Lula diz que partido não pode 'pagar o pato' e colegas forçam saída para evitar desgaste
Erich Decat - O Estado de S. Paulo
BRASÍLIA - O PT fechou ontem o cerco ao vice-presidente da Câmara, André Vargas (PT-PR). Oficialmente, o partido já pede que ele abra mão do cargo na Mesa Diretora. Nos bastidores, trabalha para que o deputado renuncie ao mandato.
O plano de rifar Vargas para evitar a contaminação da campanha eleitoral deste ano foi intensificado após o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmar, em entrevista ontem a blogueiros, que o deputado precisa esclarecer o envolvimento com o doleiro Alberto Youssef, preso pela Polícia Federal, para o PT não "pagar o pato".
No mesmo momento da entrevista, a bancada do PT na Câmara se reunia para discutir sobre o futuro do mandato do vice-presidente da Câmara. Antes mesmo de terminar a reunião, o vice-líder do governo, Henrique Fontana (PT-RS), deixou a sala e passou a defender publicamente que Vargas renunciasse ao menos ao cargo de direção que ocupa na Casa. "Ele tem que entregar a Vice-Presidência, que é um posto na Câmara essencial ao PT, e neste momento ele não tem como atuar e não pode trancar isso", afirmou.
Cientes do enfraquecimento de Vargas dentro do partido alguns setores já se movimentam para substitui-lo no cargo da Mesa. "Ele está de acordo. Ele vai deixar a vice-presidência no momento certo, mais para a frente", afirmou o deputado Carlos Zarattini (PT-SP), que conversou com Vargas na manhã de ontem. Essa possível renúncia do deputado da vice-presidência "nos próximos dias" também reacende a disputa interna entre as correntes do partido. Adversários do grupo de Vargas tentarão emplacar no lugar dele o nome do ex-líder do PT Paulo Teixeira (SP). Em dezembro de 2012, Teixeira chegou a disputar com Vargas a indicação para a vice, mas perdeu por 48 votos a 37.
Segundo pessoas próximas ao paranaense, a maior preocupação dele hoje é com a instauração do processo disciplinar no Conselho de Ética que pode culminar na cassação do mandato. A instalação das investigações no colegiado está prevista para ocorrer na tarde de hoje.
Pelo regimento, o relator escolhido deve apresentar um parecer, contra ou a favor, da perda do mandato, em 90 dias.
O presidente do Conselho, deputado Ricardo Izar (PSD-SP), não descarta, entretanto, manobras regimentais por parte do PT para adiar o início das atividades na comissão. "Acho que estão preparando alguma coisa porque toda hora vai alguém do PT da área jurídica lá no Conselho questionando um determinado ponto do regimento. Regimentalmente pode acontecer qualquer coisa", disse Izar.
Aliados de Vargas também tentaram pressionar alguns integrantes do colegiado para que o processo seja inicialmente instalado na corregedoria da Casa para só depois tramitar no Conselho de Ética. "Hoje a questão principal não é a permanência na vice, mas o Conselho de Ética", afirmou Zarattini.
Ficha Limpa. Caso seja iniciado o processo no colegiado, em tese, Vargas, se for cassado, seria enquadrado na Lei da Ficha Limpa, não podendo disputar as próximas eleições. Por outro lado, caso Vargas renuncie antes da instalação do processo, não há um entendimento jurídico, se ele também ficaria inelegível. O tema, no entanto, não está pacificado.
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