quinta-feira, 17 de novembro de 2011

O capital entra pelos fundos? :: Vinicius Torres Freire

Aplicações financeiras entram disfarçadas de investimento "produtivo"?

Economista diz que não

A impressionante quantidade de dinheiro que tem entrado no país sob a rubrica de "investimento estrangeiro direto" causa suspeita e controvérsia desde pelo menos meados deste ano.

A querela é do tipo "quando a esmola é muita, o santo desconfia". Desconfia-se de que parte do dinheiro registrado como investimento direto seria na verdade aplicação no mercado financeiro, em ações e, principalmente, em papéis de renda fixa (em juros). Tais operações foram taxadas pelo governo desde 2009 (IOF) e de modo ainda mais salgado no final de 2010.

O Investimento Estrangeiro Direto (IED) é o nome que as estatísticas econômicas dão ao dinheiro que entra num país para comprar, ampliar ou criar empresas. Em outubro passado, o IED equivalia a mais de 3,3% do PIB (entradas acumuladas em 12 meses). Em outubro de 2010 era cerca de 1,4% do PIB.

Nesse mesmo período, o investimento estrangeiro em ações brasileiras e em títulos de renda fixa negociados no país caiu de 2,5% do PIB para o atual 0,7% do PIB.

Suspeita-se de que parte do IED seja apenas aplicação financeira que arrumou uma brecha legal (ou ilegal) para fugir do IOF salgado.

O economista Darwin Dib, da equipe de pesquisa econômica do banco Itaú, discorda. Em relatório do banco para clientes, Dib chama a suspeita de teoria da conspiração.

Os argumentos do economista:

1) A retomada forte do IED no Brasil começou em janeiro de 2010, muito antes do IOF salgado sobre aplicações em ações e em renda fixa;

2) O interesse dos investidores externos pelo mercado de renda fixa e de ações diminuiu não apenas devido ao IOF maior. No final de 2010, o imposto subiu ainda mais para operações em renda fixa, mas não para ações. Porém, a tendência de queda nos dois tipos de investimento foi a mesma (Dib mostra gráficos razoavelmente convincentes para ilustrar a tendência);

3) Parte do IED é composta de "empréstimos intercompanhia" (recursos emprestados por uma múlti para sua filial estrangeira). Houve aumento razoável do dinheiro investido no país por meio dessa rubrica. Aí estaria a chave do "disfarce" de parte do IED em aplicação financeira -uma burla.

Dib argumenta que não é o caso. O aumento da entrada de dinheiro classificado na rubrica "empréstimos intercompanhia" nos últimos 12 meses ocorreu em relação a uma base baixa, deprimida.

Em 2008, explica Dib, houve grande baixa nos empréstimos intercompanhia devido à seca de crédito mundial, dada a explosão da crise financeira nos EUA.

Depois do colapso financeiro de setembro de 2008, os "empréstimos intercompanhia" caíram de 35% do total do IED para 5% em apenas dez meses, segundo os dados de Dib.

Em suma, o aumento desses empréstimos nos últimos 12 meses é a recuperação de um tombo pontual.

4) Para reforçar essa tese, Dib diz ainda que os "empréstimos intercompanhia" passaram a aumentar antes do IOF mais salgado. Mais: tais empréstimos (aqueles com vencimento em até 720 dias) pagam a mesma alíquota de 6% das aplicações em títulos de renda fixa;

5) Outras tentativas de burlar o IOF (por exemplo, por meio de aumento de capital) são ainda mais custosas e perigosas e implausíveis.

FONTE: FOLHA DE S. PAULO

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