- Folha de S. Paulo
Bolsonaro extrapola os limites ao defender sevícias como método de disciplina
Como em tantas outras ocasiões, na terça (8) Bolsonaro encerrou uma entrevista por não ter gostado de uma pergunta que lhe foi feita. "Parem de perguntar besteira", disse.
O comportamento em si, pela reiteração, já não surpreende ninguém, mas desta vez algo chamou a atenção. A "besteira" a que ele se referia era um documento do Ministério Público Federal sobre denúncias de tortura em presídios do Pará.
Baseado em fotos e vídeos, além de depoimentos de ex-detentos, parentes dos presos, funcionários do sistema carcerário e representantes da Ordem dos Advogados do Brasil, o relatório se alonga por 158 páginas.
Aponta práticas como empalamento com cabo de espingarda, perfuração dos pés com pregos, espancamento, uso reiterado de balas de borracha ou spray de pimenta e disparos de arma de fogo. Na ala feminina, mulheres nuas ou em peças íntimas teriam sido obrigadas a se sentarem sobre um formigueiro.
Besteira?
Os agentes acusados integram a força-tarefa enviada pelo governo federal no fim de julho para controlar rebeliões nas penitenciárias. Respondem ao Ministério da Justiça, sob comando de Sergio Moro. Confrontado com a denúncia, o ex-juiz não se saiu melhor que o presidente.
Sem nenhuma base, questionou a veracidade das informações apresentadas pelo MPF e afirmou que a "intervenção levou disciplina para dentro dos presídios".
Detonar o mensageiro tem sido uma constante entre bolsonaristas. Os jornalistas sabem muito bem disso, pois sofrem ataques sempre que publicam notícias desfavoráveis ao governo. O próprio presidente lidera o movimento, talvez confundindo o papel da mídia independente com o de uma assessoria de comunicação.
Reclamar da imprensa, no entanto, faz parte do jogo democrático. O que extrapola limites é tentar calar jornalistas, procurar sufocar os veículos para os quais trabalham, chamar tortura de "besteira" ou defender sevícias como método de disciplina.
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