Espertalhões preferem deixar no abandono tudo o que importa
Se o historiador Carlo Ginzburg tem razão, e a vergonha coletiva pode funcionar como uma forma de identidade nacional, podemos nos identificar como brasileiros se nos unirmos na consciência do vexame. Fomos capazes de construir uma capital em cinco anos, no meio do nada, mas não fomos minimamente capazes de educar nossos cidadãos em cinco séculos, no meio de tudo. E esse tudo em cujo meio vivemos é uma natureza deslumbrante, recursos que estamos destruindo de todas as maneiras. Contra a razão e a Ciência.
Qualquer criança pode ver isso. Ainda estes dias, a pirralhinha sueca Greta Thunberg, vergonhosamente desprezada pelo nosso presidente, deu mais uma lição a ser incorporada a nosso processo educativo — se conseguirmos. Recebeu um prêmio internacional e nos doou dinheiro, como forma concreta de colaborar com um fundo para proteger nossas florestas. E assim defender nossos rios, nosso regime de chuvas, nossos campos e o clima que garante tudo isso.
Mas escolhemos seguir adiante, entre disparada do desmatamento, queimadas, garimpos ilegais, invasões de reservas, rompimento de barragens, lançamento de dejetos tóxicos nos rios, contaminação do solo, poluição do mar, destruição de sistemas lagunares e manguezais, ocupação de encostas, construções clandestinas, troca do Camboatá por autódromo. Quanto à educação, os espertalhões preferem deixar no abandono tudo o que importa — como vimos agora na discussão do Fundeb. Se o Congresso e a sociedade civil não estivessem atentos, a votação seria adiada até caducar. Ou o fundo incorporaria truques variados — pagamento de inativos, previsão para assistência social, desvio de remuneração de professores para empreiteiros. Perfeito para negar a Ciência e garantir o obscurantismo. Passa boi, passa boiada.
Se temos vergonha das prioridades que não enfrentamos, é hora de aumentar a pressão na questão ambiental e no desenvolvimento sustentável. Verdes e unidos pelo planeta — temos de conseguir. Antes que seja tarde demais.
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