- Folha de S. Paulo
Presidente aprova projetos no piloto automático, mas terreno ainda é instável
Há dois dias, Jair Bolsonaro chamou Rodrigo Maia de “meu irmão” e disse que os parlamentares estão voltados “realmente para o interesse popular”. Nem parecia o presidente que estimulou manifestações contra o Congresso e, meses atrás, reclamava que “alguns não querem largar a velha política”.
O Planalto continua abusando de erros de articulação, mas conseguiu aprovar projetos relevantes nas últimas semanas, como se algum botão de piloto automático estivesse ligado. Embora não esteja mais em guerra aberta com deputados e senadores, o governo ainda se movimenta sobre um terreno instável.
Bolsonaro conseguiu evitar um colapso político prematuro com a aprovação das duas primeiras medidas provisórias significativas de seu mandato. Houve ranger de dentes, mas o Congresso finalmente deuaval para a reorganização de ministérios e para o pente-fino que o governo quer fazer em benefícios do INSS.
O presidente manteve a promessa de não distribuir cargos de primeiro escalão em troca de votos no Legislativo. Sob essa perspectiva, os últimos resultados poderiam dar a impressão de que Bolsonaro descobriu a governabilidade a custo zero. Não é bem assim.
As negociações continuam ocorrendo por baixo dos panos. O Planalto subiu para R$ 20 milhões por ano a oferta de emendas para os deputados, pois sabe que as próximas batalhas, como a reforma da Previdência, não serão tão fáceis.
Alguns congressistas mais ariscos realmente retraíram suas garras diante da tentativa do governo de mobilizar as ruas contra o Parlamento, mas é uma ilusão a crença de que passarão a carimbar todas as propostas de interesse do Executivo.
Sem um projeto nítido, Bolsonaro fica sujeito aos humores de cada semana. O modelo pode dar algum alívio ao presidente, mas deixa o Planalto vulnerável a sacudidas em sua estrutura. Como os tremores, em geral, são provocados por gente que está dentro do prédio, há sempre chances de desmoronamento.
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