Em 1 mês de governo, Temer teve vitórias e dias de turbulência
Gustavo Uribe, Valdo Cruz – Folha de S. Paulo
BRASÍLIA - Em um mês à frente do Palácio do Planalto, completado neste domingo (12), Michel Temer frustrou expectativas políticas de um lado, agradouna economia, conseguiu aprovar medidas que dormiam nas gavetas do Congresso e viveu dias de turbulência depois que a Operação Lava Jato chegouperto da cúpula do seu partido, o PMDB.
Criticado por montar um ministério com nomescitados na Lava Jato e sem mulheres, Temer perdeu dois titulares de pasta logo de saída, Romero Jucá (Planejamento) e Fabiano Silveira (Transparência).
Em seguida, a Procuradoria-Geral da República pediu a prisão de aliados como Jucá, Renan Calheiros, José Sarney e Eduardo Cunha, gerando dúvidas sobre o futuro do julgamento do impeachment no Senado e a consequente permanência de Temer no Palácio do Planalto.
Neste curto espaço de tempo, deu ainda munição à presidente afastada, Dilma Rousseff (PT), com as idas e vindas de seu governo. Extinguiu e recriou o Ministério da Cultura e obrigou ministros a se retratarem, como Ricardo Barros (Saúde), que anunciou que era preciso rever o tamanho do SUS e depois recuou.
Foi festejado por empresários ao escalar Henrique Meirelles na equipe econômica, Pedro Parente na Petrobras e Maria Silvia Bastos Marques à frente do BNDES. E deu demonstração de força no Congresso Nacional ao aprovar medidas como a DRU (mecanismo que desvincula receitas da União).
Neste um mês de governo, sob pressão tanto de aliados como de adversários, o peemedebista abriu mão do estilo reservado e paciente e passou a fazer desabafos e a manifestar sinais de irritação.
Em conversas com assessores e aliados, reclama da pecha de "golpista" dada a ele por Dilma, das acusações de tentar blindar o presidente afastado da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), e do envolvimento de auxiliares em escândalos de corrupção.
Com as insinuações de que o impeachment teve como objetivo "estancar a sangria" da Operação Lava Jato, passou os últimos 30 dias repetindo ter compromisso com as investigações da Polícia Federal e que o governo interino não fará interferências.
Irritado com os protestos de movimentos de esquerda contra ele, chegou a dar um tapa na mesa em uma reunião televisionada e fez críticas em pelo menos três discursos oficiais aos manifestantes. "Enquanto protestam, nós passamos", afirmou.
Na tentativa de aproveitar uma espécie de "lua de mel" com o Congresso Nacional, passou a dormir tarde e a acordar cedo, transformando o Palácio do Jaburu em uma espécie de quartel-general das negociações políticas.
No dia da aprovação da meta fiscal, por exemplo, acompanhou a votação até as 5h e já estava de pé às 8h.
Em paralelo à agenda oficial, divulgada publicamente, tem cumprido uma agenda secreta de jantares e cafés da manhã com deputados e senadores no Jaburu.
Dentro de sua equipe, assessores defendem o estilo de idas e vindas do chefe neste um mês de governo dizendo que "o ônus das críticas" será recompensado pelo "bônus das aprovações de medidas dentro do Congresso".
Um amigo destaca que a interinidade impõe "certos limites" na atuação do peemedebista. Segundo ele, é algo parecido como andar em areia movediça, cada passo tem de ser muito pensado.
Promete, porém, que Michel Temer será outro quando e se o Senado aprovar o impeachment da presidente Dilma Rousseff. Será, segundo ele, "um novo governo".
Governo Temer - linha do tempo
Maio
11 de maio - Após votação no Senado, Dilma Rousseff é afastada
12 de maio - O vice-presidente Michel Temer assume como presidente interino, reduz número de ministérios e nomeia equipe de ministros, todos homens e, em sua maioria, parlamentares.
12 de maio - Durante discurso, Temer engasga e mudança de voz vira piada na internet. Interino lembra de placa em posto na Castello Branco que diz "Não pense em crise, trabalhe"
12 de maio - A nova gestão adota logotipo com os dizeres "Ordem e Progresso" e apenas 22 estrelas representando os Estados, 5 a menos do que a bandeira brasileira
12 de maio - Na primeira entrevista internacional como interino, Temer confunde o jornalista argentino com o presidente Maurício Macri
13 de maio - O ministro da Fazenda Henrique Meirelles admite recriar CPMF, gerando reclamaçõs de parte da base aliada e empresários
16 de maio - O novo ministro da Justiça e Cidadania sugere, em entrevista à Folha, que presidente não escolha o mais votado de lista tríplice para Procuradoria-Geral da República e é desautorizado por Temer
16 de maio - Imprensa descobre que autor de frase "Não pense em crise, trabalhe" citado por Temer em discurso, está preso por homicídio
17 de maio - Ministro da Saúde diz que SUS (Sistema Único de Saúde) precisa ser reduzido e é forçado por Temer a voltar atrás
17 de maio - Temer escolhe André Moura (PSC-SE), aliado de Cunha e alvo da Lava Jato, para ser líder do governo na Câmara
18 de maio - Após recusas de mulheres, Temer escolhe Marcelo Calero para secretaria da Cultura
19 de maio - Artistas fazem série de protestos e ocupações contra extinção do Ministério da Cultura
20 de maio - Governo passa a prever meta fiscal de R$ 170,5 bilhões, R$ 66 bilhões maior do que o previsto pela equipe de Dilma
21 de maio - Sob pressão, Temer recua e recria Ministério da Cultura
23 de maio - Em gravação revelada pela Folha, ministro Romero Jucá sugere que havia um pacto entre políticos para deter Lava Jato e pede exoneração no dia seguinte: "Tem que estancar essa sangria", disse Jucá
24 de maio - Temer propõe teto de gastos para União. Durante discurso, interino bate na mesa e diz que "sabe governar". "Já tratei com bandidos"
29 de maio - Em gravação, ministro da Transparência, Fabiano Silveira, critica Lava Jato. No dia seguinte, ele pede exoneração –foi a segunda queda de um ministro em 19 dias de governo
Junho
1º de junho - Com aval de Temer, Câmara aprova criação de 14 mil cargos públicos
1º de junho - Temer indica ex-deputada Fátima Pelaes, que é contra a legalização do aborto, para Secretaria de Políticas para mulheres. Ela é suspeita de desviar dinheiro de emendas parlamentares
3 de junho - Temer limita voos e corta até gastos com comida da presidente afastada Dilma Rousseff
3 de junho - Em entrevista à Folha, que seria publicada três dias depois, o ministro da Casa Civil, Eliseu Padilha, afirma que quem estiver envolvido na Lava Jato sairá do governo
4 de junho - Sérgio Machado, ex-presidente da Transpetro, diz em delação que pagou R$ 70 milhões em propinas para Renan Calheiros, Romero Jucá e José Sarney
5 de junho - O procurador-geral da República, Rodrigo Janot, afirma ao STF que o ministro Henrique Eduardo Alves (Turismo) se beneficiou do petrolão; Temer decide mantê-lo
6 de junho - Governo recua e diz que não aceitará criação dos 14 mil cargos públicos
7 de junho - Janot pede prisão de Renan Calheiros, Romero Jucá, José Sarney e Eduardo Cunha, acusando-os de obstruir a Lava Jato
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