domingo, 12 de junho de 2016

Promessas vãs, ao vento - Eliane Catanhêde

- O Estado de S. Paulo

Não bastasse deixar a economia destroçada e um saldo de 11,5 milhões de desempregados, a presidente afastada Dilma Rousseff vem agora prometer “um novo governo” para a minoria que apoia cegamente o PT e acenar com um plebiscito sobre eleições antecipadas para tentar seduzir os senadores que votam o impeachment definitivo.

Novo governo a esta altura? E eleições já? Seria brincar com fogo. Os candidatos não se sabe quais serão, mas o Congresso e os partidos continuarão os mesmos, acossados por denúncias e acordando todas as manhãs assombrados por novos inquéritos ou pedidos de prisão. O presidente sai, a crise fica. Melhor dar dois anos e meio para o governo interino tourear a economia e a Lava Jato limpar o terreno.


Como Dilma não tem liderança nem capacidade de iniciativa, são arroubos tardios, que carecem de credibilidade e não têm sustentação na realidade. Logo, são promessas vãs, palavras jogadas ao vento. Afora uma ou outra publicação no exterior, o mundo político não dá mais ouvidos a Dilma, nem acredita na sua volta espetacular ao poder.

Segundo o tucano Aloysio Nunes Ferreira, líder do governo interino no Senado, nem os petistas querem derrubar o impeachment. E provoca: “Quais os candidatos do partido que vão querer Dilma nos palanques em outubro? O Fernando Haddad vai querer em São Paulo?”

Enquanto Dilma fala, o PT age, lambendo as feridas, rearticulando-se para seu novo momento, recuperando energia como oposição e traçando cenários futuros, muitas vezes em paralelo à sua cúpula formal.

O presidente nacional do partido, Rui Falcão, convocou uma greve geral para sexta-feira, e o que se viu? As centrais aliadas reconheceram a inviabilidade e a greve foi trocada por manifestações. São Paulo vivia mais um dia corrido, como qualquer outro, enquanto Michel Temer almoçava em Brasília com as centrais não petistas, acertando uma pauta comum.

Além dessa polarização interna, vivemos em dois mundos. Um no Brasil, onde a Lava Jato segue seu rumo, quem deve teme, Eduardo Cunha caminha para o cadafalso, as instituições funcionam, a nova oposição comporta-se como oposição e o governo interno vai, aos trancos e barrancos, desenhando uma direção para a economia.

O outro mundo é no exterior, onde há uma justa perplexidade com a qualidade ética da cúpula do PMDB e onde as conexões petistas são mais organizadas e ágeis. As versões “de esquerda” e as teses “libertárias” têm mais apelo e glamour, a ponto de levar cinco gatos pingados (sem tirar nem por) a protestar nos portões da Casa Branca contra o “golpe” no Brasil. Seria cômico, não fosse patético.

Jantando em Brasília, na semana passada, um respeitado analista político dos EUA registrou sua surpresa: “Não há toque de recolher, não vi tanques nem soldados, o Supremo funciona, a Câmara e o Senado também, a imprensa é livre, o presidente interino faz reuniões de trabalho, a presidente afastada fala o que quer. Cadê o golpe?” Boa pergunta.

Para tentar um equilíbrio melhor entre o mundo interno e o mundo exterior, Temer reforça as equipes de comunicação do Planalto e do Itamaraty com a mídia internacional, mas cheio de dedos para tocar num ponto delicado: quem, e como, financia militantes do MST ou da CUT para protestos, por exemplo, em Paris e São Francisco?

O governo Temer está a léguas da unanimidade, enfrenta pressões do capital e do trabalho, depende de um PMDB recheado de candidatos à prisão. Seu trunfo é ter equipe econômica, instrumentos e chance de estancar a recessão. Mas o tempo corre e, depois de confirmado o impeachment, vem outra etapa. Não necessariamente mais fácil.

Fim de linha. STF, Moro, PT, PSDB e seus aliados diretos fecham o cerco sobre Eduardo Cunha, atingindo até sua único ponto fraco: a família. É questão de tempo

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