sugeri nesta coluna que o Brasil instituísse o recall eleitoral. Ou seja, que, em qualquer momento, os eleitores pudessem pedir de volta os votos que haviam dado a um candidato e o ajudado a se eleger. Se esse recall fosse significativo, o governante deveria devolver o mandato, pegar o boné e retirar-se da cena política.

A ideia revelou-se impraticável, mas parece que, sem bagunçar o calendário, o Brasil fez algo do gênero nessas últimas eleições. Pediu de volta os votos que havia confiado a muita gente e os depositou na conta de outros políticos, alguns dos quais mal tinham entrado na história. Ou apenas os jogou no lixo.

As ilusões das eleições - *José Nêumanne

- O Estado de S. Paulo

• Na era cibernética, até o castigo ‘avoa’ nos ares para o PT de Lula e o chefão tucano Aécio

O principal derrotado nas eleições municipais de outubro de 2016 foi o Partido dos Trabalhadores (PT). E com ele afundaram nas urnas seus sucedâneos e tradicionais aliados de esquerda: de Rede, PSOL e PCdoB a nanicos revolucionários – os de centro-esquerda e os mais extremados.

Isso quer dizer que a centro-direita venceu a disputa, levando em conta estatísticas avassaladoras do gênero: 80% das prefeituras do País foram conquistadas por legendas, das gigantes às mínimas, todas componentes da base de apoio do governo-tampão de Michel Temer? Ou, ainda, o maior partido da oposição nos desgovernos petistas de Lula e Dilma, o PSDB, ganhou 863, ou seja, 25% dos pleitos, um recorde histórico? Nada disso!

Brincando com 2012 para ver 2018 – Elio Gaspari

- O Globo

• O passado ensina que a partir do presente só quem vê o futuro é a Mileide (Heloísa Périssé) de ‘A lei do amor’

Às vezes, o saber que não se sabe é tão importante quanto aquilo que se sabe. Em outras palavras, a ignorância é coisa valiosa. Depois de uma eleição, é comum e até mesmo saudável que se produzam explicações, quase sempre lógicas, aparentemente definitivas. Assim:

O PSDB e Geraldo Alckmin foram os grandes vencedores da eleição municipal.

Abatido pelos próprios malfeitos, o PT arruinou-se e, com ele, a esquerda, seja lá o que isso signifique. A eleição de 2016 marca a ascensão de uma maré conservadora na vida nacional.

Essas três conclusões estão certas. O problema surge quando, a partir delas, projeta-se o futuro. Voltando-se o relógio para 2012, pode-se visitar a sabedoria da ocasião.

Entre o primeiro e o segundo turno da eleição municipal, o Supremo Tribunal Federal julgou o processo do mensalão, José Dirceu foi condenado e, semanas depois, foi para a cadeia de braços erguidos e punho fechado.

A marcha fúnebre - Luiz Carlos Azedo

- Correio Braziliense

• As tentativas de mudar as leis a toque de caixa para favorecer os políticos envolvidos nos escândalos até agora fracassaram

A pulverização partidária revelada nas eleições municipais, aliada aos índices de anulação de votos e abstenções (ainda que levemos em conta apenas as cidades onde houve biometria), aponta para uma certa exaustão do atual modelo eleitoral e do quadro partidário. Dois fatores pesaram muito nesses resultados: a recessão econômica e a crise fiscal, de um lado, e o impacto das denúncias de corrupção e da Operação Lava-Jato, de outro. Em ambos os casos, pela responsabilidade que tinha à frente do governo, o PT foi o partido mais atingido, colhendo um resultado eleitoral desastroso e do qual dificilmente se recuperará até 2018.

Pode-se dizer que o PSDB e o PMDB foram os partidos que melhor se saíram na eleição, os números confirmam isso, mas a pulverização dos resultados entre legendas médias e pequenas revela que os dois partidos ainda não garantem uma saída política para a crise que o país atravessa. Isso vai depender do sucesso do governo Temer, de um lado, e da capacidade de o bloco de forças que o apoia chegar a uma candidatura unificada, o que não é fácil. O PSDB dificilmente abrirá mão de um candidato próprio, porém é o PMDB que articula os demais partidos da base.

A reforma esquecida - Monica de Bolle

- O Estado de S. Paulo

• Não dá para ignorar a necessidade de mudanças no sistema financeiro brasileiro

Entre o vigoroso debate sobre a PEC dos gastos e a acalorada discussão vindoura sobre a reforma da Previdência, pouco se fala a respeito de outra reforma de sumária importância para o Brasil: a reforma do sistema financeiro. Não se trata apenas do eterno debate sobre o nível anômalo dos juros brasileiros, mas de idiossincrasias que tornam o Brasil um país para lá de esquisito, país onde a política monetária não apenas opera com escopo bastante reduzido, mas traz consequências pouco conhecidas sobre papel distributivo de natureza única, verdadeira guariroba brasileira.

Por diversas vezes discorri sobre o papel do crédito subsidiado e do crédito direcionado no Brasil. O crédito direcionado é aquele destinado a setores e programas específicos, sem que se tenha clareza sobre tais decisões alocativas. Entre 2008, antes da crise internacional, e 2015, o crédito direcionado como proporção do crédito total aumentou de uns 30% para cerca de 50%. Ou seja, metade do crédito oferecido hoje no País por grandes bancos públicos e privados não é o que economistas chamam de “crédito livre”, isto é, recursos que não estão sujeitos a algum tipo de normativa.

A igualdade é difícil - Roberto DaMatta

- O Globo

Uma fábrica é uma máquina de igualdade. Seu objetivo é produzir coisas iguais, e sua reputação tem a ver com a capacidade de produzir perfeitamente o mesmo do mesmo. O problema é que, começando com o seu proprietário, a igualdade da produção em massa promove, em outros níveis, uma brutal desigualdade.

Por outro lado, é impossível não constatar a impossibilidade de produzir objetos idênticos em sociedades não industriais. Quando eu vivi com os índios apinayé, surpreendia-me o fato de todos saberem quem eram os autores dos objetos — cestas, esteiras, arcos, bordunas, flechas ou enfeites — que eu havia adquirido para o museu onde trabalhava.

O igual é o modelo do fabricado. Todos seriam iguais perante a lei e igualmente iguais perante certos bens e serviços oferecidos pelo Estado ou adquiridos por meio do dinheiro, cujo valor é — vale falar no óbvio — igual para todos. Mas não se pode esquecer do “perante”. É a lei que é igual para os diferentes entre si.

Numa sociedade cujo ideal é a igualdade, as desigualdades seriam lidas como anomalias, perversões e hóspedes não convidados. Mas nem nas sociedades tribais fundadas na família, com tecnologia produzida por seus próprios membros, existe uma igualdade concreta. Há desigualdades, mas elas são transformadas em particularidades e pertencimentos. Cada grupo interno — metades, associações, linhagens — diferencia produzindo interdependências sem as quais o sistema ficaria abalado.

Uma ‘consulta’ muito estranha – Editorial / O Estado de S. Paulo

Começou a tramitar ontem no Senado a PEC do Teto, já com parecer favorável, sem emendas, do relator Eunício Oliveira (PMDB-CE). Aprovada em dois turnos por ampla maioria na Câmara, essa proposta, considerada vital pelo governo, será votada agora, também em dois turnos, pelo Senado. O Palácio do Planalto confia em que a decisão da Câmara será tranquilamente confirmada pelos senadores, permitindo que a PEC seja promulgada até 13 de dezembro. Chama a atenção, contudo, o resultado colhido até o meio-dia de ontem pela consulta pública promovida pelo Senado na página e-Cidadania de seu site: cerca de 95% das quase 300 mil pessoas que haviam se manifestado são contra a PEC do Teto.

Das duas, uma: ou o Congresso está prestes a tomar uma decisão ao arrepio da vontade da maioria dos brasileiros ou essa pesquisa não reflete exatamente a realidade. A verdade, como de hábito em questões muito polêmicas, parece estar no meio. Há, efetivamente, no Senado, uma minoria oposicionista, integrada principalmente pelo finado PT e aliados, que perdem o pelo, mas não perdem o vício. Quem acompanhou o aguerrido desempenho dessa turma na comissão do Senado que aprovou o processo de impeachment sabe como ela atua: muito grito e pouco senso, porque quando a derrota é inevitável o que importa é marcar posição. E não se pode ignorar que o tipo de consulta feita pelo Senado se presta à manipulação por qualquer grupo militante.

Crivella precisa entender as razões da vitória – Editorial / O Globo

• O prefeito eleito deve saber que teve menos votos que a soma dos sufrágios de Freixo, com os anulados e os em branco, e isso significa que ganhou por exclusão

Ponta de lança de antigo projeto evangélico de ter representantes eleitos no Executivo e atuar nas entranhas do poder, estratégia em que se destaca a Igreja Universal, o bispo licenciado Marcelo Crivella, do PRB, é o primeiro deles a chegar mais alto.

Senador, ministro da Pesca de Dilma Rousseff, contra quem votou no processo de impeachment, Crivella conseguiu, enfim, despir-se, em alguma medida, da imagem de “bispo” e apresentar-se como político, para vencer a eleição municipal na segunda cidade do país, depois de duas tentativas frustradas.

Deve ter aprendido lições nessas derrotas, assim como precisará entender por que venceu, para conseguir governar com chances mínimas de êxito. A abertura a parcerias “laicas” já é bom sinal, embora nesse pacote tenha aceitado alianças que podem prejudicá-lo ao induzi-lo a aderir a práticas populistas clássicas no Rio e no estado. Será mais do mesmo.

Soneto da Busca – Carlos Pena Filho

Eu quase te busquei entre os bambus
para o encontro campestre de janeiro
porém, arisca que és, logo supus
que há muito já compunhas fevereiro.

Dispersei-me na curva como a luz
do sol que agora estanca-se no outeiro
e assim também, meu sonho se reduz
de encontro ao obstáculo primeiro.

Avançada no tempo, te perdeste
sobre o verde capim, atrás do arbusto
que nasceu para esconder de mim teu busto.

Avançada no tempo, te esqueceste
como esqueço o caminho onde não vou
e a face que na rua não passou.

Paulinho da Viola - Timoneiro