Dizendo ter a "consciência tranquila dos inocentes", o petista José Genoino, condenado no julgamento do mensalão por corrupção ativa e formação de quadrilha, tomou posse ontem como deputado federal. Entre os 17 parlamentares que assumiram o mandato, estava Colbert Martins, preso na Operação Voucher, da PF
Condenado e com mandato
Ao tomar posse na Câmara, Genoino se agarra à Constituição para justificar decisão
Evandro Éboli, Isabel Braga
Sem arrependimento. Ao assumir o sétimo mandato, Genoino disse ter "a consciência tranquila dos inocentes"
ECOS DO MENSALÃO
BRASÍLIA - Sob aplausos, o ex-presidente do PT José Genoino (SP), com outros 14 suplentes, tomou posse ontem como deputado na Câmara, em cerimônia restrita aos parlamentares que assumiam e a seus familiares. Mais tarde, outros dois parlamentares também foram empossados. O mais visado entre os novos deputados, Genoino disse que assume seu sétimo mandato com a consciência dos inocentes e citou cinco vezes a cláusula pétrea da Constituição que considera culpado só quem teve processo transitado em julgado. Esse trecho da Carta, que ficou o tempo inteiro a seu lado, foi seu argumento de defesa.
- Tenho a consciência serena e tranquila dos inocentes. Mais cedo ou mais tarde a verdade aparecerá - disse Genoino, em entrevista coletiva após sua posse, já sem apresentar o abatimento dos dias da condenação.
Genoino foi condenado pelo Supremo Tribunal Federal (STF), no julgamento do mensalão, a seis anos e 11 meses de prisão por corrupção ativa e formação de quadrilha. Ele evitou falar sobre isso, dizendo apenas que o processo continua. Entre os empossados, foi o único efusivamente aplaudido, num gesto de desagravo dos colegas petistas que prestigiaram a posse.
O ex-deputado Colbert Martins (PMDB-BA), preso na Operação Voucher, que investigou desvios de recursos no Ministério do Turismo em 2010, tomou posse, sozinho, mais tarde. Na época, ele era secretário nacional de Turismo.
- Foram muitas palmas para o Genoino, até eu bati palma. É o exercício da democracia. Se ele está aqui, foi o povo que o elegeu. Evidentemente, não há como negar o constrangimento, mas foi o Supremo quem decidiu (condená-lo). Ele merece respeito pela sua história - disse o deputado Osvaldo Reis (PMDB-TO), que também foi empossado ontem.
Petistas vão a posse para prestigiar Genoino
Na entrevista, Genoino recebeu apoio de parlamentares petistas, que fizeram questão de se perfilar atrás dele, num gesto de solidariedade. Estavam presentes o ex-presidente do PT Ricardo Berzoini (SP), o líder do partido na Câmara e seu irmão, José Guimarães (CE), Sibá Machado (AC) e José Mentor (SP).
Genoino disse, antes do início da entrevista, que não vive sem a política e fez uma retrospectiva de sua vida, desde a perseguição da ditadura até integrar o governo. Mas fugiu das perguntas sobre o mensalão.
O petista minimizou possível resistência de parlamentares à sua presença na Câmara dos Deputados e disse que sempre se deu bem com os colegas no Congresso:
- Não provoco nem me intimido. Tenho longa experiência e sempre respeitei a todos. Sem revanchismo. Sinto-me confortável porque estou cumprindo as regras e as normas do meu país. Fui eleito suplente por 92.326 votos em 2010, em plena pré-campanha condenatória.
Genoino também falou sobre como conviveu, nestes últimos meses, com o julgamento do mensalão, encerrado em novembro:
- As noites, às vezes, são longas. Mas a minha paciência é mais longa que os momentos de escuridão.
"não serei motivo para crise entre poderes"
O deputado afirmou que acatará qualquer decisão do STF, mesmo que discorde dela:
- Respeito os poderes, mesmo discordando de certas decisões. Sim, vou cumpri-las, porque quem respeita cumpre.
Questionado sobre a crise entre o Supremo e a Câmara por conta da polêmica sobre a perda de mandato dos quatro deputados condenados no mensalão (ele, Valdemar Costa Neto, Pedro Henry e João Paulo Cunha), respondeu:
- Não serei motivo para crise entre poderes.
Disse que será um parlamentar como sempre foi, de debates, de ideias e de plenário. E que atuará na defesa dos governos Lula e Dilma.
O parlamentar disse também que, por onde anda, tem recebido apoio das pessoas.
- Conheci os dois lados da política: o da poesia e o do sangue. O lado do sangue está devidamente exposto.
E afirmou ainda que recebe apoio nas ruas:
- Por onde eu ando, recebo manifestação de apoio e solidariedade.
O petista afirmou ainda que não consegue viver sem a política, com ou sem mandato.
- Faço política porque tenho causas e sonhos.
Com a renúncia dos 26 deputados que assumiram no dia 1º como prefeitos, eleitos nas últimas eleições, 23 suplentes foram efetivados no cargo, e três deputados tomaram posse como suplentes. Genoino, assim como Bernardino de Oliveira (PRB-PR) e Renato Andrade (PP-MG), assumiu o cargo pela primeira vez nesta legislatura, por isso teve que tomar posse ontem. Genoino e Oliveira já foram deputados; Andrade foi eleito pela primeira vez.
Fonte: O Globo
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