segunda-feira, 9 de maio de 2011

Impacto sobre salários deve ser forte

Sergio Lamucci

São Paulo - Com a alta mais forte dos índices de preços, os aumentos reais de salários neste ano estão mais modestos do que em 2010, quando não raro chegaram a superar a inflação em 3%. Esses reajustes reais menores, porém, tendem representar um ganho mais expressivo nos 12 meses à frente, quando a inflação deverá perder fôlego, como aponta o economista-chefe da corretora Convenção, Fernando Montero.

"Paradoxalmente, salários corrigidos pela inflação passada, mesmo sem nenhuma correção real, podem ter ganhos maiores nos 12 meses seguintes do que no ano passado", afirma Montero. Com isso, o rendimento do trabalho continuará a ser um impulso significativo para a demanda.

O economista compara a situação de reajustes no terceiro trimestre de 2010 com a do mesmo período deste ano, quando haverá a combinação de inflação ao consumidor rodando acima de 7% no acumulado em 12 meses com a concentração de dissídios de categorias importantes de trabalhadores, como os metalúrgicos do ABC.

No terceiro trimestre de 2010, a média do Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC), usado em geral como parâmetro para as negociações salariais, teve um aumento médio de 4,5% em 12 meses. Uma categoria que teve um aumento real de 3% nessa ocasião viu os salários subirem 7,6% em termos nominais. Nos 12 meses seguintes, porém, a inflação média se acelerou, chegando a 6,6%. "Com isso, o ganho real efetivo de salários foi de 1,1%", diz Montero.

Já no terceiro trimestre deste ano, a média do INPC deverá estar em 7,2% em 12 meses. Para mostrar o impacto significativo da inflação futura em queda sobre a renda, Montero dá um exemplo em que os trabalhadores conseguem apenas os 7,2%, sem aumento real. "Num cenário em que a projeção do mercado para a inflação média dos 12 meses seguintes será de 5,5%, o ganho real efetivo dos salários será de 1,5%", diz ele. Como algumas categorias devem conseguir aumentos acima da inflação passada, os ganhos reais nos 12 meses à frente podem ser ainda maiores. O mesmo vale se a queda da inflação futura for ainda mais significativa, observa Montero.

"Os dissídios no terceiro trimestre envolvem algumas categorias fortes e mobilizadas, que podem conseguir aumentos reais, ainda que as negociações devam ser mais difíceis do que no ano passado", diz o economista-chefe da Máxima Asset Management, Elson Teles.

Ele acredita que o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), que nos 12 meses até abril somou uma variação de 6,51%, deverá atingir 7,2% em agosto e 7,1% em setembro, nessa base de comparação. Nos meses seguintes, a expectativa é de que o indicador perderá força em 12 meses, até fechar o ano em 6,4% a 6,5%, praticamente no teto da meta perseguida pelo Banco Central, de 6,5%.

Montero nota ainda que algo na mesma linha do que ocorrerá com os dissídios vai se dar com o salário mínimo em 2012. No ano que vem, diz ele, o valor do piso salarial deverá passar de R$ 545 para R$ 625, devido à regra do reajuste que combina a variação de 6% do INPC de 2011 e do crescimento do PIB de 7,5% de 2010, além de um arredondamento do valor para um múltiplo de R$ 5.

Levando em conta que a inflação em 2012 será menor do que a deste ano e que em 2011 o piso valeu R$ 540 em dois meses (janeiro e fevereiro), o salário mínimo poderá ter um ganho médio real superior a 9%, diz Montero. "Somente o ganho real do salário mínimo resulta num aumento de quase 0,4% no PIB."

Essa situação traz algumas preocupações, diz Montero. Segundo ele, um mercado de trabalho com elevado grau de indexação tende a implicar mais custos salariais, menor competitividade das empresas e "uma combinação de tudo o que leva a realimentação inflacionária". Num momento em que há dificuldades para trazer a inflação de volta à trajetória das metas, é um quadro complicado.

O BC aposta que o IPCA voltará ao centro da meta, de 4,5%, em 2012. As projeções do boletim Focus apontam para um número de 5%, enquanto Teles vê algo mais próximo de 5,5%. "Haverá o forte aumento do salário mínimo e muita inércia inflacionária. Acho difícil que o IPCA caia mais do 1 ponto percentual no ano que vem."

FONTE: VALOR ECONÔMICO

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